Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

O Tratado com Moscou e a

missão histórica da Alemanha

 

 

 

"Catolicismo" n.º 258, junho de 1972

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O PROF. Plinio Corrêa de Oliveira concedeu à agência telegráfica alemã DPA uma entrevista sobre a conjuntura política da Alemanha. Assim se exprimiu o Presidente do Conselho Nacional da TFP:

"Sei - como todo mundo sabe pelos telegramas das agências internacionais - que o povo alemão acompanha com o mais vivo interesse os debates parlamentares concernentes à ratificação do tratado assinado em Moscou pelo Sr. Willy Brandt. Este interesse prova que os alemães estão cônscios da alta importância que o assunto tem para o futuro de seu pais.

Não sei, porém, se todos eles estão igualmente cônscios do alcance incalculável (e digo "incalculável" muito intencionalmente) de que este tema se reveste para o futuro do mundo. Em outros termos, todos os homens refletidos e lúcidos percebem que o fato mais doloroso da história alemã contemporânea - a ocupação de uma parte da Alemanha pelos comunistas - chamou o povo germânico a desempenhar hoje a mesma missão histórica que tantas vezes lhe coube no passado: de muralha da civilização cristã contra o perigo vindo do Leste. Eis o que faz com que toda a humanidade tenha novamente voltados os olhos para o que se passa na política alemã, e que expressões paradoxalmente simultâneas, de preocupação e esperança, encham esses olhos. Penso que é bom saberem disto os alemães.

E’ preciso que as coisas se digam com franqueza. Em face do perigo comunista, há no Ocidente três grandes correntes: a) os que desejam uma política de flexibilidade e força; b) os que desejam uma política de flexibilidade sem força; c) os que desejam a vitória do comunismo.

O mundo esperava que Nixon pertencesse à categoria a. Os fatos provam infelizmente que ele pertence à categoria b. Ora, a flexibilidade sem força é o começo do fim, quando se tem pela frente um inimigo tão implacável quanto o comunismo.

Parece que o tratado de Moscou se inspirou na mesma estratégia da flexibilidade sem força. A grande pergunta é se o Parlamento e o povo alemão aceitarão ou rejeitarão, não só esse acordo, como o principio estratégico que o inspirou.

- Se o tratado for aceito, a Alemanha entrará na via de capitulações sucessivas que o comunismo sempre impõe aos que se mostram ingênuos e fracos diante dele. A Rússia se tornará sempre mais dominadora, e por fim, para detê-la, o supremo remédio será uma catástrofe: a guerra!

Se, pelo contrário, a Alemanha recusar os termos atuais do tratado mostrando que ela não é só flexível, mas também forte, a Rússia se verá obrigada a andar com cautela. E será possível preservar a paz.

Mas, objetará alguém, abalado por oposições internas, o regime soviético não ousaria chegar até a guerra. A isto respondo que uma política de vitórias diplomáticas e eventualmente militares é por vezes o melhor meio de salvar regimes podres. Ademais, se a Rússia não tem força para chegar até à guerra, que sentido tem uma política de flexibilidade ante as injustiças dela?

Assim, todos os homens lúcidos - partidários da flexibilidade com força, e não com fraqueza - olham preocupados e esperançosos o povo alemão mais uma vez posto no centro da História.

Parece-me importante que tome noção dessa responsabilidade esse grande povo, que tanto estimo".

*    *    *

Do ponto de vista da federação Urais-Lisboa

A propósito das recentes consultas populares na França e no Estado alemão de Baden-Württemberg, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira formulou percucientes considerações em artigo para o matutino "O Jornal", do Rio. Transcrevemos o texto para conhecimento de nossos leitores:

"Se quisermos formar uma idéia exata do presente curso das coisas na França e na Alemanha, precisamos fazer abstração, até certo ponto, das piruetas e das contrapiruetas, tão contraditórias dos partidos de esquerda na França. Precisamos também não nos deixar impressionar pelos aspectos secundários - de natureza pessoal ou regional - da crise alemã. As linhas mestras dos acontecimentos mais facilmente se podem discernir se os olharmos do ponto de vista, indiscutivelmente mais amplo, dos entusiastas de uma federação européia dos Urais até os Pirineus, ou talvez até Lisboa.

O plebiscito francês e as eleições em Baden-Württemberg devem ter deixado singularmente desapontados os partidários dessa federação. Com efeito, para que tal federação venha a se constituir, é necessário, de início, aglutinar as nações européias em blocos de importância média, para numa segunda etapa fundir esses blocos num só todo. Nenhum outro caminho é viável. Pois se já é tão difícil ajustar num bloco a Europa dos Dez, é impossível pensar na formação direta da Pan-Europa sem nenhuma etapa intermediária.

O bloco do Leste já está formado. Nasceu das imposições soviéticas e das fraquezas ocidentais em Yalta. Trata-se agora da formação do outro bloco, o ocidental.

Cabia ao plebiscito francês encaminhar as coisas nesse rumo, mostrando o apoio popular dado à Europa dos Dez pela nação tida como a mais pan-europeísta. Caso a eleição de Baden-Württemberg provasse o apoio da opinião pública à política de Brandt, prepararia, por sua vez, a futura aproximação dos dois grandes blocos, o ocidental, em formação, e o do Leste.

Nos estritos termos do formalismo jurídico, dir-se-ia que o resultado do referendum francês favoreceu a futura federação européia, já que a maioria votou "sim". E em Baden-Württemberg, pelo contrário, a vitória da oposição representou um claro revés da Europa federal.

Mas salta aos olhos que também o resultado do plebiscito francês mostra nenhum entusiasmo da maioria dos eleitores - abstencionistas ou hostis - em relação à Europa dos Dez. E objetivos imensos como o da Pan-Europa não se podem alcançar com um governo eleitoralmente minoritário como o alemão, ou com maiorias reticentes como a francesa. Necessitam eles do apoio caloroso de fortes maiorias, ou do entusiasmo "místico" de pequenas minorias irresistíveis. Ora, com nada disto conta o pan-europeísmo, cujos melhores adeptos são frios utopistas de gabinete.

A Pan-Europa parece, pois, encalhada por muito tempo. E isto alegrou muitos observadores.

Argumentam estes que a História mostra que os Molochs jamais fizeram a felicidade de ninguém. Nem o faria este novo Moloch, tanto mais que nasceria do conúbio absurdo de dois mundos fundamentalmente heterogêneos, o nosso e o do comunismo. A mim me parece que eles têm razão..."


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