Dr. Joaquim Moreira da Fonseca

 

A castidade masculina

 

 

 

 

 

 

 

 

Conferência proferida no Congresso da Mocidade Católica de São Paulo, 14 de setembro de 1928

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Medalhão comemorativo do Congresso da Mocidade Católica, realizado em São Paulo (setembro de 1928), e do qual participara o então jovem Plinio Corrêa de Oliveira

A tese que me foi designada para expor neste Congresso da Mocidade Católica, que se está realizando com tanto esplendor e eficiência nesta grande cidade de São Paulo, abrange um assunto assaz delicado para ser estudado, em público, de um modo mais explícito.

Contudo, esforçar-me-ei em explaná-la dentro das normas da prudência, procurando o mais possível tratar da importante questão nos seus pontos capitais e deixando entrever o meu pensamento em tudo que uma exposição mais clara, em palavras, possa ofender as regras da conveniência.

Desejara que, neste momento, o eleito da mansidão e da delicadeza, São Francisco de Sales, me concedesse uma parcela de suas privilegiadas qualidades de espírito para que, como ele, tratando do problema da castidade, lograsse me fazer compreender perante uma seleta assembleia como esta, sem prejuízo da exposição do assunto e, ao mesmo tempo, sem que a própria virtude, que procuro exaltar, se entristecesse com as minhas expressões.

Que a Virgem Imaculada, nossa Mãe Castíssima, faça com que a minha língua, falando de tão sublime virtude, seja qual “cinamomo e bálsamo espalhando perfumes e qual mirra escolhida dando cheiro de santidade”!

O problema da castidade tem sido objeto de inúmeros trabalhos publicados por moralistas e cientistas, constituindo o seu estudo uma predileção para os que tanto se interessam com o futuro da humanidade.

Base divina

Estabelecido por ordem divina, na lei mosaica, o mandamento “guardarás castidade”, seria supérfluo que algo se dissesse ou escrevesse proclamando a sua possibilidade e exigência, já que ao próprio Deus Onipotente aprouve, na sua infinita sabedoria, determinar esta obrigação, imposta a todos os homens, ninguém dela estando dispensado.

E mais ainda, Jesus, respondendo ao jovem que O interrogou sobre a salvação, disse: “Os mandamentos são: guardarás castidade, não cobiçarás a mulher de teu próximo etc.” Aí está a sanção do Decálogo na lei nova.

Neste particular, a Igreja Católica, como única e verdadeira Igreja, não tem outro papel senão ser a intrépida guardiã, assim como a intérprete autêntica desta lei divina!

A castidade, pois, se impõe ao gênero humano como uma lei natural, visto como Deus não poderia exigir de sua criatura o cumprimento de um dever que fosse contrário à natureza desta mesma criatura.

“O motivo fundamental da castidade é, protegendo o indivíduo, salvaguardar o plano de Deus pela multiplicação da raça humana. Ela salvaguarda, também, pelo mesmo motivo, a instituição da família, a qual tem igual fim. Salvaguarda, ainda, a dignidade humana, porque impede que a nossa alma seja escrava do corpo e da mais tirana das paixões. Salvaguarda, finalmente, a nossa nobreza de cristãos, evitando a nossa traição ao sangue de Jesus, pelo qual fomos remidos”.

Continência, castidade e pureza são graus diferentes de uma mesma virtude. A continência eleva o homem, a castidade o nobilita e a pureza o sublima, colocando-o ao lado de Deus, no dizer do Espírito Santo.

Limitação do assunto

Nesta minha modesta conferência cogitarei, apenas, do estudo da castidade de um modo geral, procurando mostrar o seu grande valor, a sua inconteste possibilidade e mesmo necessidade, os seus consoladores e salutares benefícios, os meios de conservá-la ou de readquiri-la, assim como apontarei as funestas consequências da falta de castidade e demonstrarei a inexistência dos pretensos malefícios de sua prática.

A castidade e as Sagradas Escrituras

A virtude da castidade, tão celebrada pelas Sagradas Escrituras, tão elogiada pelos Doutores da Igreja, tão aconselhada pelos moralistas, tão respeitada pelos cultores das ciências e mais do que tudo isto, tão querida e apreciada por Deus, constitui a vida, o vigor e a beleza da alma. É o Espírito Santo quem o afirma que “nenhum tesouro vale uma alma pura”. Diz o livro da Sabedoria: “Oh! Como é formosa a geração dos castos, no esplendor da virtude! Imortal é a sua memória, porque tanto é honrada diante de Deus, como dos homens. Enquanto está presente faz-se amar e imitar e quando se retira, provoca saudade; mas, ela triunfa por toda a eternidade, coroada com o prêmio dos seus combates sem mácula”. E continua o Provérbio: “Aquele que ama a nobreza do coração tem por amigo o Rei”, isto é, ao altíssimo, ao Onipotente.

