Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Cerveja, Guaraná e Coca-Cola

 

 

 

Catolicismo, Fevereiro de 1999 (*)

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A cerveja é uma bebida de uma psicologia – se assim me é permitido exprimir – bem diferente da do refrigerante comum. Ela é varonil, é aprazível quanto à vista, tem um gosto que se afirma, apresenta variedades agradáveis e quase incontáveis.

Entretanto, essa bebida oferece certo inconveniente: convida de algum modo para o alcoolismo; mas esse problema não reside tanto na cerveja quanto em seu consumidor.

Devido à sua natureza, tal bebida é mais saborosa quando servida gelada. Por isso, independentemente do intuito de refrescar-se, a maior parte das pessoas que a tomam preferem ingeri-la a uma temperatura baixa.

Nela observa-se qualquer coisa de um pouco plebeizante. Posso conceber perfeitamente uma pessoa de alta categoria que beba cerveja com bom gosto. Mas discerne-se na bebida um aspecto, mediante o qual o indivíduo sente a inclinação de bebê-la em certa quantidade, que não chega necessariamente até a embriaguês, mas que atinge os limites desta. A pessoa tende a gesticular muito, cantar alto, comer demais e fazer coisas do gênero, as quais revelam algo de desequilíbrio. E é preciso naturalmente considerar esse dado com atenção. 

 

Os refrigerantes não alcoólicos têm, por sua vez, uma variedade incontável.

No refrigerante, podemos distinguir dois aspectos: primeiro‚ o gosto intrínseco da matéria prima da qual ele é produzido; o segundo consiste no deleite que a refrigeração produz. Esses dois aspectos produzem efeitos diversos sobre o homem, sendo necessário fazer a distinção.

Nos antigos refrigerantes, que se generalizaram nas primeiras décadas deste século, preponderava o gosto, a delectação do sabor da matéria prima empregada para sua elaboração.

Um desses refrigerantes é o Guaraná. O guaraná é uma planta nativa da Amazônia. Com o pó proveniente do fruto dessa planta, produz-se uma bebida de cor dourada, com espuma branca, gaseificada – todos os refrigerantes dessa época já eram gaseificados –, o que concorria para tal refrigerante alcançar enorme sucesso. Com duas modalidades distintas: o Guaraná Espumante e o Guaraná Champagne.

O Espumante era doce e espumava de fato. O Champagne exibia uma espuma muito mais discreta, semelhante à da bebida alcoólica denominada Champagne. Como a Champagne atingira naquele tempo o auge da moda, o Guaraná Champagne criava a ilusão: quem o bebia estava tomando algo parecido com a famosa Champagne, alcançando, em vista disso, muita difusão.

 

 

Entretanto, o triunfo dos refrigerantes foi atingido quando surgiu a Coca-Cola. É preciso dizer que tomei apenas uns dois ou três goles de Coca-Cola e desde logo não gostei. Notei algo de deformante do bom gosto. Naturalmente, ela exigia ser servida em temperaturas polares...

A Coca-Cola penetrou em todos os ambientes. Com facilidade, com naturalidade foi ocupando todos os lugares. Enfim, a Coca-Cola conquistou o mundo.

Esse refrigerante beneficiou-se de uma associação de imagens.

Quando entrou o período Coca-Cola, Hollywood estava na baixa e o cinema europeu começava a alcançar um prestígio que não desfrutara anteriormente. Em outros termos, o monopólio do cinema vinha escapando dos Estados Unidos por causa da alta qualidade técnica, artística e de enredos mais filosofados, mais trabalhados, produzidos pelo cinema europeu.

A Coca-Cola, entretanto, continuou a representar o que poderíamos chamar a bebida simbólica do hollywoodismo. Hollywood não morrera; os grandes dias da Hollywood - da decadente Hollywood - o indivíduo ainda podia percebê-los no paladar, tomando Coca-Cola...

Pareceu-me muito interessante, algum tempo atrás, a mudança do formato da garrafa da Coca-Cola. Pensei: “Virá um tipo de garrafa que deverá ser mais revolucionário e todo o mundo vai aplaudir”.

Houve, pelo contrário, como que uma contra-revolução na Coca-Cola. Causa desse recuo: a indignação. Torrentes de cartas de consumidores de toda a ordem exigiram que a empresa Coca-Cola reformulasse o gênero de garrafa. Voltou-se então ao tipo antigo, o qual, que eu saiba, ainda permanece em uso... 


(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da TFP, em 24 de janeiro de 1995. Sem revisão do autor.


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