Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Para onde?

 

 

 

 

Folha de S. Paulo, 7 de abril de 1974

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Tinha eu cerca de dez anos quando assisti ao primeiro grande lance da revolução indumentária que agora vai chegando ao seu auge. Por volta de 1918, como corolário da importância decisiva dos EUA na parte final da I Guerra, a influência norte-americana jorrou intensamente sobre a França, de onde, por sua vez, se refletiu no Brasil. As senhoras cortavam os cabelos a lá garçonne, as saias, que se usavam pelo tornozelo, subiram de um salto até os joelhos, as mangas se encolheram até os ombros.

A esta primeira investida revolucionária se seguiu, aos poucos, uma reação imposta pelo bom senso e pelo pudor. As saias e as mangas foram baixando de novo. As modas femininas chegaram, em sucessivas oscilações, até limites bem próximos aos que, na linguagem de hoje, se poderia chamar os "anos base" 1916-1917.

A revolução indumentária recuperou depois, por meio de novas audácias, o terreno perdido. A essas audácias se seguiam normalmente reações. E depois novas audácias. E de tal maneira que a audácia era sempre maior do que a reação. Assim, numa cadência de dois ou três passos para a frente e um para trás, chegou-se, ao longo das décadas, ao vestido de duas peças.

Em matéria de trajes de banho, a revolução indumentária foi muito mais sem cerimônias. E numa cadência que conheceu poucas e irrelevantes vacilações, a moda chegou até o biquíni.

Terá sido o biquíni o inspirador e o precursor do vestido de duas peças?

Seja como for, a partir do biquíni e das duas peças, até onde caminharão as coisas?

* * *

Essas perguntas já terão ocorrido a todos os leitores. Sem embargo, desagradarão aos que, dentre eles, formam um setor que se autodenomina "moderado". São os que, nesta matéria, só olham para o dia de hoje e se recusam a considerar o de amanhã. A cada nova ousadia, estremecem um pouco, adaptam-se logo, e formam a convicção de que a moda agora vai parar. Consolidada a adaptação, sobrevêm nova ousadia da moda, e nova adaptação. E eles se certificam, mais uma vez, de que a "evolução" da moda parou. E assim foram rolando, de adaptação a susto, e de susto a adaptação, até hoje.

Bem compreendo que esses "moderados" se indignam com meu artigo. A título de réplica, rir-se-ão, estranhando tratar eu de assunto tão frívolo. Como se o pudor – gravemente em jogo no tema – fosse uma frivolidade...

* * *

Ninguém poderá achar descabidas estas reflexões, à vista de notícias que leio em vários jornais do Exterior.

O "ABC" de Madrid (de 13-3-74) informa que cinco jornalistas apareceram inteiramente nus diante dos 800 mil espectadores de um programa de televisão na Suécia. E acrescenta que em Montevidéu, no bairro elegante de Carrasco, dois jovens foram presos por andarem nus.

Na Universidade de Carolina do Sul, ainda segundo o "ABC" (9-3-74), 510 estudantes desfilaram nus pelo campus. Não querendo deixar-se superar, a Universidade da Carolina do Norte organizou um desfile com 895 estudantes nus. Em Nocog Dochs, Texas, um análogo desfile foi enriquecido com danças rítmicas do folclore neo-africano. A Universidade da Geórgia, foi mais além, com um desfile de 1500 alunos nus.

Segundo o "Daily News" (7-3-74), o nudismo penetrou na política. Planejou-se para o dia 1º de abril uma manifestação de nudismo de alunos da Universidade da Pensilvânia diante da Casa Branca: seria a "chispada do impeachment".

* * *

Esta nova e suprema ousadia, como um tufão começa a varrer o mundo, levando consigo os últimos restos da indumentária. A pergunta se impõe, então: até onde chegaremos?

Não espanta que essa pergunta irrite os que há tanto tempo vêm caminhando de costas para o abismo.

O abismo? – Sim, o abismo. Isto é, as trágicas punições prenunciadas em 1917 por Nossa Senhora em Fátima, para o mundo moderno, caso este não contivesse o passo às modas imorais. Cito apenas duas frases ditas pela Virgem a Lúcia, Jacinta e Francisco: "A Rússia espalhará seus erros pelo mundo.... Várias nações serão aniquiladas".


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