Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Comentando...
 
Profecia

 

 

 

 

 

 

 

 

O Legionário, 8 de dezembro de 1935, n. 186, pag. 3

  Bookmark and Share

 

Desejaríamos, para bem da Imprensa Católica, que todos lessem as palavras que, a propósito do artigo publicado em nosso último número sobre “As atividades comunistas no Brasil”, escreveu o Sr. Júlio Rodrigues, cronista religioso do “Estado de São Paulo” (vide abaixo).

Sabemos perfeitamente que há muita bondade para conosco nas palavras do decano dos jornalistas católicos de São Paulo, mas, por mais modestos que quiséssemos ser, não poderíamos negar a realidade do fato que o Sr. Júlio Rodrigues põe em relevo. No mesmo dia em que estourava em Natal o movimento comunista nós, sem estarmos informados — o que era praticamente impossível — da sua deflagração, denunciávamos os preparativos da ANL para entregar o Brasil à Rússia.

Não temos o dom da profecia, como diz o Sr. J. R., lembrando que “ninguém é profeta em sua terra” (cf. Jo 4, 44, n.d.c.). No entanto, nossa previsão, ou nosso palpite, foi certo. Não possuímos nenhum aparelho como o idealizado por Monteiro Lobato para desvendar o futuro, mas, se é certo que a publicação do artigo que o Sr. Júlio Rodrigues comentou, na mesma data do estouro bolchevista, foi mera coincidência, não é menos certo que qualquer pessoa de mediano bom senso, que não tivesse a venda do partidarismo ou do preconceito nos olhos, observando os fatos como nós, cuidadosa e escrupulosamente, seria obrigada também a profetizar os acontecimentos.

Oxalá que as considerações oportunas do Sr. Júlio Rodrigues sobre os esforços dos jornalistas católicos calem e calem profundamente no espírito daqueles católicos que, se não nos desdenham, pelo menos olham-nos com o desinteresse com que, infelizmente, ainda se olha aqui no Brasil a Boa Imprensa.


O Estado de S. Paulo, 27 de novembro de 1935, pag. 10

As atividades comunistas no Brasil

Sob esta epígrafe, “O Legionário”, o bem feito quinzenário católico, editado nesta capital pela Congregação Mariana de Santa Cecília, em seu número de 24 do corrente mês, escreveu um editorial profundamente meditado sobre o momento atual. Órgão quinzenal, o seu editorial foi escrito e composto bem antes que irrompesse, em Estados do Norte, a grave situação com que hoje se defrontam os poderes públicos.

É bem difícil que alguém possa ser profeta em sua própria pátria. Desta vez, porém, coube ao jornal católico da mocidade mariana de São Paulo profetizar, com apenas dias de intervalo, a gravidade do momento que o Brasil está atravessando.

Sirva isto de lição para toda a gente que tem por hábito não ler, fazer de conta que não existe imprensa católica que lhes mereça qualquer atenção. Jornais de gente que reza, de gente igrejeira, deixai-os lá com sua religiosidade que é um ato doentio que inspira piedade, gente pobre de espírito, para a qual ficou reservado o reino dos céus.

Leiamos os jornais leigos, políticos ou noticiosos, ou aqueles onde pululam os casos sensacionais e os relatos de crimes, as notas de escândalo e os fatos dessa desordem social que por aí lavra, tudo isto para que a gente se divirta e deixe que o mundo vá girando no espaço e que cada coisa venha a seu tempo, pois que, afinal o que tem de acontecer há de mesmo suceder.

Nesta hora, mirem-se neste espelho, que vamos aqui estender aos olhos dos desatentos para as coisas sérias que envolvem os destinos do Brasil, que fabricaram numa hora de inspiração, os redatores de um modesto quinzenário da mocidade católica de São Paulo.

Não vamos transcrever todo o editorial de “O Legionário” que se divide por sete epígrafes: “A Ação bolchevista pela Imprensa”; “Agitação Permanente”, “Greves e Complots”; “A Tática de Dividir para Dominar”; “Infiltração dos Meios Estudantis”; “Na Alta Burguesia e nas Rodas Intelectuais”; “Inércia Governamental”, e “Cumplicidade das Oposições”. Todos estes tópicos do editorial de “O Legionário” acentuam os crimes que se tem vindo a cometer impunemente e sob o olhar indiferente dos que têm por dever zelar pela segurança da ordem pública, pela paz social e pela necessidade de tranquilidade para o trabalho fecundo do povo, e ainda pela estabilidade das instituições básicas da nacionalidade: a organização social sob a égide da nossa Constituição, a qual repousa sobre o respeito às autoridades e à lei, a santidade da família e nos ensinos e na prática da tradicional fé católica de nossa gente.

Queremos, apenas, aqui transcrever os dois últimos tópicos deste editorial nos quais estão perfeitamente estereotipados os dois mais poderosos fatores dessa grave desordem que acaba de explodir em Estados do Norte, com reflexos bastante expressivos além e até na própria capital do país. Ainda bem que agora a imprensa católica falou na hora propícia, porque os fatos, imediatamente, na própria data da edição do jornal, confirmaram suas palavras, mediando apenas alguns dias entre a data em que aquelas foram escritas e aquela em que estes se consumavam. Oxalá a lição aproveite e, daqui em diante, melhor atentem no que se escreve na imprensa católica os responsáveis pela coisa pública, os homens que têm o que perder nas desordens, os que têm família e os que vivem do trabalho penoso de cada dia, que todos detestam as agitações e os desvarios de ideólogos e dos partidos políticos.

