Um título de glória há que não pode ser negado a Mussolini: foi ele o instrumento de que se serviu a
Providência, para evitar que a Itália soçobrasse no abismo das lutas sociais.
Os próprios admiradores de Mussolini nem sempre tem o
pleno conhecimento do serviço por ele prestado à Itália e ao Mundo. Mussolini não arrebatou a
Itália das garras do comunismo tão somente no momento em que, esmagando a
revolução comunista por meio da revolução fascista, ele se assenhoreou do
Poder. Mais do que isto, ele continuou, por assim dizer diariamente, a esmagar
a hidra comunista renascente. (...) Não há como negar que a partir do momento
em que Mussolini caísse, a Ordem social correria, na
Itália, sério risco. E ainda mesmo que reconheçamos no fascismo graves
defeitos, é inegável que eles são muito preferíveis ao catastrófico flagelo do
comunismo.
Isto posto, torna-se bem claro que os comunistas,
inimigos comuns do fascismo e da Igreja (desta imensamente mais do que daquele)
só teriam a lucrar com um conflito entre o Vaticano e o “Duce”. Quando
nada, este conflito afastaria do “Duce” uma importante parcela da opinião pública, o que
abalaria imensamente seu poder. E os proventos que, deste fato, tiraria a III
Internacional são evidentes. E é provável que as instruções da III
Internacional aos seus adeptos italianos tenham consistido insistentemente em
provocar tanto quanto possível tal conflito.
* * *
Colocado diante de fatos tão evidentes como estes,
e sabedor por dolorosa experiência pessoal de que, no plano humano e natural, a
Santa Sé não dispunha dos meios necessários para substituir Mussolini
na imediata repressão ao comunismo, Pio XI deve ter sentido
todo o embaraço em que o colocou a série de disparates religiosos que Mussolini começou a cometer depois do Tratado de Latrão. O pomo da discórdia, em última análise, era a Ação
Católica. Mussolini queria fechá-la. Pio
XI não queria consentir. Engajada a luta, uma alternativa se impunha: ou Pio XI
derrubaria Mussolini, mas veria erguer-se diante de
si o espectro comunista que, humanamente falando, a Ação Católica seria
impotente para vencer; ou então Mussolini venceria a
batalha e fecharia “manu
militari” a Ação Católica. Em um caso como no
outro, a Ação Católica estaria fadada a desaparecer.
Ora, a desaparecer tragada pelo comunismo ou pelo
fascismo, é claro que seria melhor que o “tragador” fosse este último.
Por isto tudo, e porque (...) o comunismo aproveitavam todas
as ocasiões para inimizar Mussolini com Pio XI, parecia certo aos espíritos prudentes, amantes da Itália
católica e tradicional, que a Igreja deveria, a todo o custo, evitar a luta com
o fascismo. Para eles, a Igreja era fraca demais para agir com independência.
Impunha-se para ela uma opção: ou o fascismo com todos os riscos que ele
apresentava no momento, ou o comunismo. E entre uma e outra coisa, qualquer
católico optaria pelo fascismo, exceto se fosse cretino, louco ou traidor.
E se se quisesse uma
prova para demonstrar a veracidade destas considerações, era suficiente ver com
que sofreguidão os documentos comunistas (...) esperavam e atiçavam a luta.
Bastaria considerar isto, para parecer provado e arqui-provado
que, rompendo com o fascismo a Igreja faria o gozo da III Internacional. (...)
* * *
Pio XI, porém, que analisava estes fatos com seus olhos de
lince, ao fundo do seu gabinete de trabalho e no íntimo de seu oratório,
traçava um plano em sentido contrário. E atacou o fascismo muito de frente e
muito de rijo.
Pio XI não tolerou os
erros do fascismo nem os do comunismo, mas impôs as verdades do catolicismo.
Escandalosamente, o conflito estourou. E a situação
do Papa parecia tão contrafeita que (...) os corações retos e os espíritos
juvenis que até à véspera vibravam de entusiasmo por ele nas fileiras
fascistas, deixavam cair os braços em atitude de desânimo (...). Os áulicos do
Vaticano esperavam ver invadido de um momento para outro o Palácio pelas turbas
fascistas. A derradeira hora parecia ter soado.
