Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 19 de dezembro de 1943, N. 593

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Segundo informação que nos chegam de Pernambuco, anda acesa a luta entre o Diretório do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito daquela capital e o escritor Gilberto Freire. A contenda se desenvolve em torno do tema de interesse relevante, mas de caráter estritamente temporal. O Sr. Gilberto Freire, em violenta diatribe contra a Faculdade de Direito, seu corpo docente, seus alunos, sustentou recentemente que aquela ilustre Casa de Ensino superior está morta. A mocidade acadêmica revidou em vibrante e bem articulado manifesto que temos sob nossa mesa de trabalho.

Em apoio de Gilberto Freire saiu a campo o escritor José Lins do Rego, e também recebeu dos estudantes uma réplica espirituosa e concludente, divulgada através da imprensa diária. É um desagravo vivo e inteligente, dos brios conspurcados da Faculdade do Recife.

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O “Legionário” costuma abster-se rigorosamente de questões estritamente temporais, por mais justas e nobres que sejam, aliás, as causas nelas envolvidas. Queremos estar ao serviço exclusivo e cabal da Religião, e por isto deixamos a outros o encargo de sustentarem nos demais campos o bom combate. Entretanto, onde quer que os interesses da Igreja estejam afetados, e por mais remoto que seja o nexo do assunto em foco com o Catolicismo, o “Legionário” intervém claramente, decididamente, abertamente.

Ora, o incidente entre o Sr. Gilberto Freire e a Faculdade de Direito do Recife, se abriu enquanto continua a longa e brilhante luta que a intelectualidade sadia de Pernambuco vem travando contra aquele escritor bolchevizante - os estudantes lembram, até, em seu manifesto, que Gilberto Freire esteve fichado sob N.º 23.175 na polícia - e como tal, não pode deixar de merecer toda a nossa atenção.

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As obras de Gilberto Freire e dos escritores que em torno dele formam como que uma corrente, tem sido fartamente elogiados de norte a sul do país. É curioso ver-se como, por vezes, esses elogios vem de setores ideológicos que deveriam ser os primeiros a dar o brado de alarme contra as doutrinas que por vezes se insinuam em seus livros. A propaganda é, sem dúvida, uma grande arte, que tem alguma de suas melhores possibilidades de êxito na incúria e ingenuidade, não só do público, como de muitos “figurões” que, aliás, por vezes a própria propaganda fabricou.

De qualquer forma, dado que toda orientação social do Sr. Gilberto Freire está em franco desacordo com a doutrina católica e, portanto, com as verdadeiras tradições nacionais, merece franco apoio a reação que lhe tem sido oposta pela intelectualidade pernambucana.

Nesta ordem de idéias, pode-se compreender facilmente a indignação que há muito vem, nos bancos acadêmicos, presenciando com desagrado a ação do conhecido escritor, ao ver que ele investiu de modo tão insólito contra a Faculdade de Direito de seu Estado. Como era natural a indignação foi unânime entre os estudantes. E daí a violenta reação com que acolheram sua atitude.

Em tudo isto, tem os estudantes a simpatia e o aplauso de todo o Brasil verdadeiramente brasileiro.

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Neste sentido, poderá parecer estranho a alguns leitores que o “Legionário” continue a combater tão intransigentemente o comunismo, precisamente quando este inflige ao nazismo – que declaramos muitas vezes ser o inimigo n° 1 da humanidade – as mais auspiciosas e promissoras derrotas.

Não haverá contradição em nos rejubilarmos clara e positivamente com suas vitórias na Europa – e de fato nos rejubilamos – e ao mesmo tempo em atacarmos com tanta veemência o pensamento comunista quando reponta em outros lugares?

Nenhuma, se atentarmos ao que o “Legionário” sempre sustentou. O nazismo é o maior dos males. Nem por isto o comunismo – mal menor porque mais combatido, mais odiado, menos hipócrita – deixa de ser também um mal mortal. Estimando no dia de hoje, como o estimamos, tudo que ponha Hitler por terra, já pensamos no dia de amanhã. E nesse dia de amanhã quem terá de cair por terra será o comunismo. O comunismo precisa, depois desta guerra, ser combatido, perseguido, derrotado, riscado da face da terra. Isto é indiscutibilíssimo para católicos. E, assim, compreende-se a atitude de vigilância rigorosa que assumimos em relação a qualquer surto comunista ou socialista que se pronuncie entre nós.

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É o que expressou em termos muito felizes o Sr. Etelvino Lins, secretário de Segurança Pública do Estado de Pernambuco, em recente discurso. Disse S. Ex.a: “Uma coisa é a vitória das Nações Unidas em que nos achamos firmemente empenhados, é o desejo que alimentamos de que o povo russo expulse de seu solo o invasor alemão, e outra coisa é o desejo que alimentam certos grupos de que os exércitos russos forcem as paredes da Europa para a implantação do regime soviético”. As paredes da Europa, pela agressão brutal e direta. A América e o resto do mundo, pela campanha subrepticiamente movida pela “extinta” III Internacional.


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