Opinião dos Padres da Igreja

Tertuliano, louvando a castidade, assim se expressa: “Ela é o centro luminoso de toda a virtude moral, o decoro dos corpos, o ornamento das gerações. É o arrimo de toda santidade; ela prepara o terreno de todo o bem espiritual”.

A castidade é a fonte de todas as outras virtudes e faz com que o homem, física e intelectualmente, se ponha ao serviço de um bem superior, mediante o domínio enérgico e constante dos instintos, segundo a razão.

O jovem para se conservar casto requer, sem dúvida, força de vontade, pois são sem número as ocasiões que se apresentam arrastando-o para o mal. Já São João Crisóstomo, na sua bela linguagem, assim exclamava: “Conheço a dificuldade em ser casto, conheço a veemência destes combates, conheço a importância desta guerra! Faz-se preciso um espírito corajoso e forte, um espírito que aborreça o que é vil. Trata-se de passar por cima de carvões em brasa sem se queimar; passar por entre espadas sem se vulnerar; porquanto a força da sensualidade não é menor que a do fogo e do ferro. Não estando, pois, a alma de tal modo premunida, que saiba tudo sofrer, até mesmo tormentos, em breve perecerá. Por isso, necessitamos de um sentido sempre vigilante, de grande persistência, de fortes muros, fechados a ferrolhos, de guardas sempre acordados e robustos, mas, sobretudo, de sentimentos celestes; pois, como canta o salmista ´se o Senhor não guardar a cidade, em vão se desvelará quem a guarda`.

Só pode ser casto aquele que, resoluto, se aparta de tudo o que tem relação com as inclinações baixas e sensuais da sua natureza animal; aquele que, obedecendo ao preceito divino, sabe subordinar a carne ao espírito; enfim que se esforça, sem intermitência, em subtrair a imaginação e a memória, o pensar e o querer, os sentidos e todo seu corpo às solicitações e ao império da concupiscência.

Os Santos Padres enaltecendo a virtude da castidade chamam-na: “a flor da religião, a riqueza da Igreja, a honra da natureza humana, o caráter que consagra a mais ilustre porção do rebanho de Jesus Cristo. Com ela a consciência está em paz, o espírito se sente esclarecido, a serenidade brilha na fisionomia, a alegria está na alma, a morte é tranquila e a bem-aventurança está segura...

Feliz o que te possui; ditoso o que, para te conservar, se impõe aos sacrifícios que pedes, porque, depois de trabalhos momentâneos, gozará em ti delícias que não findam”.

Pela força de vontade que manifesta e pelos sacrifícios que requer, a virtude da castidade vale pelo melhor elogio que se possa fazer a quem a pratica, pois demonstra perfeitamente que o espírito impera sobre as vis paixões, não medindo esforços por um ideal superior que, infelizmente, nem todos compreendem ou sabem devidamente apreciar. Se por alguns pode ser esta virtude motivo de mofa ou ser considerada como um exagero de consciência, o certo é que, via de regra, o jovem casto, quando sabe se impor, exerce uma benéfica influência sobre os seus companheiros, que nele não podem deixar de reconhecer as suas peregrinas qualidades de caráter e de coração.

São Luís Gonzaga

A castidade e os Santos

Se mais ainda precisasse eu exaltar a preciosidade e o valor da castidade, bastaria lembrar que os santos que mais de perto mereceram a preferência divina foram aqueles que souberam conservar o seu coração casto e a sua alma pura. Sem falar da Virgem Imaculada, Mãe puríssima do próprio Deus Humanado, a qual reunia em Si todas as virtudes, sublimadas no mais alto grau de perfeição, basta citar São José, o esposo castíssimo de Maria Santíssima; São João Evangelista, o casto, e por isso amado com predileção por Jesus; São Luís de Gonzaga, o anjo da carne entre as delícias da corte; S. Estanislau Kostka, São João Berchmans e tantos outros que tão bem souberam amar e praticar esta estimável virtude, a qual, elevando o homem acima das contingências de sua natureza animal às regiões celestes, aproxima-o dos Anjos, e mais ainda, como disse o próprio Jesus Cristo: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus!”.

Teses de doutoramento em Medicina

Da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro diversas teses de doutoramento têm sido defendidas, e aprovadas com distinção, as quais proclamam ser possível e aconselhável, e mesmo necessária, a castidade até a época do matrimônio.

Assim o distinto Dr. Mario Alcantara de Vilhena que escreveu seu trabalho inaugural de formatura sobre “A continência e seu fator eugênico”, o qual mereceu ser coroado com a nota de distinção e laureado pela douta Congregação da Faculdade de Medicina do Rio com o prêmio Miguel Pereira.

