Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 20 de agosto de 1968

Das páginas da imprensa para as da História – II

Sobreveio pouco depois uma nova carta ao Cardeal Rossi, assinada por 40 arcebispos e bispos. Este terceiro documento é uma suma que cuida da maior parte dos fatores do imenso mal-estar que campeia nos ambientes religiosos nacionais. O autoritarismo de uma minoria de bispos – e dos respectivos técnicos – a impor soluções que a maioria da CNBB não deseja, o silêncio ante a maré montante da imoralidade moderna, a infiltração de idéias heterodoxas, as tendências subversivas, tudo enfim é exposto e analisado neste documento com uma dignidade e uma prudência que nem sequer os mais apaixonados podem negar.

Quem tem olhos para ver, bem percebe que os 40 valorosos prelados não estão sós, e que em largas fileiras do episcopado e do Clero seu pronunciamento causou a mais indisfarçável alegria.

Estava desfeita mais esta miragem progressista. A Igreja do Brasil não é, como se imaginava, o imenso navio passivamente conduzido para a esquerda pelo pequeno e dinâmico rebocador da minoria esquerdista.

Assim, nem na massa do país, nem em seu Clero e sua hierarquia, tinha o progressismo a popularidade avassaladora de que se gloriava.

Com isto, evitou-se para o país um imenso drama de consciência. "Não entendo mais nada", "estou ficando louco", eram expressões que em cada canto se ouviam, ou diante de inovações religiosas que iam muito além da linha do Concílio Vaticano II, ou diante de fatos escabrosos como o de uma Congregação de Religiosas que permitiu que suas freiras fossem fotografadas por uma revista de enorme tiragem, postas em "shorts" e avançadíssimos trajes de banho. Ou ainda, o do Boletim Telepax, publicado sob os auspícios da CNBB, em que no nº 125, o pe. Guido Logger, diretor da Central Católica e de Cinema, afirma textualmente: "Admito o palavrão no teatro, o nu no cinema e a cena de alcova, quando isto tem sentido dentro da obra, uma necessidade de dramaturgia interior, da caracterização psicológica do personagem ou de uma situação. Existe um erotismo sadio, limpo, no teatro e no cinema. O "eros" faz parte da vida do homem, e onde se dá um retrato do homem, o "eros" tem que aparecer, senão a "image" do homem, contemporâneo ou não, não seria completa. Seria mentirosa e menos convincente".

O que tanta boa gente "não entendia", não podia conceber, era que a Igreja inteira tivesse mudado de posição quanto a princípios morais até então proclamados eternos. Com a valorosa tomada de posição dos 40, a crise está conjurada. Há colunas em que apoiar-se. Há mestres em cujo ensinamento a luz imortal continua a fulgir, e que as trevas não conseguem circunscrever.

O que ainda estava faltando para tornar conhecida do público a verdadeira face do esquerdismo católico e a sua fraqueza, vários debates de televisão o fizeram, entre os quais se destacam os de d. Sigaud, no Rio, e o do ministro Passarinho com o arcebispo de João Pessoa, em São Paulo.

* * *

A par da crise de consciência referida, os 40 bispos afastaram o Brasil uma verdadeira hecatombe político-social. Se na reunião da CNBB tivessem vencido as tendências esquerdistas, e se, de outro lado, como nela se propôs, o Episcopado houvesse optado pela linha político-econômica do Sr. Celso Furtado contra a da Escola Superior de Guerra, teríamos caminhado para um conflito dramático entre as Forças Armadas e a Igreja. Conflito absurdo em si mesmo, já que, por suas respectivas missões, tudo convida a esta e àquelas à mútua harmonia e cooperação. Mas como de um absurdo todos os outros podem seguir-se, incontáveis brasileiros teriam sofrido, na eventualidade dessa crise, um reflexo de Pavlov: bons católicos, não poderiam aprovar qualquer violência contra a hierarquia; bons patriotas, não poderiam aplaudir a esquerdização do país nem apoiar a intervenção da Igreja em um terreno que se estende muito além das cogitações próprias ao poder espiritual. Esse conflito teria transformado o Brasil em um imenso e dramático Vietnã americano.

Mas, pelo voto de sua maioria, liderada por certo pelos beneméritos 40, a CNBB não só se recusou a rumar para o socialismo, como evitou judiciosamente tomar posição numa pendência em grande parte alheia a seu campo de ação. Estava mais uma vez posta a nu a fraqueza do progressismo. Estava poupada ao Brasil uma imensa hecatombe.

Estes são fatos memoráveis, que é preciso expor clara e concatenadamente nas páginas da imprensa, para que daí passem, de futuro, para as da História.


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