Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 12 de dezembro de 1937, N. 274

 

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É tão generalizada a incúria por nossos principais problemas de caráter social, que a imprensa diária dedicou um espaço insignificante ao discurso proferido pelo Sr. Ministro da Educação na sessão solene comemorativa do Centenário do Colégio Pedro II.

Entretanto, este discurso em que o orador delineou todo o plano educacional do Governo, por delegação expressa do Sr. Presidente da República, é de uma importância imensa.

De seus tópicos, o mais importante é aquele em que o Sr. Gustavo Capanema censura as escolas pedagógicas que procuram formar a criança sem se apoiar para isto em uma filosofia que contenha idéias próprias sobre a finalidade do homem. E em seguida S. Exa. afirma que a política educacional a ser desenvolvida daqui por diante se baseará em um sistema filosófico pedagógico a ser adotado oficialmente pelo Estado.

Daí se deduz que foi feita no Brasil essa transformação imensa, inapreciável, extraordinária: o Estado neutro foi suprimido e, em seu lugar, foi instituído um Estado que tem uma filosofia própria.

Se essa filosofia for a de São Tomas, é simplesmente incalculável o bem que daí poderá tirar o Brasil!

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Do discurso pronunciado pelo Sr. Presidente da República na sessão solene comemorativa do 1º Centenário do Colégio Pedro II, destacamos o seguinte trecho:

O Colégio Pedro II reflete ainda, por circunstâncias especiais, o nosso esforço pelo aperfeiçoamento e elevação do nível cultural do país. Através das variadas fases da sua existência podemos reconhecer os elementos de reconstituição da vida nacional desde os seus primórdios, quando a Igreja desempenhava com exclusividade a função de educar e dirigir os espíritos.

“Cumpre assinalar como foi difícil estabelecer os fundamentos dessa obra e quanto foi grande o devotamento dos seus agentes. Na missão árdua e ingente a que se devotaram, orientando o problema da cultura brasileira, os nossos primeiros educadores chegaram a resultados os mais extraordinários. Só o espírito evangelizador e as virtudes da fé podem explicar o milagre de termos conseguido amalgamar na sociedade colonial os fatores díspares e primários da nossa formação - indígena na idade da pedra, escravos africanos em diversos estágios culturais e imigrantes peninsulares - integrados todos na civilização cristã.

“Com o decurso do tempo e experiência adquirida, é fácil aquilatar quanto se tornou profunda e benéfica a influência moral desse período que ainda hoje caracteriza a fisionomia das nossas instituições”.

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O Sr. Ministro da Marinha dirigiu ao chefe de Polícia do Distrito Federal um ofício solicitando providências no sentido de ser proibido o uso de fantasias carnavalescas semelhantes aos uniformes usados na Armada.

Seria da maior conveniência que o uso de trajes religiosos, como fantasia carnavalesca, também fosse proibido por uma lei especial. E não só como fantasias carnavalescas. O uso desse traje deveria também ser proibido em qualquer tempo a quantos não são eclesiásticos.

Houve, há pouco, em São Paulo, uma infeliz louca que tinha a mania de se vestir de Freira, e de percorrer a altas horas, inteiramente só, as ruas da cidade, frequentar cinemas, e dar outros escândalos do mesmo gênero. E a polícia solicitada por S. Exa. Rev.ma o Sr. Arcebispo Metropolitano a proibir o abuso involuntário da infeliz, negou-se a fazê-lo sob a alegação de que ela era livre de se vestir como quisesse...

Esperamos que essa situação se modifique agora, uma vez que o Poder Público foi fortalecido, e está dotado dos meios legais necessários para fazer cessar abusos como este.

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O Conselho Federal do Comércio Exterior manifestou-se favorável à exportação de café para as tropas nacionalistas da Espanha.

Evidentemente, essa atitude merece nosso mais caloroso aplauso. É mil vezes preferível que o café brasileiro seja aproveitado pelos heróis da Espanha católica, a que seja queimado estupidamente no Brasil. (...)

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Achamos muito digna de aplausos a iniciativa do Sr. Secretário da Segurança Pública de mandar construir um asilo especial para os loucos que se encontram detidos nas prisões do Interior do Estado.

Ninguém ignora que, dada a exiguidade dos hospitais para doentes dos nervos ou do cérebro, nossas abominabilíssimas e anti-higienicíssimas prisões do interior regurgitavam de loucos.

Ora, enquanto esses pobres inocentes sofrem tanto desconforto, os criminosos são confortavelmente instalados na Penitenciária!

Essa flagrante injustiça vai cessar com a iniciativa do Major Espírito Santo Cardoso.

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Um telegrama de Washington, datado do dia 6, diz o seguinte:

WASHINGTON, 6 (H.) - O Departamento de Estado anuncia que as licenças de exportação de armas e material de guerra para a China, durante o mês de Novembro, atingiram um total de 1.702.970 dólares. Para a URSS as licenças de exportação de material bélico alcançaram a soma de 805.612 dólares, sendo essas exportações sobretudo de fuzis, carabinas e metralhadoras.

Por outro lado, um recente telegrama da Itália informa que o governo daquele país comunicou ao da China que a assinatura do pacto antissoviético não impede à Itália a venda de armamentos aos soldados chineses.

Tanto por parte da Itália, quanto dos Estados Unidos, há uma grande contradição. Não compreendemos como os Estados Unidos vendem armas aos comunistas. Isto é aos mais perigosos e abomináveis inimigos da civilização. E tão pouco compreendemos como a Itália vende armas aos chineses aliados dos comunistas, contra os quais ela se compromete a lutar no pacto anticomunista firmado com a Alemanha e o Japão.

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Ao tecer este comentário, estamos de antemão certos de que ele despertará comentários irritados. Pouco nos importa.

É preciso habituar certas pessoas a compreenderem que a censura a atos praticados pelos governantes de certos países não implica em hostilidade contra tais países.

Em geral, quando fazemos comentários assim, replicam-nos: é “americanofobia”, ou “italofobia”, ou “teutofobia” ou “francofobia”, etc., etc.

Mas se os jornais estrangeiros, os da América, como da Itália, da Alemanha ou da Inglaterra, criticam livremente, e às vezes libertinamente os atos dos chefes de Estado estrangeiros, por que não faremos nós o mesmo?

E, de mais a mais, é preciso encarar as críticas jornalísticas sem nervosismo, à luz fria da razão. Assim considerada, a crítica a um estadista não pode e não deve ser considerada insultuosa ao seu país. Porque infalível só é o Papa.


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