Plinio Corrêa de Oliveira

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

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13 de agosto de 1983

No JB: ditatorialismo de reportagem centrista

O conhecidíssimo "Jornal do Brasil", órgão centrista ufano, que se publica no Rio, consagrou uma referência de 103 linhas – num noticiário sobre a visita do chanceler francês Cheysson – à pergunta da Agência Boa Imprensa (Abim), a qual transcrevi em anterior artigo. Nessa referência, o repórter do jornal encontrou meios de empoleirar as seguintes críticas.

1. A agência Abim é uma "desconhecida". Isto é coleguismo jornalístico pseudocentrista! De fato, essa agência existe há trinta anos, e transmite seu noticiário e seu pensamento a 130 folhas do Brasil que o publicam regularmente, como o repórter "centrista" poderia ver no livro "Meio século de epopéia anticomunista", com 4 edições e 39 mil exemplares vendidos (Editora Vera Cruz, São Paulo, 1980, p. 187). "Desconhecida"? Dele, sim. Porém não lhe fica bem identificar-se com o mundo, e sentenciar que por isto ela é desconhecida de todo o mundo.

2. O repórter "centrista" pode saber posteriormente que ela é – horresco referens! – "gerida pela TFP". E daí?... É bem o caso de dizer que esse inquisitorial centrista descobriu o óbvio, consignado aliás no próprio texto distribuído na ocasião, à imprensa, pela Abim.

3. Segundo esse mesmo repórter, a pergunta feita pelo representante da Abim era uma "pseudopergunta". O conceito é novo. Todo o mundo sabe o que é uma pergunta. O que seria uma pseudopergunta? – Seria uma pergunta que não pergunta nada. Examine o leitor o texto apresentado no artigo anterior e veja se ele não resulta em uma característica pergunta. De tal maneira era genuína a pergunta que, pouco adiante, o repórter até reconhece que o Sr. Cheysson a respondeu "com certa apreensão";

4. Continua o repórter: "A TFP se referia a ‘um tópico do projeto com o qual o Partido Socialista Francês subiu ao Poder’ (que como demonstra a cópia da pergunta não se referia à luta de classes, conceito que foi introduzido pelo tradutor)." - Nesta ponta de galho há muita coisa empoleirada. Antes de tudo, a impressão que pode causar a afirmação de que o tradutor acrescentara algo de próprio ao pensamento do Sr. Takahashi. O que cheira a falseamento. A realidade é outra. A certa altura da resposta, o representante da Abim, através de seu intérprete, lembrou ao chanceler Cheysson que a pergunta fazia também menção à luta de classes, elemento essencial do pensamento e da estratégia socialista, que o ministro habilmente esquivava de tratar. O chanceler francês retrucou que sabia perfeitamente o que estava dizendo, que falara dos direitos humanos e não da luta de classes. E passou a discorrer sobre a revolução sandinista na Nicarágua, deixando ao largo a questão da luta de classes...

Fazendo a propaganda socialista fora da França, o governo francês estimula implícita ou explicitamente a luta de classes nos outros países. Compreende-se, pois, que o Sr. Cheysson tenha querido a todo transe esquivar a pergunta. Daí a polida insistência do representante da Abim a respeito.

Tudo isto está gravado. Seria inútil, pois, contestá-lo.

Sentindo provavelmente a inconsistência de sua investida anti-TFP, o repórter ainda consagra bom espaço a um assunto já esclarecido por esta última, e velho de dois anos: os gastos efetuados com a divulgação da Mensagem das 13 TFPs, de cujo texto tive a honra de ser o autor.

A esta altura do artigo, verifico que já passei de muito o espaço-limite dedicado às minhas colaborações. Vou ter que "encolher o texto". E prevejo que um certo sabor de ironia, que está presente nas minhas referências aos comentários "empoleirados" na notícia do "Jornal do Brasil", ainda se tornará mais sensível. A esse propósito, um esclarecimento.

Por temperamento, feitio de espírito e educação, sou infenso à ironia. E ela não está presente nas minhas intenções, se bem que o esteja talvez no meu texto. É que escrevi apertado pela preocupação de ser sintético. E a ironia encurta o caminho das argumentações.

Na realidade, quis apenas fazer notar ao repórter do "Jornal do Brasil" - presumivelmente um jovem com muito entusiasmo e algum tanto de bílis – que o uso dos métodos e estilos que empregou torna impossível a uma corrente de opinião, a qual não dispõe do imenso capital necessário para ter um grande diário, os meios para fazer chegar cômoda e decorosamente seu pensamento ao público dos leitores do jornal em que escreve esse jovem. O que importa em coarctar a liberdade de expressão de tal corrente e em subtrair aos leitores do "Jornal do Brasil" o conhecimento do que pensa uma ponderável parcela da opinião nacional como é a TFP. Censura de imprensa, pois; e ditatorialismo centrista, exercidos por quem trabalha num órgão com grandes capitais, contra quem dispõe de recursos financeiros menos amplos.

Tal importa em um ditatorialismo centrista. Não pela força bruta de Bonaparte. Mas pela força do capital.


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