Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

O Soleil Royal, galeão de Luís XIV: palácio flutuante, triunfo da graça e da elegância nos mares

 

 

 

Catolicismo, Nº 662 - Fevereiro de 2006 (*)

  Bookmark and Share

Este é um navio francês do Ancien Régime – le Soleil Royal (Sol Real), um galeão luiscatorziano lindíssimo, elegantíssimo, com grandes velas, verdadeiro palácio esculpido em madeira para singrar os mares, um Versalhes ambulante, um Grand Trianon flutuante.

Imaginemos essa embarcação de manhãzinha, no porto de Brest ou do Havre, no meio das brumas. A tripulação entra e começam os preparativos para a partida. Em determinado momento, ouve-se uma música. Na proa do navio, os homens tiram os tricórnios (chapéus com três pontas) com plumas; e as senhoras, usando saias-balão, fazem grandes saudações. Aqueles que estão no cais respondem do mesmo modo. Depois, adeuses com lenços delicados, e o navio vai afastando-se, mas em terra ainda se ouve algo da música que a bordo se toca.

 

Rei Luís XIV (* 5-09-1638 + 1-09-1715). Seu pai, Luís XIII, fez uma promessa especial a Nossa Senhora de Loreto no sentido de que se sua esposa (Ana d´Áustria), após cerca de 20 anos sem ter filhos, desse à luz um Delfim, ofertaria àquele Santuário na Itália um conjunto escultural de um Anjo em prata maciça tendo em uma bandeja um menino de puro ouro, com o peso com o qual nascesse a criança. E, efetivamente, obteve esta graça e cumpriu sua promessa.

O Soleil Royal entra no alto mar, até perder-se completamente no horizonte de um dia calmo, esplendoroso. No mar plácido, o Royal Soleil constitui uma espécie de triunfo da graça, da elegância, cortando os obstáculos e as ondas. É a força do homem dominando os mares, como Luís XIV reinava sobre a França.

Vemos nisso uma atmosfera de vitória. É a graça e a elegância dominando a técnica, e quase disfarçando-a, mas apoiando-se nela para vencer o mar – esse elemento indômito – e afirmar a sabedoria do homem.

No tombadilho, pode-se imaginar a presença de pessoas solenes, elegantes. Por exemplo, um duque que virá a ser governador do Canadá, que passeia empunhando uma bengala com castão de marfim. Caminha olhando para o mar, aspira uma pitada de rapé, e depois observa uma gaivota. Uma corte de admiradores o circunda, ele é dentro do Royal Soleil o que o galeão é nos mares. São círculos concêntricos de brilho, de dominação e ordem.

O Soleil Royal, flutuando sobre a incerteza das ondas e dos abismos marítimos, afirma a superioridade do espírito sobre a matéria. O homem pequenino, do ponto de vista material, encontrou assim na sua alma um modo de vencer a matéria. Quanto a alma é mais do que o corpo! Quanto o espiritual supera imensamente o material! Quanto o que é eterno vale mais do que o contingente! E quanto, portanto, é apropriada a evocação de Deus pairando sobre o caos primitivo – dominando o universo como o Soleil Royal subjuga os mares – pondo tudo em ordem, e diante do qual nada resiste. Todas as desordens se aniquilam, se dissolvem, e se estabelece a ordem pelo império da vontade divina.

(*) Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plinio, em 19 de agosto 1973. Sem revisão do autor.


ROI campagne pubblicitarie