Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 5 de dezembro de 1943, N. 591, pag. 1 e 2

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José María Gil-Robles (1898-1980)

O "Diário da Noite" publicou, na semana passada, uma reportagem intitulada "Gil Robles, o católico", a respeito da qual não podemos deixar de fazer alguns reparos.

É absolutamente certo tudo quanto ali se lê a respeito da inteligência, cultura, destreza política do famoso líder de uma das mais influentes correntes católicas da Espanha. Mas há dois pontos que o autor da reportagem deixa obscuros, e a respeito dos quais há uma palavra a dizer.

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Antes de tudo, não é certo que Gil Robles seja o responsável pela situação atual da Espanha, por não haver promovido a tempo contra o governo das esquerdas, a revolução necessária, que por fim, com muito mais custo de sangue e de dinheiro, o general Franco acabou por fazer.

É cedo para que muita coisa se divulgue a respeito deste ponto, um dos mais delicados e enigmáticos da história da Espanha contemporânea. Temos, entretanto, elementos para afirmar que, se Gil Robles não deflagrou a revolução foi porque muitos dos elementos que anteriormente se levantaram ao lado do atual "caudillo" a tal se recusaram. E... o mais curioso é que precisamente estes elementos acusaram depois Gil Robles de pusilânime, de tímido, e até de covarde.

É o que nos consta por via segura, e a bem da verdade devemos afirmar.

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Outra questão que precisa inteiramente ser esclarecida é a posição de Gil Robles perante as chamadas "direitas". Não houve, na política europeia de antes desta guerra, palavra de que mais se abusasse. Na terminologia parlamentar a expressão "direita" servia para designar os deputados reacionários de vários matizes legitimistas, orleanistas, bonapartistas, republicanos conservadores, na França por exemplo, que, em todos os Parlamentos europeus, costumavam sentar-se nas bancadas à direita da mesa da presidência.

Como se vê, o simples fato de haver direitas de vários matizes indica a possibilidade de se distinguir entre extrema direita, centro-direita, direita-esquerda etc. E, em última análise, como o pensamento reacionário em sua genuína pureza é um só, equivale isto a dizer que havia, ao lado da extrema-direita (legitimistas franceses, carlistas espanhóis, miguelistas portugueses, etc.) partidários da monarquia cristã do "ancien régime", correntes que faziam às idéias revolucionárias concessões maiores ou menores, procurando salvar um número maior ou menor de elementos da antiga estrutura político-social.

Ao lado da direita 100 por cento havia, pois, as semi-direitas, ligas mais ou menos ecléticas de espírito conservador e de espírito liberal ou revolucionário.

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De qualquer forma, sob algum ponto de vista, ou por algum título, a vitória de qualquer das correntes da direita significaria um retardamento no processo de corrupção das instituições que restam no mundo anterior a 1789.

Gil Robles chefiou, na Espanha, uma coligação de todas estas direitas, inclusive uma forte organização católica dentro do espírito da Rerum Novarum, coligação esta que formava uma frente única contra os comunistas. E estava no seu papel. O importante era precisamente abater o perigo imediato, que era a "poussé" [a investida, n.d.c.] comunista.

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Mas, na direita espanhola, como na alemã, ou na francesa, insinuou-se um cavalo de Tróia. Foi o falangismo. O falangismo, as "Croix de Feux", o nazismo são, como todos sabem, organizações que irradiam de um mesmo centro internacional, e que se destinam a impor formas semi-comunistas de governo, que veio a ser, na Alemanha, o III Reich. Nada de mais diferente de uma direita... às direitas, do que este tipo de organização totalitária.

Os falangistas, como os rexistas, mosleystas, nazistas etc., vociferaram, bramiam contra o comunismo. A este título, tiveram o apoio das "direitas". Mas no fundo, o que eles fizeram, sempre que tiveram o poder nas mãos, foi socialismo avançado e genuíno, ou seja, comunismo em estado de diluição cada vez mais concentrada.

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Quase todas as direitas europeias se iludiram, e aceitavam a cavilosa cooperação. As direitas espanholas - excepção feita dos valentes requetés de Navarra - também. E, a este título, entre as várias correntes lideradas sob a direção do Gil Robles, havia também nazistas espanhóis. Mas eram minoria insignificante e obscura. E Gil Robles, ou sua corrente, pessoalmente nunca foram nazistas nem totalitários de qualquer matiz.

É bom que isto se fixe com clareza. Porque Gil Robles não é e não deve ser um homem queimado.

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Nota: Para se ler o artigo em que Hitler é comparado a Átila, no qual o Prof. Plinio afirma que "...Átila continuará a viver nas escolas onde se fizer a apologia da força, nos laboratórios onde se aconselhar a esterilização e se matarem os nascituros...", clicar aqui.


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