Outra tese de valor, também do Rio, é a do Dr. Licinio Ribeiro Dias, a qual versa sobre “A continência como fonte de energia”.

Da Faculdade de Medicina de Porto Alegre saiu, em 1919, uma bela tese de doutoramento, aprovada com distinção e intitulada “Possibilidade e dever da castidade antes do matrimônio”, de autoria do Dr. Irineu Torres de Vasconcellos.

Seria enfadonho citar eu, agora, a lista interminável de valiosos trabalhos nacionais e estrangeiros que, de sobejo, apregoam as excelências da castidade; mas não me posso furtar de vos lembrar duas magníficas memórias a respeito. A tese da Faculdade de Medicina de Toulouse, do Dr. Escande, sobre “O problema da castidade masculina sob o ponto de vista científico” e o livro do Revmo. Padre Silva Gonçalves, de Portugal, “Lutas do espírito e da carne”, publicado em comemoração do centenário de São Luís de Gonzaga.

Opiniões de valor

Ainda recentemente, não há talvez um mês, o ilustrado e respeitoso professor de pediatria Dr. Olintho de Oliveira, cuja competência científica todos reconhecem, produziu na Liga de Higiene Mental, do Rio de Janeiro, uma magnífica e documentada conferência, exaltando o valor, a possibilidade e a necessidade fisiológica e moral da castidade entre os jovens até o momento do matrimônio, disto advindo os maiores benefícios para o corpo e para o espírito do indivíduo e futuramente para seus descendentes.

Mozart, em 1831, aos 25 anos de idade, escrevendo a seu pai afirmava: “A natureza fala em mim tão fortemente como nos outros... e, contudo, não posso pautar a minha conduta pela de tantos moços de minha idade. Por um lado, tenho um espírito muito sinceramente religioso, sou por demais honesto, amo bastante ao próximo para me resolver a enganar alguma inocente criatura. Por outro lado, minha saúde me é muito preciosa para que eu a arrisque desta maneira ilegítima. Assim, posso jurar diante de Deus que, até hoje, não me tenho de penitenciar de nenhuma queda”. Que belo exemplo para a nossa juventude, que hoje não compreende esses ideais!

Victor Hugo, em 1820, em véspera de casamento, em carta dirigida à sua noiva, deixa palpitar o seu puro sentimento com as seguintes palavras: “É o ardente desejo de me tornar digno de ti, que me faz severo com os meus defeitos. Devo-te tudo e apraz-me repeti-lo. Se me conservei, até hoje, puro dos desregramentos a que se entregam meus companheiros e que o mundo tão facilmente desculpa, não é por me terem faltado ocasiões, mas porque a lembrança de ti me protegeu. Assim, graças a ti, conservei intactos os únicos bens que, hoje, posso oferecer-te: um corpo puro e um coração virgem”. Quantos dos nossos noivos poderão assinar estas delicadas expressões de idealismo?!

O grande professor Calmette, na Academia de Medicina de Paris e subdiretor do Instituto Pasteur, de Paris, assim termina uma palestra que fez para seus jovens patrícios: “Livrai-vos, pois, jovens amigos, de vos deixar prender como passarinhos sem defesa nas malhas que, certamente, armarão ao redor de vós aqueles e aquelas que vivem da libertinagem e do vício. Não deis ouvidos a estes maus conselhos. Fugi dos companheiros que se comprazem em frequentar os lugares indignos e que se glorificam de sua precoce perversidade. Conservai, alegremente, como o mais precioso de vossos bens, o respeito a vós mesmos, o respeito de vossos pais, a quem deveis tudo; conservai a castidade e a saúde de vosso corpo. Evitai as manchas indeléveis e degradantes da concupiscência. E se um dia vos virdes tentado a cair em falta, elevai, desde logo, o vosso pensamento ao ideal de verdade, de beleza e de bondade que cada um de vós deve possuir, para servir ao mesmo tempo de modelo e de fim à vossa vida. Imaginai na Pátria que, amanhã mais do que nunca, terá necessidade que vós lhe deis numerosos filhos, vigorosos e sãos. Chegará o dia feliz em que estareis em situação de formar família; reservai, pois, a vossa bela juventude intacta para aquela a quem vós associareis a vossa vida, os vossos pensamentos e as vossas alegrias”. Magnífica página esta na qual tão eloquente hino se canta à castidade do jovem, sendo de lastimar, apenas, que o seu ilustrado autor não tivesse a devida coragem de proferir o nome de Deus.

O clero católico

Sobre a possibilidade da castidade, fala ainda suficientemente a favor o clero católico, que não medindo sacrifícios, calcando aos pés as inclinações más da carne, sabe praticar em alto grau esta virtude que sobremodo o eleva à consideração de seus semelhantes.

