Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

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Folha de S. Paulo, 24 de dezembro de 1972 

Argumentos, esse presente de Natal... 

Para os entendidos, nunca foi mistério que o regime comunista é fonte de empobrecimento. O grande público do mundo ocidental, entretanto, não tinha sua atenção devidamente alertada para este ponto. E daí provinha um grave inconveniente. Em setores não pequenos do mundo livre encontravam certa audiência os verbosos demagogos que apregoavam o mito da abolição da propriedade privada como meio seguro para a eliminação da pobreza.

Felizmente, esse mito estourou no ano que vai findando. O primeiro prenúncio desse "estouro" surgiu, aliás, anteriormente a 1972, quando a grande imprensa internacional noticiou o insucesso da arrancada castrista para o aumento da produção açucareira em Cuba.

Tal foi, então, o malogro do barbudo ditador, que não houve meio senão registrá-lo, até nas numerosas folhas "sapas" , cuja leitura deleita a ala entreguista e tola da burguesia do Ocidente. Entretanto, Cuba é como uma gota do comunismo internacional separada por distâncias infindas do oceano vermelho e além cortina de ferro. - O malogro da economia comunista na "Pérola das Antilhas" resultaria mesmo do regime em si, ou apenas de circunstâncias locais?

- É o que se perguntava a "saparia", sempre propensa a interpretar com benevolência tudo quanto se relacione com o grande inimigo vermelho que a apavora e seduz.

Contudo, a venda que cobria muitos olhos caiu, no decurso de 1972. As "compras" de trigo feitas pela Rússia e pela China aos EUA indicaram a completa impotência do regime comunista para evitar o empobrecimento progressivo das imensas populações sobre as quais deitou suas garras de ferro. Escrevi "compras" – entre aspas – pois me recuso a ter como compras genuínas os fornecimentos fabulosos do precioso cereal, feitos pelos EUA aos seus inimigos de outrora – e grandes amigos de hoje – mediante condições de pagamento mal esclarecidas pela imprensa diária. Essas condições ficarão presumivelmente letra morta. – Pois se, por exemplo, a Rússia se negar futuramente ao pagamento de grande parte do preço tratado, o que farão os EUA? Promoverão uma guerra mundial para cobrar o débito? Logo eles que estão a pique de se curvar ante a pequena Cuba, para obter que esta cesse suas práticas de banditismo aeronáutico?

Mais perto de nós, o exemplo do Chile também é altamente concludente. Dele tanto me tenho ocupado, que me parece supérfluo relembrar-lhe aqui os pormenores trágicos.

O que é certo, indiscutível, solarmente claro, é que o comunismo, em lugar de diminuir o número dos pobres, transforma em pobres todos os habitantes de nações inteiras. A evidência deste fato para o grande público constitui o aspecto positivo deste torvo e tumultuoso ano de 1972, que os teve tantos negativos. Pois contra os pregoeiros do comunismo, qualquer um pode lançar em face a inconsistência da meta que adotam.

* * *

Mas um mito “sapo” continua de pé: é o mito sueco. Não faltam burgueses que se regalam em apontar a Suécia como o paraíso terreno. País "muito evoluído", segundo eles, que alia às práticas do mais cabal liberalismo político, um sistema social muito socializado e igualitário, o qual, entretanto, não chega a ser comunista!

Como se regalam os "sapos" em dizer que, em algum canto da terra, se efetiva assim seu mito de uma democracia politicamente liberal e sócio-economicamente autoritária!

Se se objetasse contra a autenticidade desse paraíso, que a imoralidade atingiu nele índices escandalosos - admite-se ali, por exemplo, o casamento entre pessoas do mesmo sexo - muitos "sapos" deslizariam sobre o argumento, sem com ele se impressionarem. É que no fundo da mentalidade "sapa" está a convicção de que os problemas morais são irrelevantes. Esteja bem organizada a economia, e o mundo será um paraíso. Quanto à moral - pensa muito "sapo"- ela mais pode servir de desmancha-prazeres do que esteio do grande festim demo-socialista dos seus sonhos.

Nisto se manifesta o subconsciente radicalmente ateu da "saparia". Pois não pode haver ordem humana verdadeira, nem estável, nem feliz, se a Providência de Deus não a proteger.

