Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 30 de julho de 1972

Perón, esse Comblin 

Mais um leitor sul-americano me escreveu uma interessante carta concernente a comentários meus, publicados nesta folha, sobre acontecimentos políticos de nosso Continente.

 Desta vez, o missivista é o sr. Julio Ubbelohde, um dos diretores da brilhante e corajosa Sociedade Argentina de Defesa da Tradição, Família e Propriedade. O documento sobre Perón contido nessa missiva, é particularmente impressionante. Julgo, pois, necessário dá-lo ao conhecimento de nosso público, precedido dos comentários do missivista.

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“É-me muito grato dirigir-me ao sr. - tão conhecido por sua atitude firme contra as formas declaradas ou veladas da investida comunista em nosso Continente - para lhe dizer que estou plenamente de acordo com seus prognósticos no último artigo da “Folha de São Paulo”, acerca da política que Perón levará a cabo, se os “Kerenskys” de minha pátria lhe permitirem a volta ao poder.

“Antes de tudo, permito-me observar que já se confirmou o receio externado pelo sr., de que o gen. Lanusse viesse a suspender o bloqueio das contas bancárias da CGT argentina. O presidente da República já desbloqueou as referidas contas. Ademais, tenho em mãos um exemplar do grande diário portenho “La Nación”, de 26 do corrente, que informa haver sido tornada sem efeito a suspensão da personalidade gremial da CGT, decretada no dia 7 de julho. Assim, ficam removidos dois importantes obstáculos para que o peronismo possa atuar livremente em favor da candidatura do velho ditador aboletado em Madrid.

“Cabe-me acrescentar que a linha geral do pensamento do sr. sobre a ideologia de Perón encontra todo o apoio em taxativas declarações feitas por este último à revista madrilenha “Triunfo” em 9-5-70, e transcritas pela revista de Buenos Aires “Premissa”, em 16 de dezembro do mesmo ano. Reproduzo alguns trechos dessa entrevista:

 - Repórter: - Em Cuba, Fidel se apoiou em uma superpotência (a Rússia) para combater a outra. O sr. considera que esse recurso pode ser utilizado no caso de outros movimentos latino-americanos de libertação?

 - Perón. - Inteiramente, e talvez se em 1955 (ano em que Perón foi deposto), os russos estivessem em condições de nos apoiar, eu teria sido o primeiro Fidel Castro do Continente.

 - P. - Que saída o Sr. vê para a situação?

 - R. - Nenhum povo pode (...) entregar-se ao imperialismo. Libertar o país como fez Fidel, esta é a solução. Segundo penso, é o que estão para fazer o Peru e a Bolívia. Não sei em que condições, porém o vêm tentando.

 - P. - Então, por sua experiência de 1955 para cá, o Sr. conclui que a única forma de realizar a revolução argentina é por uma transformação violenta?

 - R. - Não há outro remédio. O que está entronizado é a violência, a qual só por outra violência pode ser destruída.

 - P. - Fidel destruiu as Forças Armadas do regime. O sr. o que faria?

 - R. - As Forças Armadas não me eram adversas, exceção feita de um pequeno setor delas. Se eu tivesse resolvido resistir, não teria encontrado obstáculos neste campo. Entretanto, eu teria que fuzilar uma quantidade de pessoas: teria que matar meio milhão de argentinos e destruir, em grande parte, muitas coisas do país. Não quis prestar-me a isto.  (...) Quem sabe se, hoje em dia, eu pensaria de outra maneira.

 - P. - Em tal caso, o que o Sr. teria feito?

 - R. - Ah! Se eu tivesse previsto o que ia acontecer, então sim; eu teria fuzilado meio milhão ou até um milhão de pessoas, se fosse necessário.

Talvez isto se produza agora. Pois, contra essa gente contumaz, virá um movimento revolucionário ou uma guerra civil. E então vai morrer esse milhão de pessoas.

 - P. - Hoje o Sr. está de acordo com o desaparecimento de certas estruturas que podem transformar-se em contra-revolucionárias (...) como, digamos, as Forças Armadas, a empresa livre, os partidos manejados pelos capitalistas?

 - R. - Sim, exatamente. Estou completamente de acordo. Tenho hoje a experiência. Eu assim procederia, não por opinião, mas por experiência, pois esta última é a parte mais efetiva da sabedoria.

 - P. - Também se fala de um reatamento unilateral de relações com Cuba.

 - R. - Quanto a Cuba, é necessário que se lhe resolva a situação. Cuba é um país que se libertou, e que teria que ingressar imediatamente na ordem continental dos países liberados, e não na dos países que se opõem à libertação.

 - P. - Um primeiro passo poderia ser o restabelecimento das relações econômicas?

 - R. - Toda espécie de relações com Cuba. Considero isso indispensável. - Por que havemos de continuar tratando como se fosse sarnento, um país que alcançou sua libertação? Na realidade, os sarnentos somos nós e não eles. A primeira medida que um país livre deve tomar em relação a Cuba consiste no restabelecimento de todas as relações, tanto econômicas quanto não econômicas.

“Como vê, Dr. Plinio, essas palavras provam, às escancaras, qual seja a mentalidade radicalmente esquerdista - para não dizer comunista - de Perón. Nada permite supor que no curto espaço de dois anos, essa mentalidade tenha sofrido uma mudança substancial. As declarações de Perón estão, aliás, em inteira consonância com a linha que ele adotou durante toda a sua vida pública. Talvez, entretanto, ele jamais as haja manifestado com tão rotunda desenvoltura.

“Acidentalmente me vem ao espírito um fato que, como argentino e católico, me preocupa. O novo chanceler de meu país, Sr. Mac Loughlin, em sua primeira declaração depois de empossado, insinuou que a Argentina talvez venha a reatar em breve suas relações com Cuba, unilateralmente, e sem embargo do que resolva a respeito a OEA.

“De tal maneira é verdade que o governo Lanusse - a despeito de pequenos desentendimentos de superfície - atua como genuíno vanguardeiro do peronismo”.

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A estas importantes informações do lúcido e valente diretor da TFP irmã, de minha parte só tenho uma observação a acrescentar. É a estranha analogia entre esse programa de Perón e o tristemente famoso Padre Comblin...


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