A castidade é necessária

Além de possível, a castidade torna-se principalmente para a juventude necessária; pois, o exercício de determinadas funções sem que o organismo tenha chegado ao seu completo desenvolvimento provoca neste mesmo organismo perturbações tais, cujas funestas consequências, fatalmente, o indivíduo sofrerá mais tarde.

Estes distúrbios, dependentes do exercício prematuro de dadas funções, se fazem sentir de preferência sobre o sistema nervoso, via de regra, no da vida vegetativa, assim como sobre as glândulas endocrínicas, de tão importante papel sobre todo o organismo.

Escande, no seu magnífico trabalho, afirma que nada é mais nefasto ao desenvolvimento normal do indivíduo e à vitalidade dos seus futuros descendentes que o exercício prematuro da função genésica.

As estatísticas demonstram um aumento de mortalidade dos homens quando casados antes dos 21 anos, assim como os seus filhos são muitas vezes franzinos e raquíticos.

É sabido que no período da puberdade o organismo sofre grandes modificações e o adolescente tem imprescindível necessidade de todas as suas forças vitais, até que se estabeleça definitivamente a sua nova natureza; pois, além disso, nesta época, observa-se uma diminuição na resistência às diferentes doenças.

Durante este longo trabalho de crescimento geral, de evolução orgânica, com as diversas modificações físicas e psíquicas, em seguida às quais o menino torna-se adolescente e este passa a homem, há, sem dúvida, um extraordinário esforço da natureza; e nesse momento todo o desperdício é perigoso, e muito principalmente o exercício prematuro de determinadas funções.

Impõe-se, pois, ao jovem permanecer casto, como uma necessidade orgânica, de graves desvantagens, quando não respeitada.

Firmado ser possível a castidade, assim como a sua necessidade à juventude, encarando o problema sob o ponto de vista científico, desejo, agora, apreciar convosco os consoladores e salutares benefícios de sua prática, e bem assim analisar as funestas consequências da falta desta virtude e os pretensos malefícios de seu exercício.

Benefícios da castidade

A castidade traz consigo o vigor do espírito, a firmeza da vontade, a luz da inteligência, a boa saúde, o amor ao trabalho e a longevidade.

Na fisionomia do jovem casto reina uma santa alegria, o seu olhar tem algo de mais nobre, a sua consciência goza de agradável paz e o seu ideal não rasteja pela terra nem mergulha no lodaçal do vício, mas sim paira em regiões mais elevadas e alcança a esfera dos Anjos.

A respeito destas diversas faces por que se pode encarar a importante questão da castidade, recordarei, apenas, algumas poucas opiniões que pelo valor científico dos que a emitiram emprestam-lhes uma grande autoridade.

Como pensam preclaros mestres da medicina

O grande neurologista alemão Gower declara: “Com toda força de meus conhecimentos, da autoridade de minha experiência, sustento e afirmo que não existe homem algum, nem jamais houve, que no grau mais insignificante, haja sofrido por guardar a castidade ou haja melhorado de algum padecimento por deixar de observá-la”.

Scott, grande médico norte-americano, mostra-se muito entusiasta da castidade, não admitindo sequer que haja duas opiniões diferentes a respeito.

Sir James Paget escreveu: “A castidade não é nociva nem ao corpo, nem à alma. Sua disciplina é preferível a qualquer outra... Nada é mais funesto à longevidade, nem diminui tão certamente o vigor da vida, nem favorece tanto o esgotamento como a falta de castidade na juventude”.

Sir Leonel Beale, emérito professor de anatomia patológica da Universidade de Londres, tem as seguintes palavras: “Não é demais sempre repetir que a abstinência e a pureza mais absolutas são perfeitamente compatíveis com as leis fisiológicas e morais e que a satisfação de certas inclinações não encontra a sua justificativa nem na fisiologia, nem na psicologia, como também nem na moral e nem na religião”.

Montegazza, professor de antropologia diz: “Nunca vi uma só doença produzida unicamente pela castidade. Todos os homens, e particularmente os jovens, podem experimentar os beneficios imediatos da castidade. A memória é rápida e persistente, o pensamento vivo e fértil, a vontade enérgica e o caráter firme”.

Napheis exclama: “Condenamos energicamente como doutrina assaz perniciosa, firmada para servir o mal e encorajar o vício, a teoria que acredita haver um prejuízo qualquer no celibato castamente observado. Nenhuma condição de vida é mais completamente de acordo com o vigor físico e mental como a continência absoluta”.

Perier, de Paris, assim se exprime: “É uma ideia singularmente falsa e que é preciso combater, porque ela reside não só no espírito dos adolescentes, mas ainda no dos próprios pais, a ponto de os autorizar tomar parte na má conduta

de seus filhos: é a ideia dos perigos imagináveis de uma continência absoluta. A virgindade dos jovens é uma salvaguarda física, moral e intelectual”.