Ora, foi precisamente a homossexualidade a causa do castigo das cidades malditas de Sodoma e Gomorra. Deus fez de ambas claros exemplos, para prevenir em todos os tempos e lugares, contra a cólera de Deus, as nações em que este pecado, o qual - segundo ensina a Igreja - "brada ao Céu e clama por vingança", se transforma num hábito admitido por todos.

Mas a "saparia" não se preocupa muito com a Providência. Ela tem sua providência, com "p" minúsculo: o estado socialista. E assim, os argumentos de índole moral de pouco afetam os "sapos".

Isto me leva a oferecer aos meus leitores alguns dados que lhes facultem argumentar com a "saparia" no próprio reduto desta, ou seja, no campo sócio-econômico. Faço, assim, aos leitores, meu presente de Natal. Um argumento concludente vale incomparavelmente mais do que pão de mel ou um perfumado panettone, para aqueles que acima de tudo amam o reino de Deus e sua justiça.

Esse presente, torno-o extensivo, por meio de meus leitores, aos "sapos". Pois a verdade é o melhor presente para todos os homens... inclusive para os que a ignoram ou até lhe voltam as costas...

* * *

E vamos assim aos fatos.

Na "Review of the News", de 13-9-72, conhecido órgão norte americano, colho, para os meus leitores e para os "sapos", como lembrança de Natal, todo um buquê de dados ilustrativos sobre o paraíso sueco.

Antes de tudo cumpre notar que os impostos sobre as empresas são baixos, mas o imposto sobre a renda pessoal, bem como os outros impostos, diretos ou indiretos, são tão pesados, que 44% do Produto Nacional Bruto é absorvido pelo Estado. E como estes impostos, de um modo ou doutro, são proporcionalmente crescentes, torna-se para todo o mundo inútil trabalhar além de certo limite.

O resultado é que o Produto Nacional Bruto vai baixando progressivamente...

O Sr. William Frye, autor do artigo de que tiro estes dados, ilustra essa situação com alguns exemplos. Se um escritor independente consegue ganhar cerca de 24.000 dólares por ano, no décimo mês ele para de trabalhar, a fim de calcular se seus rendimentos nos dois meses seguintes vão ultrapassar o limite que o colocaria na categoria tributária imediatamente superior. Se ultrapassar, ele terá de pagar ao Estado nada menos que 75% dos ganhos excedentes. E, nesse caso, trabalhará para receber uma insignificância. De onde mais lhe convirá entregar-se ao ócio.

Uma secretária que ganha 8.000 dólares por ano receberá, pagos os impostos, 4.665 dólares líquidos. Além disso deverá pagar 17% do imposto de consumo sobre quase todas as mercadorias que adquirir. À medida que ela aumenta sua renda, trabalhando mais e melhor, irá pagando impostos crescentes. De onde ela se vê reduzida ao desestímulo de uma rotina em que se anula o melhor de sua capacidade de produção.

É claro que desse "paraíso" os capitais fogem espavoridos. Se a taxa de crescimento anual do país era de 1% na década de 60. Em 1970 caiu para zero. O ano de 1972 apresentou um aumento de 3,5% nessa taxa. Mas o significado desse fato está carunchado. Com efeito a lepra da inflação penetrou no "paraíso escandinavo", e nele vai aumentando todos os preços.

* * *

Assim, o socialismo amoral e "evoluído" da Suécia vai arrastando gradualmente para a pobreza aquele tão apregoado "paraíso".

E é natural. Se o comunismo produz a miséria, todo regime sócio-econômico será tanto mais depauperante quando mais se parecer com o comunismo.

Ora, o socialismo não é senão uma diluição do comunismo em marcha para a progressiva substituição de todas as características não comunistas por outras radicalmente comunistas.

Logo, se o socialismo não é diretamente a miséria, é a pobreza rumo à miséria.

Explique isto, meu leitor, a seus amigos "sapos". Repito: o Sr. lhes dará um esplêndido presente de Natal.

É sumamente provável que eles não lhe respondam com um "muito obrigado".

Mas Deus, que ama todos os homens e até os "sapos", saberá recompensá-lo. Do homem que salva seu irmão, ou que pelo menos faz o possível para salvá-lo, diz a Bíblia que salvará a sua própria alma e brilhará no céu como um sol por toda a eternidade.


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