Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Guerreiros da Virgem

 

A Réplica da Autenticidade

 

A TFP sem segredos

Capítulo II

Sob a insinuante aparência de imparcialidade e bom humor, um furibundo libelo de acusações difusas, muitas vezes inexplícitas, mas sempre bem concatenadas

Ao narrar com aparente naturalidade os variados lances de sua novela autobiográfica, o sr. J.A.P. vai pouco a pouco inoculando, no espírito do leitor desprevenido, suas acusações contra a TFP.

Talvez porque receasse insucesso análogo ao de outra recente investida contra a entidade, preferiu não adotar o mesmo estilo destemperado, mas optou por um modo de exposição como que sorridente. Procura ele dar a impressão de que nada tem de apaixonado e iracundo, e vai rememorando os fatos até mesmo com certa bonomia, com aquela forma de sorriso dulçuroso que alguns cépticos costumam adotar quando querem mostrar ares de imparcialidade para melhor demolir um adversário.

Mas, raspada essa pequena camada de açúcar, o leitor sente todo o azedume das acusações efervescentes de ódio do autor de Guerreiros da Virgem.

1. Os pontos capitais da acusação do sr. J.A.P. à TFP

Quais são precisamente as acusações do sr. J.A.P. à TFP?

Posto que a técnica utilizada pelo sr. J.A.P., ao montar seu libelo, consiste muito mais em insinuar do que em explicitar as acusações, cumpre formulá-las, adequada e ordenadamente, para que a TFP possa assim sistematizar sua própria defesa.

O libelo acusatório do sr. J.A.P., visto em suas linhas gerais, se desdobraria nos seguintes pontos:

A. Seita de caráter iniciático

O combate ao comunismo seria a finalidade com que a TFP se apresenta ao público. Mas, por trás dessa, haveria outra mais profunda, que só aos poucos iria sendo revelada aos iniciados. Para estes, a entidade se inculca como uma organização profética, que se desenvolveria à margem da Igreja, mas com a missão de salvar a própria Igreja, restaurar a civilização cristã e implantar um utópico Reino de Maria, era de ouro da humanidade, durante o qual os membros da TFP teriam ascendência sobre Papas e Reis.

Nesta visualização, a TFP seria, pois, uma seita de caráter iniciático, que ocultaria seus verdadeiros fins e que, na realidade, pretenderia se sobrepor à Igreja e ao Estado. Toda a atuação da entidade não visaria, em última análise, senão isso, tudo para satisfação de um líder insaciável de mando e de homenagens, ao qual se prestaria um culto clandestino.

B. Aliciamento de adolescentes por meio de maquiavélicos métodos de “lavagem cerebral” ou de “manipulação do subconsciente”

Esse objetivo, obviamente sacrílego e infame, a TFP o alcançaria em escala cada vez mais ampla, multiplicando suas fileiras por meio de um sutil processo de aliciamento e iniciação.

Esse processo comportaria desde técnicas capciosas de “manipulação do subconsciente” até conversas iniciáticas em que os arcanos da entidade iriam sendo pouco a pouco revelados, o que, no conjunto, constituiria um requintado método de “lavagem cerebral”.

Os alvos dessa operação seriam em geral adolescentes, com idéias ainda em formação, e portanto incapazes de resistir a esse maquiavélico processo.

Como resultado da aplicação desse processo, os jovens e adolescentes teriam sua mentalidade e convicções anteriores “lavadas” e substituídas pelas da TFP, e ficariam assim definitivamente dominados e engajados na “seita’, da qual só muito dificilmente e com grande sacrifício se conseguiriam libertar.

C. Isolamento da família e afastamento dos ambientes naturais

Condição necessária para esse processo de integração na entidade seria o gradual afastamento do jovem de seus ambientes naturais: da família, que seria sempre e necessariamene mal vista pela TFP, dos círculos de amizade, e até da cidade natal. Os neófitos seriam dessa forma induzidos a viver confinados nos ambientes da associação, quase sem contato com as pessoas de fora, as quais seriam também sempre e necessariamente mal vistas pela TFP.

