Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Passou o tempo das meias verdades

 

 

 

 

 

 

 

Diário Nacional, São Paulo, 16 de agosto de 1930

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A mocidade universitária católica vai lançar um manifesto explicando os fins da A.U. C. - Uma palestra com o presidente desta entidade católico-universitária

Está se esboçando em S. Paulo um sério movimento universitário-católico, fruto do apostolado de Jackson Figueiredo e dos intelectuais do Centro D. Vital, do Rio.

Já tivemos ocasião de noticiar os primeiros passos dados por uma plêiade de estudantes das diversas escolas superiores desta capital para a constituição da Ação Universitária Católica destinada a propugnar pela formação da consciência católica das novas gerações e com o fim imediato de combater a infiltração comunista na sociedade brasileira.

Anteontem foi distribuído, em todas as escolas superiores de São Paulo, um artigo-manifesto do presidente do Centro D. Vital, do Rio, sr. Tristão de Atahyde, o mentor da A.U.C.

Sabendo que os universitários católicos de S. Paulo vão também lançar um manifesto próprio, expondo aos demais estudantes, o significado da sua atitude perante a fé e perante a pátria, quisemos ouvir o presidente da A.U.C., bachalerando Plinio Corrêa de Oliveira, da Faculdade de Direito.

Na Faculdade de Direito, o acadêmico Plinio Corrêa de Oliveira discutia acaloradamente com um de seus colegas, num canto dos corredores das arcadas.

Terminada a discussão, aproximamo-nos do ardoroso “aucista” que nos disse,  depois de declinada a nossa condição de jornalista:

Um momento decisivo

- Vamos entrar num momento decisivo em matéria de princípios religiosos ou anti-religiosos. E não sou eu quem o anuncia. É o nosso mestre, Tristão de Atahyde, o substituto de Jackson Figueiredo no Centro D. Vital, do Rio.

E, dizendo isto, o bacharelando Plinio Corrêa deu-nos de presente um impresso que fora largamente distribuído na Faculdade e em outras escolas superiores.

- Este é o artigo com que Tristão de Atahyde chama a atenção da mocidade para a cruzada que vamos empreender.

Em resumo, o ilustre intelectual faz um retrospecto do estado de alma da sua geração, ou antes da mocidade universitária do seu tempo. Sem uma causa pela qual propugnasse a mocidade brasileira, vinha ela sendo dominada, há mais de melo século, por uma grande melancolia.

Onde quer que estivesse uma roda de moços – e isto não é raro ainda hoje. Wilde, Anatole France, Eça e tantos outros escritores brilhantes, mas dissolventes, tomavam também a sua palavra. Uma despreocupação absoluta pelo caráter, pelos problemas morais e religiosos.

Tristão de Atahyde, que viveu naquele tempo, sentindo tudo isto, aponta-nos agora os males que nos causaram estas atitudes displicentes e comodistas.

Acordamos agora dominados pela preguiça de tomar atitudes profundas e definitivas. É quanto nos diz nosso "condottiere":

- Passou o tempo das meias verdades. Hoje em dia precisamos temperar as nossas almas para a luz por vezes dolorosa, de tão intensa, das integrais, das verdades sem véus.

A transformação

Acentua em seguida, o presidente do “Centro D. Vital”, a diferença entre a geração atual e a do seu tempo.

Do indiferentismo de então passamos para o desejo de servir a uma causa em que está envolvido o próprio destino da nossa nacionalidade, ou, como diz Atahyde, ''o desejo de servir uma bela causa, a coragem de afirmar, o amor à ação direta e as realidades tangíveis.  Esta porém é a transformação preparatória, disse-nos o nosso  entrevistado. O vulto da nossa causa deduz-se do fato de ser o século XX o momento do duelo terrível entre o Vaticano e os sovietes, que, como ainda diz o nosso mentor - encarnam visivelmente, em face de nós, a lógica extrema do erro e a expressão  intangível da verdade, tal como a podemos conhecer em suas humanissimas imperfeições.

O combate ao comunismo

- Quer dizer que os “aucistas” vão combater mesmo o comunismo...

