Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, N.º 249, 20 de junho de 1937

 

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Devemos definir mais uma vez nossa posição política, para evitar qualquer interpretação errônea às nossas atitudes. Não se julgue que nossa oposição à medida do Governo Federal soltando os 308 indivíduos suspeitos de opiniões comunistas, significa qualquer hostilidade à situação federal dominante ou qualquer solidariedade aos políticos da minoria.

“Cá e lá más fadas há”, afirma um velho ditado. Tanto nas fileiras da corrente que segue o Sr. Getúlio Vargas, quanto entre os aliados do Sr. Armando Salles Oliveira, há gente perfeitamente capaz de soltar os comunistas. E até de coisas piores.

O “Legionário” não é sistematicamente governista. Nem é sistematicamente oposicionista. Ele está disposto a apoiar todos os gestos louváveis de nossas autoridades. E está firmemente resolvido a criticar todos os seus erros.

Não menos resolvido ele está a não deixar-se enfeudar por qualquer corrente política.

Ele é católico, inteiramente católico, e exclusivamente católico.

E isto lhe basta. Não há honra maior do que a de ser paladino da verdade.

* * *

Por que recusa-se o “Legionário” a assumir qualquer compromisso partidário? Por mil razões. Uma delas se reduz, em última análise, ao seguinte:

a) tanto nas fileiras governistas quanto nas oposicionistas, há homens de todas as opiniões, desde a extrema esquerda até a extrema direita;

b) entre tantos elementos díspares, o ponto de convergência não está nas idéias, mas nas simpatias, nos interesses, e muito raramente em certos ideais políticos que, aliás, nada tem a ver com a doutrina católica;

c) tais partidos, portanto, têm rumos incertos. Caminharão ora junto à Igreja, ora longe dela, ou até contra Ela, conforme a corrente interna que preponderar no momento;

d) como poderá o “Legionário” desejar a perpetuação no poder de correntes políticas que constituem para os católicos uma angustiosa incógnita? Para sanear essas correntes, seria quase necessário esvaziá-las, isto é, matá-las. De mais a mais, ainda que fossem “esvaziadas” de seus maus elementos, não seriam isentas de perigo. O vinho novo, colocado em odres em que se guarda vinho velho e azedo, fica por sua vez deteriorado em pouco tempo. Isto ainda mesmo se no odre sobrassem apenas algumas gotas de vinho velho!

e) eventualmente, portanto, no caso de se ter de optar entre uma e outra corrente, seria preciso escolher a menos má e não a melhor.

Mas para que ser do partido do “menos mau”? O “menos mau”, se é que existe, é “mau”. E nós somos do partido do Bem.

* * *

Merece nosso mais caloroso apoio o gesto do Sr. Ministro da Guerra, prendendo o Sr. General Waldomiro Lima.

Não nos preocupa o aspecto político do caso. Basta-nos saber que o Sr. General Waldomiro Lima [havia] infringido a disciplina militar e que, por isto, o Governo teve a coragem de prendê-lo.

Gestos de disciplina e coragem são sempre louváveis.

* * *

O Sr. Ministro da Justiça e o Sr. Presidente da República promulgaram um decreto no qual se atribui a soma de 450 contos à despesa para a construção de um monumento a Quintino Bocaiúva, um dos mais ásperos adversários da Igreja no Brasil.

Anchieta, Nobrega, Cayru, D. Vital e D. Macedo Costa, não têm monumentos no Rio.

* * *

A Rússia condenou à morte um marechal e sete generais de seu exército. Por que? Porque o comunismo acha que conspirar contra o regime é um crime imperdoável.

No Brasil, pelo contrário, os comunistas reivindicam para si toda a brandura e toda a benignidade dos burgueses cegos. Afirmam que conspirar contra o regime vigente não é crime. Insinuam até que é virtude. E encontram quem os ouça e lhes abra as portas da prisão...

* * *

A “Ofensiva” de 5 pp. publica uma crítica mordaz a um abaixo-assinado dirigido por alguns deputados federais ao Sr. Ministro da Justiça, pedindo-lhe a soltura dos presos acusados de cumplicidade com o comunismo.

Entre os signatários do abaixo-assinado, a “Ofensiva” destaca com ironia o Rev.mo Sr. Padre Macario de Almeida, deputado pelo Estado de Minas Gerais.

Não compreendemos como uma corrente política que visa “recristianizar” o Brasil permite críticas abertas, em seu órgão oficial, contra um Ministro de Cristo. (...)

Admitamos para argumentar que tenha agido mal. Exatamente aí é que a disciplina religiosa dos elementos “recristianizadores” se deveria fazer sentir. Porque a disciplina consiste em receber com respeito aquilo com que não se está de acordo. Acatar aquilo com que se está de acordo não é nada de extraordinário.

* * *

É curioso, entretanto, que o belo zelo que inspirou a crítica da “Ofensiva” contra o Rev.mo Sr. Padre Macario de Almeida não moveu os integralistas a censurarem os Srs. Getúlio Vargas e J. C. Macedo Soares que soltaram os presos.

Os deputados que solicitaram a soltura foram criticados acremente. As autoridades que procederam a essa mesmíssima soltura, além de não serem criticados, receberam uma atenciosa visita dos camisas verdes, em que se lhes comunicou o lançamento da candidatura do Sr. Plinio Salgado. O Sr. Getúlio Vargas, o responsável máximo pela soltura dos comunistas, teve até o malicioso prazer de ouvir três “annauês” dados em sua honra pelos visitantes integralistas.

O que diriam disto os rapazes que morreram no Largo da Sé, vítimas das balas comunistas?

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O Sr. Deville, figura com larga projeção no rexismo, acaba de se desligar dessa corrente, na qual ele denunciou a existência de uma “maioria ferozmente hostil a qualquer tentativa de reconciliação com as autoridades religiosas, e que pouco se importa com a paz das consciências”.

É curioso que o Sr. Deville só tenha rompido com o rexismo agora. Nem mesmo a condenação do rexismo pelo Cardeal-Arcebispo de Malines a sair do Partido do Sr. Degrelle. Foi-lhe preciso reconhecer com seus próprios olhos a evidência do anticatolicismo rexista para pedir demissão.

Isto prova que o Sr. Deville não é católico de consciência muito sensível, e que não o impressiona o argumento de autoridade. Por isso mesmo, sua ruptura com o rexismo constitui uma prova muito insuspeita das perigosas tendências da direita na Bélgica.

Mas ainda há gente, na Bélgica como no Brasil, que espera a salvação só da direita. Como se a missão de defender a doutrina católica coubesse aos novos Césares, e não mais à Igreja de Cristo. (...)

* * *

Destacamos com viva simpatia a atitude do Ex.mo Rev.mo Sr. Bispo de Tanos, na Argentina, Monsenhor Andrea que conseguiu obter dos industriais de sua Diocese um sensível aumento de salário aos operários.

Intervenções como esta, muito características do espírito católico, provam que, se a Igreja está a mil léguas do comunismo, também está distante do capitalismo opressor, que vê no operário apenas uma máquina da qual se deve sugar o máximo de trabalho pelo mínimo de salário.

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O Sr. Deputado Chrysostomo de Oliveira, representante operário brasileiro em Genebra, fez uma conferência em que sustentou a “inadaptabilidade das ideologias extremistas à índole nacional”.

Essa pretensa “inadaptabilidade” é pura e simplesmente uma asneira.

O Sr. Chrysostomo de Oliveira foi, na Câmara, grande defensor do Sr. Agamenom Magalhães, acusado de conivente com o comunismo.

Não confere?


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