D. Tratamento de choque, disciplina férrea e exercícios paramilitares, para quebrar a personalidade anterior e formar o “tefepista” típico, “robotizado”

Mesmo depois de ter dado sua adesão à TFP, o neófito conserva traços de sua personalidade anterior. Importa extirpá-los. Para isso o jovem ou adolescente seria submetido a tratamentos brutais e arbitrários – verdadeiros tratamentos de choque – que, completados com uma disciplina férrea e exercícios paramilitares, o transformariam no “tefepista” típico, despersonalizado, achatado e reduzido a autômato, numa palavra, “robotizado”. Assim o jovem neófito se tornaria receptivo a todas as doutrinações, obediente a todas as ordens, atuando dócil e submisso nas campanhas promovidas em vias e praças públicas pela entidade.

O jovem teria alcançado aquilo que na TFP se apresentaria como a perfeição suprema, isto é, a identificação com o espírito do líder, e que na realidade nada mais seria do que a despersonalização completa. A tal o teria conduzido a “lavagem cerebral” praticada pela entidade.

Prova disso seria a formação de um novo tipo humano, característico da TFP, uniforme no modo de pensar, de agir e até de vestir, que permite distinguir de longe o sócio ou cooperador da entidade.

E. A vida do sócio ou cooperador da TFP sob constante terror

No processo de “lavagem cerebral”, ocuparia papel de relevo o terror que a TFP incutiria nos seus adeptos a propósito de múltiplos aspectos da vida do homem de hoje.

a) Pânico da atuação das forças secretas

O mundo contemporâneo está em crise. Esta é uma afirmação banal, mas que a TFP exploraria em seu favor apresentado-a como resultado da ação de forças secretas que conspiram, sob o bafejo do demônio, para destruir a Igreja e a civilização cristã. Com essa concepção conspiratória da crise do Ocidente, a TFP criaria, em seus ambientes internos, um clima de terror propício à “lavagem cerebral”.

b) Pânico de uma hecatombe de proporções universais

Descrevendo, assim, o mundo contemporâneo em crise e com os riscos da inteira destruição a que se acha exposto, não só pela eventualidade da guerra atômica, mas por outros fatores ainda, a TFP provocaria no “iniciando” um terror-pânico. Terror, aliás, singularmente agravado, em uma perspectiva religiosa, por efeito das revelações de Nossa Senhora ocorridas no ano de 1917 em Fátima, as quais anunciaram o advento do comunismo no mundo inteiro, com ainda outros cataclismos, caso a humanidade se obstinasse em prosseguir na via da  impiedade e da corrupção, em que já então caminhava. Feixe de flagelos convergentes, que constituiria, na linguagem caseira da TFP, a Bagarre, um castigo enorme que atingiria toda a humanidade.

c) Pânico das penas do Inferno

A este terror se somaria outro. O dos castigos eternos com que Deus pune cada pecador que não abandone, até o momento da morte, o caminho de perdição eterna no qual se tenha posto. Castigo este mais terrível ainda do que os outros, e apontado igualmente por Nossa Senhora, na famosa revelação que constitui o primeiro Segredo de Fátima, em que fez ver incontáveis almas impenitentes precipitadas por isso no Inferno.

d) Pânico do pecado em geral, e do pecado contra a castidade em particular

Entre o pânico da hecatombe universal (Bagarre) e o pânico das penas eternas do Inferno, a TFP incutiria também, no “iniciando”, um terror angustiante do pecado individual, causa de um e de outro castigo. E notadamente o pânico de cair no pecado da carne, em que, na vida comum de hoje, tão cheia de insídias para a moralidade dos homens, pode sucumbir qualquer um, e em que sucumbiu, aliás várias vezes, o srs. J.A.P.. Do que – diga-se de passagem – dá três descrições próprias a figurar com realce em qualquer publicação pornográfica das mais desabridas (cfr. GV pp. 40-41, 90 a 92 e 190 a 193).

