Plinio Corrêa de Oliveira

 

Nascimento da Ordem

dos Mercedários

 

"Santo do Dia", 24 de setembro de 1965

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Hoje é festa de Nossa Senhora das Mercês, e nós temos duas fichas que se completam a esse respeito.

A primeira é "As Ordens resgatadoras" de D. Guéranger:

A diferença da Ordem da Santíssima Trindade, que a precedeu de vinte anos...

Quer dizer, uma outra Ordem de resgate de cativos presos pelos mouros.

...a Ordem da Mercê fundada, por assim dizer, em pleno campo de batalha contra os mouros, contou mais cavaleiros do que clérigos em sua origem.

Quer dizer, mais guerreiros do que sacerdotes concorreram para a fundação dessa Ordem.

Ela foi nomeada Ordem Real, Militar e Religiosa de Nossa Senhora da Mercê para a redenção dos cativos. Seus clérigos se entregavam mais especialmente ao ofício do coro nos conventos; os cavaleiros vigiavam as costas e se desempenhavam da missão perigosa do resgate dos prisioneiros cristãos.

Francisco de Zurbarán (1598–1664)  - Visão de São Pedro Nolasco - 1629 - Museu do Prado - Madrid

Os senhores estão vendo que bonito equilíbrio de coisas. Quer dizer, o clérigo é feito sobretudo para rezar pelos cavaleiros. Naturalmente, tinha alguns outros serviços espirituais. Mas a principal idéia era a de rezar pelos cavaleiros.

Então eles rezavam no ofício divino. E os cavaleiros lutavam, aproveitando assim as orações e os méritos acumulados pelos clérigos para eles.

Essa é uma idéia que sempre me foi muitíssimo simpática. Quer dizer, a idéia de que uma verdadeira Ordem religiosa tivesse um ramo puramente contemplativo a rezar e a expiar por aqueles que se consagram à ação, e dar assim à ação uma fecundidade especial. Sempre fui muitíssimo admirador de uma idéia assim.

Agora continua:

São Pedro Nolasco, que foi o primeiro comendador geral ou Grão Mestre da Ordem, por ocasião do encontro de seus preciosos restos, foi ainda encontrado na sepultura armado de couraça e de espada.

Os senhores vejam que coisa linda, o primeiro geral dessa Ordem, um guerreiro leigo, que vai para a sepultura com a couraça e a espada de sua batalha, disposto a assim aparecer diante do julgamento de Deus. Isso é uma verdadeira maravilha, a idéia do guerreiro católico.

Que linda relíquia isso seria, se nós pudéssemos ter para nossa capela a couraça e a espada de São Pedro Nolasco. Ou, digamos uma que tivesse tocada, uma cópia fiel que tivesse tocada e fosse relíquia indireta já seria uma verdadeira maravilha.

Há uns dados complementares sobre a Ordem das Mercês e que são esses:

A Igreja instituiu a festa de Nossa Senhora das Mercês por causa da Ordem religiosa fundada a conselho de Nossa Senhora para resgate dos cativo.

Estando os cristão escravizados pelos mouros na Espanha, parece que Deus compadeceu-se daqueles infelizes, expostos a perder a fé e a inocência e sujeitos a toda espécie de maus tratos.

Os senhores sabem que os cristãos que eram aprisionados pelos mouros eram reduzidos à condição de escravos, e naturalmente não tinham socorro religioso nenhum.

Os senhores podem imaginar [n]uma terra de mouraria, de imoralidade, de promiscuidade, o desespero de um homem desses que cometesse um pecado e que não tivesse padre para se confessar?

"Tenho ou não tenho atrição? Minha atrição não perdoa o meu pecado, terei um padre para me perdoar esse pecado na hora de minha morte? Como é que vai ser isso?"

Os senhores podem imaginar toda a aflição que isso deveria trazer e as quedas que isso deveria trazer.

Depois a coisa pavorosa é que os pagãos antigos, abusando do poder que tinham sobre os escravos, praticavam com os escravos toda espécie de imoralidades, de maneira que eles ficavam expostos às piores coisas.

A compaixão cristã se concentrou sobre eles e daí, sob a indicação de Nossa Senhora, a fundação de uma Ordem religiosa especialmente para isso.

Então, depois de São Pedro Nolasco, São Raimundo de Peñaforte e Jaime I, rei de Aragão, verificaram que cada um tinha tido a mesma visão...

Vejam que coisa linda! São sempre as coisa poéticas de Nossa Senhora. Nossa Senhora aparecendo ao rei de Aragão, aparecendo a um pensador, como era São Raimundo de Peñaforte e a um guerreiro como São Pedro Nolasco, e aos três recomendou a mesma coisa. Eles se encontram: "Olha, eu tive... Olha, eu também tive etc. Está bom. Então vamos fundar a Ordem, nascida diretamente do sorriso de Nossa Senhora."

Quer dizer, uma verdadeira maravilha, não é?

Então, não duvidaram mais e resolveram fundar a Ordem a que dão o nome de Ordem de Nossa Senhora das Mercês para resgate dos cativos.

Eu já comentei o ano passado, mas não posso deixar de insistir nisso: Nossa Senhora das Mercês ─ mercê é uma graças é um favor ─ é Nossa Senhora dos favores.

A Igreja não tem invocações suficientes para nos inculcar a idéia dessa liberalidade de Nossa Senhora, disposta a todo momento a nos dar coisas boas, a nos dar coisas excelentes, e a nos convidar por aí a pedir essas coisas e a amar a Nossa Senhora por Ela ser tão boa assim.

Então, aqui mais uma vez essa invocação fica para abrir nossa alma a esse tipo de relação muito filial e muito confiante com Nossa Senhora, que esses guerreiros julgaram essencial ter.

Os senhores então vêem bem que embora a "heresia branca" (*) tenha uma porção de coisas risonhas e abobadas, de fato não é nem um pouco "heresia branca" a gente se confiar ao sorriso de Nossa Senhora, e ter para com a misericórdia risonha, sorridente de Nossa Senhora, uma confiança toda especial.

Não eram "heresia branca" nenhum desses santos. E menos do que os outros ainda seria difícil vê-lo em São Pedro Nolasco, guerreiro que vai para a sepultura com sua couraça e sua espada.

Assim fica essa indicação para hoje.


(*) Com a expressão "heresia branca", o Prof. Plinio designa uma atitude sentimental que se manifesta sobretudo em certo tipo de piedade adocicada e uma posição doutrinal relativista que procura justificar-se sob o pretexto de uma pretensa "caridade" para com o próximo.


Home