Pronunciamento da TFP espanhola

sobre a

canonização de mártires do comunismo

 

 

 

 

 

Catolicismo, N. 398, Fevereiro de 1984, Ano XXXIV, pág. 8

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Em novembro passado, a TFP da Espanha distribuiu um comunicado à imprensa daquele país, assumindo enérgica posição em favor da iniciativa da Igreja de reiniciar o processo de beatificação e canonização dos mártires sacrificados pelo comunismo nos anos de 1936 a 1939.

Reproduzimos abaixo o texto integral do incisivo documento: 

O ANÚNCIO FEITO pela Santa Sé — através do prefeito da Congregação para a Causa dos Santos — de reiniciar o processo de beatificação e canonização dos mártires do comunismo nos anos 1936-1939 provocou na Espanha as posições mais díspares. A respeito dos pronunciamentos eclesiásticos e civis contrários à reabertura dos ditos processos, a Sociedade Espanhola de Defesa da Tradição, Família e Propriedade—Covadonga apresenta ao público espanhol as seguintes ponderações:

1. A Igreja sempre considerou como de suma importância sua própria liberdade. Esta liberdade lhe vem do mesmo mandato de Jesus Cristo: "Ide, pois, ensinai a todas as gentes" (Mt. 28, 19).

2. Em consequência, a Igreja sempre se reservou o direito de exercer os atos de jurisdição espiritual, sem nenhuma pressão de caráter temporal. Entre estes atos, a beatificação ou canonização de pessoas mortas em odor de santidade figura como um dos mais característicos.

3. Assim, constitui uma verdadeira limitação da liberdade da Igreja a chuva de críticas por parte de personalidades eclesiásticas e civis contra a anunciada reabertura do processo de canonização dos católicos mortos no decorrer da guerra civil de 36.

4. Uma canonização ou beatificação não é simplesmente um ato de justiça praticado pela Igreja em relação a certos filhos insignes que morreram e que Ela considera dignos desta honra suprema. Há também outras considerações, como a necessidade de atrair a piedade dos fiéis para determinados intercessores, os quais, não sendo feita a canonização, permaneceriam no esquecimento e, em consequência, no desinteresse dos fiéis. A Igreja ao canonizar ou beatificar, propõe o santo como exemplo para os católicos. Não sendo feita essa canonização, privar-se-ia o povo de modelos enormemente necessários e valiosos.

5. A reabertura do processo de beatificação e canonização dos mártires tombados durante os anos da guerra civil é um primeiro passo para que sejam reconhecidos e proclamados pela Igreja numerosos martírios que, durante o Alzamiento, escreveram páginas gloriosas da História da Espanha. Este reconhecimento pode fazer um grande bem às almas e atrair muitas graças do Céu.

6. As manifestações das mencionadas autoridades eclesiásticas e civis, preocupadas unicamente com as eventuais repercussões políticas desta medida, não levaram em conta as considerações expostas acima. Com efeito, foi dito que tais canonizações dividiriam a Espanha. Convém acentuar aqui que não compreendemos qual possa ser esta divisão, pois, de duas uma:

a) Ou os comunistas evoluíram e hoje já não fariam o que fizeram nos anos da guerra; e, em tal caso, não há razão para que se sintam censurados pelo fato de que a Igreja condene uma ação que eles também condenam;

b) Ou os comunistas não evoluíram e, portanto, os de hoje fariam exatamente o mesmo que fizeram naquela época. Neste caso, é mais que legítimo que a Igreja procure alertar a respeito de sua nocividade a opinião pública nacional. E sem que se possa atribuir essa intenção principal nas canonizações em questão, é preciso dizer que tal efeito colateral tem bastante valor.

Quanto a nós, que não cremos em absoluto em nenhuma mudança do comunismo, parece-nos que este último não faz mais do que reconhecer sua fidelidade a si mesmo manifestando-se tão incomodado ante a referida atitude tomada pela Igreja.

7. Nestas condições a Sociedade Espanhola de Defesa da Tradição, Família e Propriedade—Covadonga protesta energicamente contra a onda de críticas que a notícia da liberação das canonizações causou, e manifesta seu mais caloroso aplauso às autoridades eclesiásticas que começaram a fazer justiça ao permitir o prosseguimento da canonização das vítimas do comunismo nos anos 1936-1939.


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