Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, N.o 436, 19 de janeiro de 1941

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Enquanto no campo inglês, otimistas impenitentes insistem em esperar uma aproximação anglo-russa, que teria como consequência uma ruptura soviética, a realidade dos fatos vai mostrando sempre mais claramente os vínculos de solidariedade efetiva e militante que ligam a URSS ao III Reich.

Disto foi uma prova assaz expressiva a assinatura do novo pacto econômico nazi-soviético realizada em Moscou há dias atrás. Segundo informou a agência governamental nazista, D.N.B., o vulto das exportações recíprocas entre as duas potências ultrapassa consideravelmente os limites do primeiro tratado. A Alemanha entregará à Rússia produtos industriais e a Rússia fornecerá principalmente cereais.

Assim, a colaboração entre os dois países totalitários, longe de se debilitar com o tempo, cresceu em extensão.

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Evidentemente, ninguém pode fechar os olhos às repercussões políticas de tal colaboração econômica. O que resulta de positivo do comunicado da agência nazista é que a Rússia abastecerá em escala ainda maior a Alemanha, no que diz respeito a cereais. Ora, ninguém desconhece o esforço feito pela Inglaterra para reduzir à impotência o III Reich, por meio da interrupção de todas as vias comerciais que pudessem abastecer os territórios nazistas. Assim, a Rússia rompe o bloqueio e presta ao regime nazista um concurso muito mais eficaz do que se lhe enviasse seus soldados. Potência em guerra, também a Rússia poderia ser bloqueada, e sua colaboração com a Alemanha perderia em eficiência. Potência não beligerante, ela não pode ser bloqueada, e assim combate muito eficazmente o bloqueio britânico que o “Legionário” sempre demonstrou ser vão.

Caso a Rússia entrasse em guerra, qual a utilidade de sua colaboração no terreno militar? Que teria a lucrar o nazismo com o concurso das tropas derrotadas pelo general Mannerheim na Finlândia? Evidentemente, muito menos do que o abastecimento de cereais.

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Tal ordem de idéias, evidentemente, não escapa à observação dos próprios bolchevistas, suficientemente lúcidos para quererem todas as conseqüências do que fazem ou, em outros termos, para não agirem sem conhecer as conseqüências de suas atitudes.

Por isto, segundo acentuou um judicioso comentário da “Folha”, publicada nesta semana com o título “Mistério que se decifra”, a serem fiéis os textos telegráficos transmitidos para o Brasil, a Rússia já não se declara “potência neutra”, mas “potência não beligerante”. Seria longo, em uma simples nota como esta, mostrar a diferença entre o estado de neutralidade e o da não-beligerância. Mas em duas palavras, enquanto o Estado neutro afirma a sua indiferença pelo resultado do conflito, o Estado não-beligerante, afirma seu interesse pela vitória de uma das partes, interesse este que implica em uma cooperação no terreno diplomático, moral e econômico com uma das partes, permanecendo apenas em atitude de expectativa o exército. Assim, a Rússia seria “não-beligerante”. Ou, em outros termos, aliada e “torcedora” da vitória nazista.

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Seria esta a única colaboração prestada pelos comunistas ao triunfo nazista? Quem tiver lido o noticiário internacional desta semana não terá dúvidas a este respeito.

Como se viu pelas notícias procedentes da Inglaterra, começa a lavrar naquele país intensa campanha socialista, que resultou na convocação de um grande congresso operário em Londres. Neste congresso, compareceram ou ao qual enviaram suas adesões numerosas personalidades comunistas da Inglaterra e do exterior, advogava-se, em nome das classes trabalhadoras, a implantação de um governo popular que procedesse imediatamente à subversão de toda a ordem social e propusesse a paz à Alemanha. Os telegramas acrescentam a respeito dos propósitos de tal governo algumas frases confusas das quais parece deduzir-se que, vendo os operários nazistas que a Inglaterra adotou um regime proletário, imediatamente deixariam de acompanhar o Sr. Hitler, e a paz voltaria a reinar sobre a Europa.

Segundo parece, os próceres pseudo-operários (pois que é fácil discernir atrás de tudo isto um mero manejo da Rússia) quereriam colocar um novo governo que pediria a paz ao povo alemão. Assim, durante a guerra e sob uma série dramática de bombardeios, preconiza-se uma subversão completa das instituições, como meio mais seguro para resolver a situação inglesa.

E o que é este manejo tipicamente bolchevista, senão um esforço da III Internacional a favor de seus aliados nazistas?

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Aliás, não seria esta a única tentativa deste gênero. Já há algum tempo atrás o órgão católico canadense “L'Action Catholique” publicou uma notícia segundo a qual a polícia londrina teria descoberto uma vasta conspiração comunista tendente a preparar a derrubada do governo Churchill e concomitante com uma ofensiva de paz do governo nazista.

Não podemos deixar de registrar, a propósito de tudo isto, o agrado com que a imprensa italiana acolheu o acordo teuto-russo, e insistiu em mostrar as vantagens que tal acordo acarretaria.

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O general Weygand, que se encontra atualmente em missão delicada no império colonial francês, fez há dias declarações em que, segundo toda a evidência, aquele cabo de guerra desserviu a reputação de seu país.

Em mensagem enviada aos muçulmanos afirmou ele que “a espiritualidade da França, renovada sob a direção do nosso chefe, Marechal Pétain, corresponde a voz espiritualista do Islã”.

Aplaudido por uns, e considerado com visível cepticismo por outro, o Marechal Pétain tem desenvolvido uma ação de aparência espiritualista na França, onde tem procurado aproximar-se dos católicos, com propósitos que os próprios católicos não são unânimes em apreciar.

Seria curioso saber se essa espiritualidade tão “catolicófila” na França pode, sem se desmentir a si própria, ser tão “maometófila” na África.

Dir-se-ia que se tratou de mero expediente de propaganda. Mas então seria o caso de perguntar: expediente de propaganda onde? Na França metropolitana? Ou na França Colonial? Ou em ambas?


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