Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Ne permittas me separari a Te

 

 

 

 

 

Legionário, N.º 638, 29 de outubro de 1944

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O último item do programa do Exmo. Revmo. Sr. D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota que nos restava comentar é este: “desenvolver cada vez mais a organização da Ação Católica, de acordo com a mente do Santo Padre Pio XI, seu glorioso instituidor”.

O desenvolvimento da A.C. foi um dos anelos tão ardentes de Pio XI, que chegou a constituir uma das características de seu inolvidável pontificado. As massas se afastavam cada vez mais da Igreja, impelidas por preconceitos cuja primeira conseqüência era fechá-las à ação do sacerdote. Nas esferas intelectuais, o padre era apontado como espírito fechado, supersticioso, incapaz de acompanhar o desenvolvimento da ciência. Nas esferas sociais, como novo Savanarola, inimigo do conforto, do luxo, dos prazeres da vida. Nas esferas operárias, como assecla da burguesia, adversário nato de tudo quanto se relacionasse com o bem espiritual e material dos trabalhadores. E, como tal, era o sacerdote mal visto a priori, encontrava diante de si fechadas todas as portas, de tal maneira eriçados os preconceitos, que sua ação, em muitos casos, estava reduzida a uma impotência verdadeira.

De que maneira romper o cerco? Suscitando dentro de cada meio pessoas capazes de agir dentro dele. Assim, apóstolos intelectuais para os intelectuais, burgueses para os burgueses, operários para os operários. Cabia a estes apóstolos preceder o sacerdote como João Batista precedera o Senhor. Tornando retas as veredas, enchendo os vales da ignorância e abatendo as montanhas dos preconceitos para facilitar a irradiação do apostolado sacerdotal em todo o mundo contemporâneo.

Em essência é este o objetivo da Ação Católica: uma geral mobilização de todo o laicato, nas organizações fundamentais ou auxiliares, para que cada qual exerça, quer nas respectivas associações quer no seu ambiente de família ou de trabalho, um apostolado franco, desassombrado, industrioso, para a implantação do Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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Como se vê, a A. C. é um meio providencial para aproximar da Igreja os ambientes que estão dela completamente afastados. Esse “completamente”, em nosso país merece uma explicação.

As estatísticas dos batizados são elevadíssimas. A grande maioria dos brasileiros, graças a Deus, pertence à Igreja Católica. Por uma triste contradição, o que se diz dos brasileiros individualmente considerados, não se pode dizer dos ambientes em que nós, brasileiros, vivemos. Em física, não se admitiria que um copo cheio de gotas de um líquido com determinadas características não contivesse por isto mesmo uma massa líquida com as características das gotas que a compõem. Mas em sociologia isto se admite. O ambiente pode ser menos bom que as pessoas que o integram. É mesmo frequente este fato. E, entre nós, frequentíssimo. O respeito humano, a preocupação de admitir servilmente os hábitos ditos “modernos”, tudo enfim concorre para que as pessoas costumem, no respectivo ambiente, atuar de modo contrário às suas convicções mais profundas. Ora, esta atitude não se mantém por muito tempo. Disse muito bem Pascal que, quando o homem não põe suas ações de acordo com suas idéias, acaba pondo suas idéias de acordo com suas ações. Nos ambientes onde o procedimento e as palavras de cada qual representam uma marcha decidida para o repúdio completo das normas do Evangelho, os corações acompanham, de longe ou de perto, a marcha acelerada das exterioridades. E, como brasas que se vão extinguindo e transformando lentamente em cinzas, assim esses ambientes, de católicos que eram, se vão lentamente esfriando, e transformando em pagãos. Lentamente, ou rapidamente, tudo depende das circunstâncias.

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O quadro real que temos diante dos olhos explica duas aparências que não devem ser tomadas unilateralmente. De um lado, ouvimos repetir à saciedade que o Brasil é um grande país católico, uma das maiores potências católicas de nossos dias, etc., etc. De outro lado, ouvimos dizer que o país se paganiza cada vez mais. Se olharmos certas manifestações religiosas em que se aglomera uma incontável multidão, daremos razão aos otimistas. Se considerarmos os costumes pagãos que se generalizam nas festas, nas praias de banho, etc., daremos razão aos pessimistas. Mas a verdade inteira não está nem com uns nem com outros. Ambos têm uma parcela da verdade. O Brasil já está muito paganizado... dói dizê-lo. Mas o Brasil ainda tem muito de católico... como faz bem poder proclamá-lo!

Em cada um desses ambientes que vão deslizando pela rampa da paganização, os elementos da A. C. têm a missão de anteparos, de muralha protetora, de elemento de restauração espiritual. São eles os dedos com que a Igreja procura reter dentro do aprisco de Jesus Cristo as ovelhas que tendem a se afastar. É para que o Brasil não se afaste da Igreja, para que o Brasil pertença cada vez mais a Nosso Senhor Jesus Cristo, para que seja de modo cada vez mais autêntico o Reino de Nossa Senhora Aparecida, é para isto que a Ação Católica deve estender suas frondes e suas raízes sobre todo o território nacional, segundo os anelos de Pio XI, sobre a sábia direção de Pio XII e de todo o nosso Episcopado. E é para isto que Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota deseja a florescência da A. C. na Arquidiocese que vai dirigir.

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Unidos em espírito e oração com nosso novo Pastor, que nos cabe dizer a Nosso Senhor, senão que esses piedosos anelos sejam ouvidos. E que melhor fórmula para exprimir em nome de todo o Brasil estes anelos, senão as palavras devotíssimas da oração “Anima Christi”?

Sim, Senhor, “não permitais que nos separemos de Vós”. Se tivermos esta graça, teremos todas.


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