E. Fábrica de doentes nervosos e de loucos

Então se compreende como a todo este processo não ficaria imune a saúde do sócio ou cooperador da TFP, que acabaria freqüentemente com os nervos abalados e aos bordos da loucura, na qual por fim adentraria se dela não escapasse oportunamente. Por isso o livro do sr. J.A.P. afeta ter por objetivo prevenir os jovens sujeitos à atração da TFP, para que não se deixem seduzir e nela não entrem.

Para condensar numa única frase todo o extenso corpo de acusações do sr. J.A.P., pode-se dizer que, segundo ele, a TFP é uma seita de caráter iniciático que, por meio da “lavagem cerebral”, produz efeitos altamente danosos sobre seus integrantes.

2. Conclusão contrária à evidência

Essa a descrição dos nervosos e tristonhos autômatos, que o sr. J.A.P., desrespeitando a evidência dos fatos, não hesita em fazer ao público, como sendo a das pessoas formadas pela TFP. Parece ele não se dar conta de que o mesmo público teve, tem e terá inúmeras oportunidades, no Brasil inteiro, de contatos pessoais com sócios e cooperadores da TFP, quer quando estão altaneira e denodadamente em ação, nas ruas e nas praças de nossas cidades, quer quando percorrem em alegres grupos – a serviço ou em passeio – as vias e logradouros públicos dos lugares onde moram. E que estes contatos desmentem de modo clamoroso o retrato do robô que ele procura inculcar como sendo o dos elementos da TFP.

Com temperamento fortemente sujeito à angústia e ao medo (cfr., por exemplo, GV pp. 14, 97, 157, 161-162), o sr. J.A.P. parece só ver como causa de tanto idealismo e de tão autêntico heroísmo... o terror e o pânico!

3. Uma lição que teria sido útil considerar – o brasileiro que o sr. J.A.P. não conhece

Para compreender a inverossimilhança dessa sua tese, especialmente em se tratando de jovens brasileiros, teria sido aconselhável que o sr. J.A.P. considerasse, antes de escrever seu livro, aquele dito atribuído a um antigo guerreiro português.

Ter-lhe-iam perguntado, depois da batalha de Aljubarrota (1385), como o Condestável de Portugal, Bem-aventurado Dom Nun’Alvares Pereira, à testa de uma tão diminuta tropa, conseguira vencer um tão mais numeroso exército de adversários. Ao que o guerreiro, bom conhecedor da alma de seu povo, teria dado a resposta: Nosso Rei venceu porque seu exército não é de soldados, é um exército de filhos!

Aí está a explicação bem lusa – e bem brasileira – da psicologia nacional que o sr. J.A.P. não soube interpretar. Posto ante os lances de destemor e intrepidez dos jovens da TFP, ele se perguntou como se originariam na mentalidade deles. E só encontrou como explicação o terror que ele sentiu ante certos aspectos da TFP. Ignora ele, infeliz, que não é o terror que suscita os verdadeiros heróis. É o amor. E, mais, ignora que, na alma do brasileiro, a brutalidade, o mau-trato, as ameaças não conduzem à submissão, mas às exacerbações do brio malferido, ao revide, à inconformidade e à justa revolta.

Está ele tão longe de o entender que, mesmo quando tratado com a consideração e ao afeto que se deve a filhos (cfr. GV pp. 163 a 181 e 193-194), ao longo da sua crise pontilhada de infidelidades e de quedas morais, que desfechou na cena final de que dá uma complacente e sórdida descrição (cfr. GV pp. 190 a 193), não percebeu que a conduta da TFP em relação a ele esteve constantemente nos antípodas do terror do qual se diz vítima.

Pois foi uma conduta caracteristicamente cristã, impregnada de bondade brasileira, continuadora genuína da afetividade lusa.

Até o último momento, foi tratado como filho. Apesar de merecer a expulsão, foi convidado a se reerguer moralmente, e foi-lhe facultado continuar a freqüentar as sedes da entidade apesar de seu comportamento moral já não condizer com tal.

Essa a norma de procedimento vigente na TFP, que foi usada para com ele mesmo, e que, não obstante, ele procura agora detratar.

 


 

Atrás   Índice  Avante

 

Home