Julien de Paris: “Foram definitivamente enterradas as famosas doenças da continência. A pureza jamais fez mal a ninguém; ela conserva os seres sãos, cheios de vigor, aos quais o casamento prodigalizará suas doces alegrias”.

Surbled, que tanto se tem dedicado ao estudo deste importante problema da castidade masculina, afirma: “O celibato não é nem impossível, nem perigoso. Os males da incontinência são conhecidos, incontestes, ao passo que os que são provocados pela castidade são supostos e imaginários”.

Dubreuilh, professor da Faculdade de Medicina de Bordeaux: “A continência absoluta e prolongada dos jovens não oferece nenhum inconveniente sério; ela é possível e é mais frequente do que se pensa... sendo relativamente fácil por aquele que, por outro motivo, se convenceu que ela é possível”.

Opinião de 200 notabilidades médicas

Ludwig Jacobsohn, de S. Petersburgo, escreveu a mais de 200 notabilidades médicas russas e alemãs, professores de Fisiologia, Neurologia e Psiquiatria, etc., perguntando-lhes se consideravam a castidade inofensiva. A grande maioria dos sábios consultados confirmou a inofensividade da abstinência; apenas 39, sendo 11 russos e 28 alemães, apresentaram dúvidas, sendo que destes, quatro declaravam não ter experiência a respeito da questão. Portanto mais de 80% destas valiosas opiniões era favorável à castidade.

Médicos e professores de Nova York

Os médicos dos hospitais e os professores da Faculdade de Medicina de Nova York, unanimemente proclamaram: “Verificando a extensão dos sofrimentos, as doenças físicas, os resultados de uma deplorável hereditariedade e o mal moral, inseparáveis a uma vida impura, nós nos unimos para declarar que a castidade – isto é, uma vida pura e continente para ambos os sexos – é conforme às melhores condições de saúde física, moral e mental”.

A esta mesma conclusão chegou a “Sociedade alemã para a luta contra as doenças venéreas”.

Faculdade de Medicina de Christiania

A Faculdade de Medicina da Universidade de Christiania, na Noruega, teve ensejo de publicar esta magnífica declaração, que tanto realce dá aos que a assinaram: “A asserção feita recentemente por diversas pessoas e repetidas pelos jornais e nas assembleias públicas, que uma vida moralizada e uma continência perfeita são maléficas para a saúde, é absolutamente falsa segundo a nossa experiência, o que afirmamos unanimemente; nós não conhecemos nenhum caso de moléstia e nenhuma espécie de prejuízo que possamos atribuir a uma conduta perfeitamente pura e moralizada”.

Conferência Internacional de Profilaxia Sanitária e Moral

Em 1902, reuniu-se em Bruxelas, pela segunda vez, a Conferência Internacional de Profilaxia Sanitária e Moral, a qual aprovou, por unanimidade, o seguinte voto:

“É preciso ensinar à juventude masculina que não somente a castidade e a continência não são nocivas, mas ainda que estas virtudes são as mais recomendáveis sob o ponto de vista simplesmente médico e higiênico”. Assinaram esta bela proposição todos os representantes das 14 nações reunidas em congresso e que eram: Alemanha, Bélgica, Brasil, Bulgária, Chile, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Noruega, Holanda, România, Rússia e Suíça. Ali figuraram notabilidades como Lassar, Wolf, Neisser, Gailleton, Landouzy, Pawloff, sendo nosso delegado o saudoso patrício e médico Dr. Bruno Chaves.

Outras muitas opiniões de real valor

Ainda podia citar-vos uma lista interminável de autoridades médicas estrangeiras e nacionais, que opinam favoravelmente à prática da castidade na juventude. Assim Acton, Oesterlen, Mac Hendrick, Sonderegger, Francheschini, Valery-Havard, Ribbing, Hufeland, Kraft-Ebing, Ricord, Friedel, Isch Wali, Francotte, Morache, Le Veziel, Fonsegrives, Feré, Dubois, Polin, Jablonski, De Backer, Goy, Rraoault, Eesquier, Forel, Ppieczinska, Hherzen, Toulouse, Queyrat, Ggood, Krappelin, Cramer, Gartner, Graffky, Finkler, Selenew, Sefer, Gruber, Guilles de la Tourette, Eulemburg, Stumpell, Hensen, Rumpf, Leyden, Weber, Orloro, Barbier, Gemelli, Antonelli,  e entre os nossos os professores Henrique Tanner, Austregesilo, Hilario de Gouvêa, Afranio Peixoto, Nascimento Silva, Augusto Paulino, Faustino Espozel, Figueiredo Baena e o grande professor e clínico desta cidade Dr. Celestino Bourrour.

