Folha de S. Paulo,
        22 de 
        agosto de 1971
        
        De 
        tudo um pouco
        
        Dada 
        a variedade de assuntos que estão a pedir comentário, adoto para hoje 
        uma forma de exposição diversa.
        
        * * *
        
        Tudo 
        quanto há de dúbio nas intenções dos comunistas a propósito da 
        "derrubada das barreiras ideológicas" ficou posto em chocante relevo com 
        um episódio imediatamente posterior ao encontro Lanusse-Allende em 
        Salta.
        
        Com 
        efeito, encerrado o encontro, o chanceler chileno, Clodomiro Almeyda, 
        seguiu ato contínuo para Cuba, onde participou das festas comemorativas 
        da vitória da revolução castrista. Nessa ocasião, os governos chileno e 
        cubano assinaram um comunicado conjunto em que afirmam a inspiração 
        fundamentalmente ideológica da política internacional que desejam 
        desenvolver de mãos dadas. Neste documento:
        
        1) 
        ambos os governos se prometem mútuo apoio na "luta comum contra o 
        imperialismo e pela construção do socialismo";
        
        2) o 
        governo do Chile promete solidariedade com "os esforços para atingir as 
        metas da revolução cubana". E o de Cuba manifesta "grande apreço pelo 
        processo revolucionário chileno";
        
        3) o 
        governo chileno afirma a necessidade da imediata suspensão do isolamento 
        de Cuba no sistema interamericano;
        
        4) os 
        governos de Santiago e de Havana ressaltam sua identidade de pontos de 
        vista a respeito dos direitos da China comunista na ONU, e da retirada 
        das forças americanas do Vietnã...
        
        * * *
        
        Se 
        isto não é política fundamentalmente ideológica, é o caso de dizer que 
        as palavras política e ideologia perderam seu sentido.
        
        Em 
        rigor de lógica, o fato deve ter causado funda decepção ao ilustre 
        presidente argentino. E talvez lhe tenha aberto os olhos para quanto 
        havia de patriótico e de lúcido na carta (que publiquei no artigo 
        anterior) a S. Excia. dirigida pela TFP do país irmão.
        
        A 
        esse propósito, tenho uma informação decepcionante para o leitor. 
        Publiquei — também no domingo passado — a bela missiva enviada pelo sr. 
        Velasco Ibarra, presidente do Equador, ao Comitê de Jovens Equatorianos 
        Pró-Civilização Cristã. Prometi, então, informar meus leitores sobre a 
        resposta que Lanusse enviasse à TFP platina. A Argentina é uma terra de 
        donaire, elegância e belos gestos. Eu estava no direito de esperar 
        também do tenente-general Lanusse uma atitude digna de registro. Pelo 
        contrário, da Casa Rosada veio, endereçada ao sr. Cosme Beccar Varela 
        (h), presidente da TFP portenha, apenas esta mensagem amável, banal, 
        esquiva e vazia, assinada pelo capitão de navio (R.E.) Cristián R. 
        Belaustegui, secretário privado do presidente da República: "Tenho o 
        prazer de me dirigir ao senhor, a fim de acusar recebimento da nota 
        dirigida ao Exmo. Sr. Presidente da Nação.
        
        "Sem 
        outro particular, aproveito o ensejo para lhe expressar a garantia de 
        minha maior distinção".
        
        * * *
        
        
        Convém relembrar, ainda, que Fidel Castro aproveitou as comemorações do 
        aniversário da revolução cubana — nas quais confessou mais um estrondoso 
        fracasso econômico — para elogiar a marcha da revolução no Chile, no 
        Peru, na Bolívia e no Uruguai. E para externar, especialmente quanto a 
        este último país, as suas esperanças de uma próxima vitória do 
        comunismo.
        
        Como 
        se vê, a "cruzada" atéia do grande comparsa de Allende continua com a 
        mesma intensidade.
        
