Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

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12 de agosto de 1973 

Algoz-mor, Princesa e abstrusas Clarissas! 

Felizmente consegui para hoje algumas notícias tonificantes e alentadoras, a fim de as comentar com os leitores.

A primeira delas se refere ao estado da opinião pública americana.

Segundo os despachos telegráficos, a opinião pública norte-americana parece ter acolhido com ingênua simpatia a visita de Brejnev. Tal atitude, a ser real, traria no bojo graves ameaças para a América e para o mundo. Ela revelaria um alarmante estado de deterioração da opinião pública ianque, uma espécie de esquizofrenia masoquista.

Com efeito, no caso do Vietnã, o sentimentalismo nacional atuava no sentido de conter a guerra e forçar ao recuo o poderio norte-americano, sob a alegação de que cumpria antes de tudo poupar vidas humanas, de amigos ou inimigos.

Em rigor de lógica, essa política filantrópica deveria levar os americanos a uma decidida e militante condenação da tirania e dos crimes que campeiam além da cortina de ferro. Pois não há razão para que o sentimentalismo ianque se condoa com o sangue derramado no Vietnã, e não se condoa com o vertido além da cortina de ferro pelas vítimas do comunismo vermelho.

Ora, a displicente mas simpática acolhida aparentemente dispensada pelo povo a Brejnev, revelava uma implícita frieza, uma desconcertante indiferença em relação à sorte dos infelizes de que este é o algoz-mor.

Isto quanto ao caráter contraditório da reação norte-americana. Vejamos agora o seu caráter masoquista.

O sentimentalismo agia, quer em um quer em outro caso, de modo a prejudicar interesses norte-americanos, e favorecer os do comunismo.

No caso do Vietnã, o filantropismo bafejava a política de recuo e entrega. Em face ao caso russo, ele parecia favorecer também a política de entreguismo e de recuo face ao perigo vermelho.

O reflexo disto no mundo inteiro não poderia ser mais desfavorável. Pois, presenciando o aplauso dado pelo povo norte-americano à autodemolição da superpotência temporal anticomunista, os anticomunistas do mundo inteiro podiam perguntar-se que esperanças de êxito lhes restavam.

Isto tanto mais quanto o dramático haraquiri norte-americano se dá precisamente no momento em que os anticomunistas presenciam, desconcertados, o misterioso processo de autodemolição da superpotência espiritual que é a Igreja. Seria necessário muita Fé, para continuar na estocada: a Fé que move montanhas. Mas tal fé, obviamente poucos a possuem.

Ora, na revista "The Red Line" de 19 de julho p.p., leio a notícia altamente alentadora de que uma pesquisa Gallup provou que só 34% da população norte-americana apoiava os acordos da Rússia com os Estados Unidos, 57% pelo contrário se mostrava contra e os restantes, indecisos. Essa pesquisa, feita logo após a visita de Brejnev, denotava implicitamente a frieza e as resistências de uma robusta maioria em relação à visita.

Ou seja, o estado de alma da maioria dos americanos é sadio e coerente, e dá esperanças de que, por fim, Nixon seja forçado a mudar de orientação.

* * *

Por mais surpreendente que seja, outra notícia estimulante li-a no órgão de Cracóvia, "Tygodnik Powszechny".

Na Síria, o Conselho de Estado promulgou em 1967 uma lei que estabelecia a estatização das escolas privadas confessionais, das quais a maioria era católica. A reação das famílias católicas não se fez tardar. Tantas dentre elas têm imigrado para o Líbano com o intuito de assegurar aos seus filhos uma educação católica, que o Conselho de Estado da Síria abrogou tal lei... Bela manifestação da rijeza e da coerência da opinião católica.

* * *

Em contraposição a estas notícias alentadoras, também não faltam as deprimentes. Entre estas destaco uma, estampada pelo mesmo órgão polonês. A princesa Anne, filha da Rainha Elisabeth, visitou recentemente o Porto de Massova, na Etiópia. E visitou um navio soviético ali ancorado. A princesa e os marinheiros comunistas aproveitaram a ocasião para, juntos, comerem caviar e beberem champanhe.

Bem entendido, esse luxo alimentar não é costumeiro nos navios de um país que se contorce de fome, como a Rússia. Foi ele adotado pelo barco comunista apenas para receber com honras de corte, a graciosa princesa. Esta retribuiu a gentileza adotando as maneiras comunistas, isto é, comendo não em companhia dos oficiais, como seria normal, mas ainda com os marinheiros. E afirmando assim sua desanuviada simpatia para com os representantes do mais revolucionário dos regimes.

Tomando em consideração as visitas já trocadas entre a Rainha e o Duque de Edimburgo e o casal Tito, e as planejadas visitas de personagens reais ingleses à Rússia soviética, vê-se que até a Coroa inglesa – uma das mais altas instituições culturais e simbólicas que ainda restam no Ocidente – vai sendo engajada no processo de autodemolição em que Nixon meteu todo o mundo livre.

* * *

Nada disso, entretanto, é tão terrível quanto a notícia difundida por "Puebla",  órgão sindical de enorme tiragem distribuído de avião por toda Espanha.

Pois conta o jornal que a Sociedade Espanhola Acrílica de Fibras (SEAF), desejando fornecer ao público biquínis de esplêndido acabamento, se pôs à procura de mão de obra altamente qualificada, e não conseguindo encontrá-la nos ambientes comuns, obteve que se encarregassem dessa tarefa – segure-se o leitor para não cair!! – uma equipe de freiras de uma das ordens religiosas mais austeras da Igreja. Trata-se das clarissas, isto é, de filhas espirituais da puríssima e austera Santa Clara, a mística irmã do poverello de Assis. Segundo sua regra, estas religiosas devem observar clausura perpétua e rigorosa penitência. Para manter-se, não podem ter patrimônio próprio. Devem contar apenas com esmolas e o fruto de seu trabalho.

Oito clarissas do convento de Benavente, na Espanha, aceitaram por seus qualificadíssimos dotes de costureiras a serviço da empresa acima referida. E mediante 50 mil pesetas lançaram 92 modelos diferentes de biquínis de cores rutilantes.

Abstenho-me de comentários. Calo-me acabrunhado, ante este fato, à espera de que alguma clarissa brasileira me dê os meios de provar que o jornal "Puebla" mentiu. Publicarei então, com pressurosa alegria, essas provas.

Mas, virão elas?


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