Que mais precisamos para que a tese da castidade masculina encontre no campo da ciência o melhor apoio e a sua maior documentação? Os nomes citados e as opiniões emitidas representam, sem dúvida, uma barreira intransponível aos ataques daqueles que ainda pretendem combater a possibilidade e as vantagens desta grande virtude.

Monsenhor Gibergues

Diz Monsenhor Gibergues, Bispo de Valence, “que se apresentasse um caso excepcional, no qual a castidade pudesse trazer algum inconveniente para a saúde, esta virtude não diminuía o seu valor como lei divina. A pátria tem o direito, em caso de guerra, de enviar um homem, seja um marido ou talvez um pai, até à fronteira e de lhe pedir o sacrifício da vida. E Deus não terá o direito, se Ele assim o julgar, em certos casos extremamente excepcionais, de impor o sacrifício de energias e da própria saúde!”

Longevidade dos castos

Sobre a longevidade dos castos, as estatísticas falam de sobejo de um modo convincente. Bertillon, na França, apurou que a carreira sacerdotal ocupava o primeiro lugar sob o ponto de vista de longevidade.

Casper, de Berlin, chegou igualmente à mesma conclusão e a afirma que os padres católicos são os que mais frequentemente atingem aos 70 anos, elevando-se a sua proporção a 42% dos sacerdotes.

Na França, em dois decênios (1823-1843) morreram 750 padres católicos na diocese de Paris. Destes, somente 200 não chegaram aos 60 anos, 354 faleceram entre 60 e 70 anos, 149 alcançaram mais de 70 anos e 77 viveram acima de 80 anos.

A castidade e a eugenia

Na laureada tese do Dr. Mario Alcantara de Vilhena sobre “A continência e seu fator eugênico” este assunto foi magistralmente tratado, ficando demonstrado à evidência que a castidade favorece a eugenia, que é a ciência que visa o aperfeiçoamento da raça humana quer no ponto de vista físico, quer mental.

Malefícios da impureza

Se o jovem não observar as regras impostas pela virtude da castidade, depressa advirão as piores consequências, surgindo as ruínas do espírito, da vontade, do caráter, do coração, do corpo, da saúde, da felicidade pessoal, da família, da futura esposa e da futura prole, da sociedade e da Pátria e mais do que tudo isto, perderá o direito à morada celeste por toda a eternidade. Estas são as terríveis desvantagens da impureza. A mocidade deve sempre estar lembrada sentença de Ovídio: “Principiis obsta, sero medicina paratur”. Impede o mal desde o princípio, porque depois será tarde.

O jovem após a primeira queda vai, geralmente, de precipício em precipício, acaba perdendo o respeito a si próprio, a honra de sua família, a clara compreensão do que é justo, belo e bom, perde a fé, invade-o o ceticismo e se torna incapaz de qualquer esforço maior.

É, sem dúvida, mais fácil fugir às tentações contra a castidade, que curar os seus maus resultados depois de perdê-la.

Já S. Paulo escrevia aos coríntios: “O homem animalizado não entende aquelas coisas que são do espírito de Deus, porque lhe parecem uma loucura”, assim como sentenciavam os Provérbios: “O homem seguirá na velhice o caminho por onde enveredar na mocidade”.

Esta frase desastrada “de que é preciso gozar a mocidade” tem sido a desgraça de tantos jovens, que choram amargamente os seus desvarios, mas então será tarde para afastar as nefastas consequências.

O jovem que se entrega ao vício da corrupção depressa vê o seu organismo minado, emagrece, torna-se pálido, fatiga-se com facilidade, vê-se possuído de irresistível preguiça física e intelectual, esfalfa-o a insônia, a memória se apaga, a atenção diminui, estiola-se a vontade, o nervosismo o consome, a timidez o retrai e o indiferentismo dele se apodera. Posso dar testemunho que minha clínica são frequentes os casos de neurastenia, que têm como causa, mais ou menos remota, uma vida viciada na adolescência.

Cônego José Tibúrcio

Escreve o Cônego José Tibúrcio, da Bahia: “Quantas inteligências amesquinhadas, forças quebrantadas sob a escravidão da incontinência! Ah! Destruiu-as a impureza como o sopro quente do simum desseca as vicejantes folhagens nos oásis! E aquela alma de artista, aquele talento florido, perdeu-se para a ciência, para as artes e para a pátria, sob a ação destruidora e enervante da concupiscência!”

Padre Antônio Vieira

O Padre Antônio Vieira assim descreve o impudico: “Cego para não ver o que lhe convém, surdo para não ouvir os ditames da verdade; pródigo no pedir, insensível no dever e insaciável no gastar sem conta, sem peso nem medida; com tanta publicidade nos vícios como se fossem virtudes; sem reverência de Deus, nem respeito do mundo, nem pejo de si mesmo, nos anos mais que da mocidade desbaratou a fazenda, a saúde, a honra e a vida”.

