Plinio Corrêa de Oliveira

 

Cultura Católica

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Legionário, 20 de janeiro de 1935, N. 163

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Inicia-se muito bem o ano cultural católico nesta capital: no C.E.A.S. (Centro de Estudos e Ação Social), organização feminina da Ação Católica, está se realizando um curso de formação social e moral, professado pelos melhores elementos de nosso meio pensante; para os moços, o Mons. Dr. Henrique Magalhães, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, fará na próxima semana três conferências na Igreja de Santa Cecília, a convite da Congregação Mariana dessa Paróquia. Grande entusiasmo portanto pela cultura católica entre a nossa mocidade de ambos os sexos, movimento inédito no Brasil para a procura de uma base de real valor moral onde se assente solidamente o verdadeiro espírito novo reedificador de nossa sociedade e de nossa Pátria.

Revela a necessidade que sente a mocidade brasileira de uma doutrina e de uma diretriz puramente espirituais que a elevem, afastando-a do terra-terra de todos os dias, da aridez da concepção materialista da vida. E é interessante notar-se que, enquanto os moços se afastam dessa concepção, aspirando a horizontes mais externos e mais altos, mestres há que a ela se entregam totalmente, anunciando-a e propagando-a como a única esperança do Brasil. Veja-se o discurso de Fernando de Azevedo, ao encerrar os cursos do Instituto de Educação da Universidade de São Paulo, a 4 do corrente, encarecendo que a Universidade deve manter-se “distante de todos os preconceitos e de todas as superstições” (sic) e mais uma vez estabelecendo a confusão entre o Naturalismo e a Ciência, ao endeusar esta última, como a única que pode dar ao homem “o sentido da solidariedade moral”, como a única que pode estabelecer os mais puros sentimentos sociais.

Os que assim pensam, porém, passarão, como hão de passar as doutrinas simplesmente humanas a que se filiam. E nesta “civilização em mudança”, a que o mesmo Fernando de Azevedo se refere, só os verdadeiros valores serão capazes de resistir à “rápida sucessão de situações novas”, à “profunda revisão de valores sociais”, à “ebulição intelectual, feita de todos os fermentos filosóficos, literários e científicos”. Esses valores só se encontram no Catolicismo Romano. É por isso que este sobrenada ao naufrágio de todas as doutrinas, e que, farol sempre iluminado, acolhe todos os náufragos que não se entregam ao desespero e procuram a salvação. Só a concepção cristã da vida possibilitará o renascer do mundo; e na verdade para ela se dirigem todos os que sinceramente desejam que a justiça e a paz reinem no universo.

Verificando, pois, que não é na “ciência”, como a concebe o naturalismo, mas na moralidade, na vida espiritual intensa, que se há de encontrar o bem-estar da humanidade, a nossa juventude procura as fontes de onde brotam as palavras de vida eterna. Daí a volta ao Catolicismo nas organizações da mocidade católica, daí o florescer da intelectualidade cristã alimentada em São Tomás e nos clássicos do Cristianismo, daí o novo misticismo católico no renascer da liturgia tradicional. De tudo isso é também um fruto o curso do C.E.A.S. e a série de conferências de Mons. Dr. Henrique Magalhães. É a mocidade que afirma o seu Catolicismo e que se prepara para o projetar no seio da sociedade, escudada em seu valor e fiel ao seu ideal.


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