- Pode dizer pelo seu jornal: a A.U.C. tem em mira, principalmente, combater o comunismo. Nesse sentido vamos pugnar nas lutas políticas dentro de todos os grêmios universitários. E ninguém veja nisso uma ambição de mando nem exploração  do sentimento religioso. Estantes em frente de uma causa da Igreja. Não tomaríamos  atitude alguma, como católicos, diante de uma causa com finalidade simplesmente partidária. Mesmo em frente de uma causa patriótica, agiríamos simplesmente como cidadãos.

A organização da A.U.C.

A nossa organização é meramente universitária. Temos o apoio valioso dos catódicos, principalmente dos moços marianos, cujas sedes nos foram franqueadas. As nossas reuniões têm-se realizado na sede da Congregação Mariana de Santa Cecília, à rua Imaculada Conceição, 5.

A nossa organização consiste por enquanto, no seguinte: a A.U.C., antes de tudo, presta obediência ao sr. arcebispo metropolitano, pois tal é a regra de ação católica.

Nas diversas Escolas Superiores, foram escolhidos representantes nos diversos cursos. Assim, de momento, posso citar os seguintes da Faculdade de Medicina: Edgard Pinto de Sousa, Hugo Ribeiro de Almeida, Paulo de Castro, João Noel Von Sonlitener, Mario Altenfelder Silva, Sebastião Viera Franco, isto é, um para cada ano. Estes constituem o conselho consultivo da Faculdade de Medicina, onde conta a A.U.C. com valiosos elementos a começar pelo presidente do centro “Oswaldo Cruz”.

Na Politécnica são os seguintes os representantes da A.U.C.: - Adolpho Mello Junior e Guilherme Lyra, no primeiro ano. E nos demais cursos os estudantes Dacio Aguiar de Moraes Junior, Henrique Chabassus, Luiz Lins de Vasconcellos Netto, Archimedes de Barros Pimentel e Alberto Maricato.

Do Mackenzie só me ocorrem três que são os estudantes Celso Pedroso, Mario Calazans e Clovis Siqueira.

Sei que nesta escola há um bom núcleo de estudantes católicos, pois no Congresso da Mocidade Católica concorreram cem alunos dali.

Os da Faculdade de Direito são os seguintes:

Ângelo Simões de Arruda, Milton de Souza Meirelles, José Pedro Galvão de Souza, do primeiro ano. Walter Torres e Joaquim Paes de Barros Netto, do segundo ano. José Meyde L. e Henrique Brito Vianna, do terceiro ano. Ermelindo Maffei, do quarto; e finalmente, eu, do quinto ano.

A A.U.C. é dirigida por um conselho executivo, sob minha presidência, constituído pelos seguintes acadêmicos: Engenharia, Svend Kok e Telêmaco Langendonk.

Medicina, Arthur Wolfe e Pedro Moncón Junior. Mackenzie, Mario Calazans.

A divisão do trabalho

- O nosso campo de ação vai ser dividido por diversas turmas de rapazes. Um grupo tratará de colher documentos de propaganda comunista; outro se encarregará de trazer a público os intuitos de certas associações que por aí existem mascaradas para desviar a mocidade do catolicismo; outro especializar-se-á em estudos sobre o comunismo; outros em estudos eclesiásticos. Todos procurarão, enfim, exercer seu apostolado junto dos amigos. Estou certo de que há muitos moços que não são religiosos só porque não tiveram um amigo para os esclarecer no caminho da fé.

Um manifesto

Já está elaborado o manifesto que vamos lançar à mocidade universitária de S. Paulo.

Nele declaramos que somos católicos sem restrição e que, ao fundarmos a A.U.C. temos em vista afirmar, defender e atuar os nossos princípios em toda a sua plenitude.

Verberamos o comodismo religioso que faz que as nossas Faculdades não tenham uma personalidade espiritual coletiva e não manifestem nenhuma energia nova.

Isto tudo visto de longe apresenta-se-nos sob a forma de uma anarquia mental desoladora.

Uma conferencia de Tristão de Atahyde

- Em setembro, teremos aqui Tristão de Atahyde que pronunciará uma conferencia no Municipal, possivelmente. O ilustre pensador patrício vai ter ocasião de constatar a exatidão das suas observações em relação aos novos dias que vão surgir para a mocidade brasileira.


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