Lacordaire

Lacordaire, com a sua bela linguagem, pinta nitidamente o retrato do jovem entregue às paixões: “Não tendes encontrado esses homens que, na flor da idade, apenas distinguidos com os sinais de virilidade, trazendo já a decadência do tempo; que, degenerados antes mesmo de atingirem o desenvolvimento completo do ser; a fronte cheia de precoces rugas, os olhos vagos e encovados, os lábios incapazes de manifestar a bondade, trazendo debaixo de si uma existência caduca? Quem fez tais cadáveres? Quem maltratou esta criança? Quem lhe tirou a frescura dos anos? Foi o sentido depravado, foi o sentido abjeto”.

Doenças oriundas da falta de castidade antes do matrimônio

Ainda vos poderia falar das horrendas desvantagens e indescritíveis malefícios da falta de castidade, tais como aqueles que se referem a doenças oriundas da prática da incontinência fora do matrimônio. Estas funestas consequências não só se manifestam no próprio indivíduo culpado, como também, após o casamento, na esposa vilipendiada, mais ainda nos futuros filhos, que na sua inocência acarretem os distúrbios dos desvarios paternos.

É a infecção luética provocando as miocardites, as artrites, os aneurismas, as nefrites, as endocrinopatias, as cirroses, as hemorragias cerebrais e consequentes paralisias, a tabes, a paralisia geral e outras manifestações de loucura!

São outras infecções venéreas corroendo o organismo em quase todos os seus departamentos e trazendo perturbações muito graves.

Consequências funestas sobre a família

Como é doloroso verem esposas sofrendo as funestas consequências da corrupção do marido, que na mocidade não soube fugir de uma vida viciada, e se afogou no oceano das paixões!

Não param, porém, aí os desgraçados efeitos de uma juventude mal compreendida. São os filhos que nascem com o selo da hereditariedade doentia; é a hidrocefalia, é a idiotia, é o defeito físico e depois o infantilismo, a epilepsia, enfim tantas outras enfermidades, que maltratam e infelicitam a vida destas vítimas sem culpa!

O indivíduo, a esposa, os filhos e demais descendentes, a sociedade, a pátria e a humanidade sofrem os resultados da claudicação de caráter e de força de vontade de uma pessoa que, entregando-se a vis prazeres, efêmeros, determinou uma sequência de horrores.

Pretensos malefícios da castidade

Com relação a pretensos malefícios provocados pela prática temporária até o casamento ou mesmo a vida inteira da castidade, eles não resistem a uma crítica mais severa, com verdadeiro espírito científico.

É irrisório declarar que a continência determina nervosismo, neurastenia, melancolia, fenômenos de excitação cerebral, a loucura, a nevrose da angustia, a histeria, a imbecilidade e tantas outras moléstias. Escande, em documentado trabalho, declara que não há uma só doença devida à prática da castidade, o que posso, pela minha experiência afirmar que merece plena confirmação.

Como conservar a castidade

Como conservar a castidade e como readquiri-la?

Não se pode negar o importante papel exercido pela educação no lar, no seio da família, por intermédio dos pais. Capital influência cabe também ao confessor, o qual mais intimamente pode observar o jovem e aconselhá-lo no sacramento da penitência. Ao médico da família está igualmente reservado o mais benéfico influxo sobre a sã orientação moral que se deva dar aos jovens entregues aos seus cuidados profissionais. Mas, acima de tudo, está a graça divina, que dá a força necessária ao jovem para resistir às tentações do mundo, do diabo e da carne.

A oração, a devoção à Virgem Imaculada e aos santos protetores desta virtude, a visita ao Santíssimo Sacramento e principalmente a Primeira Comunhão precoce, a comunhão frequente constituem a alavanca poderosa que consegue vencer as maiores dificuldades e oferecendo os mais estupendos resultados.

É como bem disse Salomão no livro da Sabedoria: “E porque eu sabia que de outro modo não me era possível ter continência, se Deus não me desse, dirigi-me com súplicas ao Senhor e clamei-Lhe de meu coração”.

Conselhos úteis

Ao lado destes fatores de ordem espiritual e sobrenatural, alguns conselhos devem ser dados aos moços, atinentes ao exercício da virtude da castidade. Fugir das más companhias e das más leituras; evitar o teatro e o cinema maus; afastar-se dos bailes e principalmente das danças modernas; abolir as bebidas alcoólicas e todos os demais tóxicos; ter sobriedade na comida; sono moderado; exercícios e fadigas corporais regrados; defesa da imaginação; cultivo progressivo e constante da vontade; guardar, com o maior cuidado, todos os sentidos e muito especialmente os olhos.

Como derivativo são aconselháveis os desportes: o futebol, a natação, o tênis, as excursões e tantos outros.

