Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 11 de janeiro de 1942, N. 487

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Publicou-se recentemente um livro que serve de cruel e luminosa lição aos que, sob o pretexto da caridade, vivem a criticar a linguagem franca e categórica do LEGIONÁRIO.

É a história de um soldado inglês que, conduzindo-se como verdadeiro herói durante a batalha de Dunkerque, apanhou ali uma pneumonia que o forçou a se recolher a um hospital. Depois de ter recobrado a saúde, o horror ao combate levou-o a desertar, não mais se apresentando às fileiras do exército de sua pátria. Um companheiro, entretanto, faz passar ante seus olhos o espectro da "Casa de Vidro", enorme estabelecimento de tortura, estabelecido na Inglaterra contra os desertores. Ali o trânsfuga é injuriado em seus sentimentos mais íntimos, até que reaja e, depois, é punido pela reação. As vítimas são obrigadas a exercícios duplicados, com os aprestos todos, sem descanso. Exaustos, não lhes adianta clamar misericórdia nem cair de cansaço ou sono, dão-lhes golpes de correia, batem-lhes com a coronha nos dedos dos pés, picam-lhes as carnes com a baioneta, não os deixam parar, repousar, dormir um minuto, dia e noite, até que capitulem ou morram. Enfim, algo de vagamente parecido com os campos de concentração nazistas que, seja dito de passagem, não se limitam a isto, mas praticam torturas mais drásticas e mais cruéis, a perder de vista, como foi o caso dos sacerdotes polacos enterrados ainda com vida.

Não é nosso intuito fazer aqui uma apreciação da "Casa de Vidro" que mostra, entretanto, o risco que correm os países democráticos de, assimilando por necessidade de guerra os métodos totalitários, acabarem, no dia da vitória, por estar inteiramente totalitarizados. Mas, o que precedeu é indispensável para a compreensão do resto.

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O autor do livro relata um diálogo entre Clive e certa moça. Ela procura, fazendo valer as razões da honra e do patriotismo, levar Clive novamente às fileiras militares. Ele, entretanto, revoltado contra o governo inglês, assim se exprime quanto ao fracasso de Dunkerque:

"Nós estávamos na França com espingardas e baionetas, metralhadoras e artilharia. Mas Hitler estava com tanques aos milhares. Com milhares de aviões, com divisões motorizadas. E, ainda mais, com técnica nova para o emprego dessas armas superiores. Por que nos puseram em circunstâncias tão desiguais? Os nossos mandões não sabiam disso? Podem as almas dos moribundos, dos feridos, perdoar ignorância tão culposa?"

E acrescenta:

"Os nossos próprios feridos foram triturados em massa informe e irreconhecível sob as engrenagens dos tanques, antes quase de as inúteis espingardas lhe caírem das mãos, diante dos meus olhos, que os viram. E quem fez isso? Quem mandou os nossos corpos arremeterem contra o aço? Quem nos despachou com armas e técnicas tão fora de uso como os uniformes vermelhos da guerra dos boers? Quem ignorou as lições da guerra polonesa, tão fáceis de aprender?"

Evidentemente, a traição é sempre uma traição, a deserção é sempre uma deserção, a infâmia é sempre uma infâmia. A Inglaterra de hoje já não é a Inglaterra de Chamberlain e dos guarda-chuvas, e nada poderia justificar que Clive [não] retornasse ao Exército inglês logo depois de Dunkerque, aliás, em fase de franca reconstituição e reerguimento. Mas, tudo isto posto, quem não sentiria confranger-se o coração ante tão dramática narração, evidentemente pintada com as cores do mais veraz realismo?

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Mas, se nosso coração se confrange, nossa inteligência é forçada a formular uma pergunta. Quem foi o culpado de tão grande catástrofe que afetou milhares de vidas? Algum feitor de chibata em punho? Algum indivíduo cheio de perfídia e de crueldade? Não, não foram nem a perfídia nem a crueldade as autoras destas ruínas. Foi a bondade! Não a bondade como a define e descreve a Santa Igreja, mas aquela bondade sentimental, romântica, puramente natural e carnal que intoxica hoje os meios católicos e não católicos, a bondade (...) dos pacifismos imoderados, a bondade criminosamente estúpida, abominavelmente imprevidente de um Chamberlain e de todos aqueles que aplaudiram as proezas do herói do guarda-chuva.

Conta-se que certa vítima da Revolução Francesa, passando por perto da estátua da Liberdade quando os republicanos a levavam à guilhotina, exclamou: "Oh, liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!" Se se fizesse hoje o balanço dos crimes e dos males que ocorrem, ver-se-ia que muito mais numerosas são as pessoas responsáveis por uma bondade sentimental do que as responsáveis por maldade diabólica.

Homens "bons", contemplai o mundo de hoje com suas ruínas e suas misérias: tudo isto em grande parte é obra vossa. Não soubestes ser bons como Cristo, que tanto sabia curar quanto ferir com o azorrague os vendilhões. Fechastes criminosamente os olhos às perfeições da Justiça divina. Regozijai-vos com o fruto desta apostasia mas, pelo amor de Deus, não digais que é por vossa palavra desbotada e mole que se pode anunciar ao mundo a verdadeira caridade de Cristo, a verdadeira doutrina de Sua Igreja.

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O Sr. Hori, porta-voz do Ministério do Exterior do Japão, fez declarações segundo as quais continuam inalteradas as relações entre o Império nipônico e a Rússia, acrescentando em seguida, textualmente, que "se a Rússia participar da coalisão contra os países signatários do pacto anti-komintern, nossas relações com ela serão bem diferentes".

Curioso! Há um pacto anti-komintern, e o único país que não se filiou claramente à coalisão das potências signatárias de tal pacto é a própria Rússia!

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Certo jornal desta capital publicou na seção de "a pedidos", um oportuníssimo artigo contra as manobras da quinta-coluna no Brasil. Com muita perspicácia acentuou o autor de tal artigo que os elementos filiados à quinta-coluna procuram, agora, aderir precipitadamente à política seguida pelos países americanos, com o propósito deliberado de, assim vacinadas contra qualquer suspeita, mais facilmente poderem sabotar a política que tenha sentido efetivamente antitotalitária.

Devemos, pois, ter nossa atenção vigilante contra tais manobras, mostrando sempre e sempre com clareza que não são os "convertidos" de ontem e de hoje que nos merecem confiança, quando ainda ontem eram partidários militantes e ostensivos do “eixo”.


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