Assim concluiu “O Legionário” o seu importante editorial:

Inércia governamental - E é triste que os nossos homens de governo tenham renunciado à luta preferindo ocupar-se com nulas discussões pessoais, enquanto o inimigo cresce e domina. E é incompreensível que mesmo diretamente atingidos não tenham tido um gesto de reação, como quando em Marilha os comunistas cortaram a luz, no momento em que se realizava o banquete ao Sr. governador do Estado. É incompreensível porque o governo sabe que sua ação nesse sentido mereceria o apoio imediato de toda a população do país. Mas, além do fechamento da A.N.L., medida incompleta pois seus órgãos de publicidade não foram suspensos, nem seus chefes detidos, nada mais foi feito.

“O Brasil deverá esperar o momento em que eles tentem realizar o que, em todos os muros da cidade, as inscrições a carvão anunciam para breve: “Todo poder à A.N.L.”?

“Cumplicidade da oposição - É o que parece, pois se o Governo não toma medidas que de fato impeçam a A.N.L. - ou que outro nome tenha hoje - de continuar sua nefasta obra, a oposição, em sua maioria composta de representantes de partidos conservadores, se acumpliciam com o extremismo comunista, fazendo pura demagogia, unindo-se aos comunistas declarados ou não, desde que veja nisso os seus pequeninos interesse de oposição que quer ser governo...”

Após a transcrição, os nossos comentários:

Acreditamos que em todo o Brasil, nesta hora, não haverá um só cidadão em perfeito equilíbrio mental que não reconheça que os únicos culpados pela precária situação que estão atravessando as instituições nacionais, são a fraqueza dos poderes públicos, diante dos evidentes e até ruidosos sinais precursores dos lamentáveis acontecimentos do nordeste, e a cumplicidade das oposições com os elementos agitadores, quando não lhes dando mão forte a eles fornecendo fartamente o ambiente propício para a realização de seus desígnios, na sua insana ansiedade de destruir o adversário no poder, bem esquecidos de que, sobre a desordem, ainda nenhum partido conseguiu fazer a felicidade do povo. A nosso ver, as oposições de há muito deviam ter dito aos que estão no governo que seu primeiro dever é o de defender o regime contra todos aqueles que o querem destruir, seja pela força, seja pela astúcia. Mas as oposições, infelizmente, entre nós apenas procuram catar popularidade a todo preço e criar a animadversão das massas ignaras para os que têm a responsabilidade dos governos, na União e nos Estados. Quando essas massas observam a obra dissolvente das oposições, as lutas estéreis e mesquinhas em que se engolfam, não há que admirar que pretendam destruir, de vez, aquilo que os políticos, com suas pesadas responsabilidades no regime, achincalham e arrastam pela rua das amarguras.

Felizmente, entre católicos, as paixões partidárias não medram e eles podem sentir-se bem para apreciar, com justiça, os erros tanto dos que estão no poder como dos que a ele aspiram, porque, desse modo, podem eles ter bem vivo diante de si o Brasil, este esquecido dos que se digladiam no terreno das ambições, da baixa politicagem que tudo destrói sem nada construir.

Não temos autoridade para aqui falar em nome dos católicos; mas podemos dizer coerentes com tudo o que por esta coluna temos escrito sobre as desordens sociais, de que o mundo todo parece estar contaminado, que entre nós chegou a hora de se saber, definitivamente, se o Brasil vai caminhar sob a égide das suas leis, de sua Constituição, ou sob as rajadas de desordens.

Não temos nenhuma dúvida em afirmar que os católicos de todo o Brasil, cerrarão fileiras compactas para defender o poder público contra as investidas de toda e qualquer ideologia que queira substituir as instituições vigentes.

Todos os católicos desejam que a situação se defina de vez, que o governo e os poderes constituídos cumpram com o seu dever, energicamente agindo contra a onda de demagogia que acaba de irromper quartéis, entre aqueles que a nação sustenta para segurança das instituições políticas que eles mesmos juraram defender e manter em ato soleníssimo. Soldados e ao mesmo tempo comunistas é absurdo que brada aos céus, mas uma vez constatado, está a exigir repressão à altura da agressão à sociedade que os armou para sua defesa e das instituições nacionais.

Se o movimento, que explodiu no Nordeste, tivesse caráter popular ainda se compreenderiam branduras na repressão. Se acaso fossem massas operárias ou agrárias, seduzidas por ideologias, por ideólogos de arribação que promovessem as desordens, os meios suasórios, a tolerância e a equidade teriam cabimento. Mas, sublevações com caráter comunista nas casernas e apoiadas nas próprias armas que a nação lhes confiou para sua defesa, é daquelas coisas que exigem mão forte ou então que o governo bata logo em retirada e confesse sua inutilidade e proclame a falência do regime. Deste dilema não há escapatória possível. – Julio Rodrigues. (Nota: os negritos são deste site www.pliniocorreadeoliveira.info).