Ponto importante

Convém que o jovem aceite “a priori” um princípio, qual seja o da possibilidade e das vantagens da castidade, porque isto será meio caminho andado; depois, é preciso que saiba querer e por fim exerça a virtude da castidade não sob a impressão de um verdadeiro pesadelo ou de um fantasma, mas naturalmente como sendo, e como de fato é, um procedimento normal e necessário ao homem.

Sociedades moralizadoras

Diversas sociedades têm sido fundadas com o nobre fim de provocar o saneamento moral dos homens. Sem dúvida, tais iniciativas merecem [serem] elogiadas e acatadas; mas, infelizmente, elas prescindem da maior fonte, do único fator donde brota todo o bem, toda a beleza, que é Deus. Assim a Liga de Higiene Mental, as Sociedades Eugênicas, as Ligas de Profilaxia Moral e Sanitária e tantas outras agremiações de fins, sem dúvida, meritórios.

Na Alemanha existe a “União para a proteção da juventude”, na Inglaterra e na Escandinávia a “Sociedade da Cruz Branca”, e na França a “Estrela Branca”, as quais têm por fim reunir os moços castos e pregar a virtude da pureza.

Associações católicas

O Brasil já possui, também, associações de jovens, onde a castidade construiu a sua tenda e exerce a sua benéfica influência. Assim a União Católica Brasileira no Rio de Janeiro, a União Católica de S. Agostinho em S. Paulo, as Uniões de Moços Católicos em Minas Gerais e em outros Estados, os Escoteiros católicos pelo Brasil inteiro e por fim estas joias preciosas que representam o escol da mocidade católica – as Congregações Marianas. Para essas agremiações é que os nossos jovens devem entrar, porque nelas encontrarão bons companheiros, abalizados diretores espirituais, salutares exemplos e um ideal superior.

A castidade e os nossos jovens intelectuais

Para vos demonstrar praticamente os benéficos resultados o exercício da castidade, basta que eu vos cite uma pequena série de fatos observados nas nossas escolas superiores do Rio de Janeiro. Assim é que a religião, a frequência dos sacramentos e portanto uma vida continente e casta, longe de afastar da ciência os nossos jovens, faz dela, pelo contrário, cultores dedicados e do maior merecimento pela competência que manifestam.

Na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, dez bacharelandos, todos católicos praticantes, conseguiram os primeiros prêmios, com medalha de ouro, por serem os melhores alunos das respectivas turmas.

Na Escola Politécnica, também do Rio de Janeiro, onde se distribuem duas medalhas de ouro, a Morsing para o curso geral e a Silva Jardim para o especial, nestes últimos anos, foram concedidas 16 vezes a católicos convictos e práticos.

Na Faculdade de Medicina, da Capital da República, numerosos são os doutorandos francamente católicos e que foram laureados pelas suas teses de formatura ou alcançaram o prêmio de viagem à Europa. Contam-se por mais de uma dúzia. Ainda o ano passado, na nossa Faculdade de Medicina, foram distribuídos 5 prêmios; pois bem, desses 4 foram obtidos por conselheiros da União Católica Brasileira e por membros das Congregações Marianas, assim como primeiro aluno da turma era também um católico praticante.

Isto vem confirmar o que já se havia observado nas grandes produções intelectuais: é que as obras de maior vulto são produzidas no interior dos claustros e pelos que cultivam a flor da castidade.

Mocidade do Rio de Janeiro

Ainda um fato recente, vem demonstrar exuberantemente que boa parte da nossa mocidade atual enveredou pelo caminho da prática da Religião, cumprindo os seus preceitos, frequentando os seus sacramentos. Na Vigília Eucarística da mocidade masculina, realizada na Matriz de Santa Ana, no Rio de Janeiro, na Semana da Adoração Perpétua ao Santíssimo Sacramento, cerca de mil e quinhentos jovens enchiam completamente o vasto templo e durante uma hora, prostrados, adoraram a Jesus-Hóstia!

Apelo final

Jovens brasileiros! Sede castos! Assim Deus ordena e o exige o vosso nome de cristãos! Sede castos! Porque disso advirão os maiores benefícios para vós mesmos, para a sociedade e para a Pátria! E assim confirmareis as gloriosas tradições da família brasileira!

Maria Imaculada!

Que Maria Imaculada, a excelsa padroeira da Terra de Santa Cruz, acolha e proteja, com particular carinho, toda a mocidade brasileira!

A.M.D.G.

DR. JOAQUIM MOREIRA DA FONSECALivre-docente e Assistente de Clínica Médica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Membro titular da Academia Nacional de Medicina, Presidente da “União Católica Brasileira”, Associação da Mocidade.

Off. Graf. Do “Centro da Boa Imprensa”, Rua Buenos Aires, 253, Rio de Janeiro, 1930.


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