Por que resolvera Pio XI agir assim?
Porque a Igreja é bastante forte para nunca
silenciar perante o erro, ainda mesmo quando, humanamente, ela se apresenta
mais destituída de vigor. Sua força não está, essencialmente, no fascismo, no
Exército ou até na própria Ação Católica. Sua força é Nosso Senhor Jesus
Cristo, e só Ele. E ainda mesmo que Pio XI tivesse de
enfrentar o fascismo e o comunismo simultaneamente, e ainda que ele estivesse
tão desarmado quanto S. Leão perante Átila, ele nada teria a recear.
Por isto, Pio XI não se calou, mas
pelo contrário resistiu com uma coragem que, não fosse ele o Papa, 80% dos
católicos teria censurado.
Mas as vitórias de Deus beneficiam o vencido em
lugar de humilhá-lo. E graças à coragem de Pio XI, o fascismo não
chegou ao ponto do hitlerismo que é um aliado
inconsciente (?) de Moscou, porque ataca o único real foco de resistência ao
comunismo: a Igreja.
Atacando de rijo o fascismo, Pio XI pagou com largueza
infinita o bem que este fizera aos católicos italianos. Porque a isto, e só a
isto, deve o fascismo o ter conservado a nobreza da missão histórica que está
realizando.
Pio XI fora o agressor? (...)
A verdade católica é imutável. Quem dissente dela a
nega, e portanto a agride. Quando ela fulmina, ela não ataca, mas simplesmente
se defende. Violando os direitos da Igreja, negando parte da doutrina católica,
quem era agressor? (...) O fascismo. E Pio XI destruiu esse jogo,
forçando o fascismo a não aplicar suas doutrinas errôneas, e evitando assim que
a ruptura entre o Vaticano e o Fascio se tornasse
irremediável.
* * *
Nossa tática não é a da
timidez nem a do conformismo. Conforta-nos o exemplo de Pio XI.
O rádio e a imprensa publicaram
largamente um documento que se afirma ser de origem comunista, e no qual há
instruções para que os católicos sejam incompatibilizados com os integralistas.
À vista disto, estará o “Legionário” fazendo o jogo
de Moscou, quando levanta reservas à doutrina integralista?
Não será melhor aceitar o integralismo com suas
qualidades e defeitos, a facilitar o jogo do comunismo?
Responde por nós o grande e glorioso exemplo de Pio
XI. O jornal católico deve ser intransigente para com todos
os erros, venham eles de amigos ou de inimigos. A força divina da Igreja não o
coloca na obrigação vexatória de calar os erros de uns para que não vençam os
erros de outros. O jornal católico critica o mal onde quer que o encontre.
Fazendo-o, é ele o agressor? Ou são os integralistas, autores dos erros apontados, que abrem a
luta? A doutrina da Igreja é anterior à do integralismo.
Se alguns escritores deste divergem daquela, quem é que provoca a ruptura?
Responda por nós o bom senso.
Vamos a um exemplo.
Exatamente no dia em que publicava as instruções do
Komintern, mostrando ser favorável ao comunismo
qualquer ruptura entre católicos e integralistas, a
“Ação” publicou uma extensa notícia de um espírita dizendo que o Sr. P. Salgado
é o maior homem do mundo. O “Legionário” censura esta propaganda espírita em um
jornal lido por católicos. Quem foi o agressor? Responda ainda por nós o bom
senso.
Censurando certas doutrinas integralistas,
quer dizer que o “Legionário” se esquiva a cooperar com os “camisas verdes” na
luta contra o comunismo? Não, no integralismo
atacamos o que há de mal e aprovamos o que há de bom. E com isto beneficiamos o
próprio integralismo, apontando-lhe os erros que deve
corrigir.
Esta atitude desagrada à direita? Suscita aplausos
hipócritas e desprezíveis à esquerda? Pouco importa.
O que queremos é seguir o exemplo de Pio XI sob as bênçãos das
Autoridades Eclesiásticas de São Paulo.