        * * *
        
        É de 
        se lamentar, em conseqüência, que o senador Fulbright tenha resolvido 
        propor ao presidente Nixon o reconhecimento do regime de Castro, e o 
        reatamento das relações com Cuba.
        
        Dado 
        que a expansão ideológica do comunismo é ativamente impulsionada pelo 
        ditador barbudo, a política de indiferença à ideologia, proposta pelo 
        senador, só pode fazer o jogo do comunismo...
        
        * * *
        
        Os 
        próprios derrubadores das barreiras ideológicas serão tão a-ideológicos 
        quanto eles se presumem?
        
        A 
        este respeito, transcrevo com satisfação as palavras do insigne 
        economista alemão Ludwig Erhard. Encontrou-as um amigo meu, citadas em 
        artigo do sr. Vandick L. da Nóbrega, no "Globo" de 8-4-69: "Estão 
        enganados aqueles que pensam que um alto nível de vida é a melhor e 
        única defesa contra o comunismo. Quem somente acredita em valores 
        materiais está mais perto da doutrina comunista do que imagina ou 
        queira".
        
        * * *
        
        Bem 
        andou o governo espanhol em proibir a entrada, no país, dos integrantes 
        de um coral e corpo de balé da Rússia comunista, os quais, mediante 
        contrato assinado em Paris, deveriam se apresentar no próximo dia 25 em 
        Pamplona. As autoridades espanholas apuraram que aqueles conjuntos 
        artísticos são formados essencialmente por elementos ligados ao exército 
        soviético.
        
        Os 
        intuitos desta penetração camuflada de militares russos na Espanha são 
        óbvios.
        
        O 
        fato é ilustrativo para todos os países. Pois mostra quanto os 
        comunistas são propensos a utilizar missões artísticas, culturais, 
        técnicas ou outras qualquer, para fins de espionagem ou propaganda.
        
        * * *
        
        
        Parece-me digno de apoio o projeto de lei que pune com a pena de 
        confisco da terra o lavrador que cultive plantas das quais se possam 
        extrair substâncias entorpecentes.
        
        Não 
        se trata aí, de nenhum modo, de um atentado à propriedade privada, mas 
        de uma legítima punição ao proprietário que exerça seu direito em 
        detrimento da moral e do bem comum.
        
        * * *
        
        Toda 
        a minha adesão à providência dos responsáveis pela Basílica de São 
        Pedro, consistente em colocar ali uma religiosa, incumbida de impedir a 
        entrada de pessoas usando short ou mini-saias.
        
        Os 
        abusos neste sentido devem ter chegado a um grau terrível, já que a boa 
        freira chegou ficar doente de tanto trabalho.
        
        
        Entretanto, por mais que eu aprove a medida, uma perplexidade me fica no 
        espírito. E deixo aqui um apelo para que alguém consiga solucioná-la. Se 
        o uso de shorts e mini-saias é indigno da Basílica de São Pedro, 
        o é também, e por idênticas razões, de todas as igrejas e até das mais 
        modestas capelas do mundo.
        
        * * *
        
        A TFP 
        enviou o seguinte telegrama ao deputado José Bonifácio, Presidente da 
        Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, sobre um 
        projeto de lei instituindo o exame pré-nupcial obrigatório: "A Sociedade 
        Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade manifesta a V. 
        Excia. sua profunda apreensão pelo fato de ter sido aprovado por esta 
        DD. Comissão projeto de lei do deputado Alfeu Gasparini (ARENA-SP), 
        estabelecendo no país o exame pré-nupcial obrigatório. Tal medida, 
        atentadora da moral cristã e da tradição brasileira, acarretará grave 
        prejuízo para a instituição da família, fundamento sacrossanto da 
        nacionalidade."
        
        Em 
        resposta, o deputado José Bonifácio informou que a Comissão se definiu 
        pela constitucionalidade do projeto, porém contra o mérito do mesmo. A 
        TFP telegrafou em seguida a S. Excia. felicitando-o e à Comissão.