Plinio Corrêa de Oliveira

 

Patriotismo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 10 de maio de 1936, N. 197

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O Brasil é um país de imigração. Cada imigrante que aqui aporta é um reservatório de forças humanas que, posto em contato com nossos recursos naturais, ainda inexplorados, será necessariamente um gerador de prosperidade. O xenofobismo é, pois, no Brasil uma tolice. Nosso interesse não consiste em professarmos um nacionalismo agressivo, revestido de arame farpado. Pelo contrário, devemos timbrar em receber o estrangeiro com uma hospitalidade largamente afável, que o envolva imediatamente de carinho por todos os lados, e que contribua para lhe minorar as saudades da Pátria distante.

Proporcionando ao imigrante esse ambiente de simpatia e confiança, teremos dado o primeiro passo para assimilá-lo ao nosso ambiente, criando para ele a obrigação moral de, em retribuição ao afeto aqui recebido, dispensar ao Brasil um amor igual ao que tributa ao seu torrão natal. O filho de um imigrante imbuído dessa mentalidade já não será um "filho de estrangeiro", no sentido um pouco xenófobo com que alguns usam essa expressão, mas um brasileiro convicto e dedicado, capaz de fazer pelo Brasil os maiores sacrifícios, e merecedor da mais absoluta confiança de seus patrícios brasileiros.

É essa a política inteligente e cristã que nosso povo e nossas autoridades vêm observando desde os primórdios do movimento imigratório em nosso País. Política ditada muito mais pelo coração do que pelo cálculo dos interesses nacionais, ela deu, no entanto, excelentes resultados. Disto é a maior prova o nosso São Paulo, em que estrangeiros e brasileiros, à porfia, celebram a cordialidade de sentimentos que une a todos os habitantes do Estado, seja qual for a sua nacionalidade.

No entanto, algumas potências dominadas atualmente por correntes políticas imperialistas vêm inaugurando entre nós uma política profundamente perturbadora dos nossos métodos de assimilação dos imigrantes.

Organizando suas colônias, empenhando-se em criar laços de solidariedade econômica e afetiva entre todos os filhos da mesma Pátria distante, fazendo vibrar em manifestações nacionalistas (no sentido não brasileiro da palavra) os estrangeiros aqui residentes, tais países prejudicam a obra da assimilação de estrangeiros no Brasil.

Não tenhamos a este respeito quaisquer ilusões. As recentíssimas manifestações fascistas, e especialissimamente as manifestações hitleristas aqui realizadas no Clube Germânia têm um significado profundamente antinacionalista (agora, no sentido brasileiro da palavra). Mantendo as suas diversas colônias ligadas sempre à Mãe Pátria, os consulados de certas potências tendem a transformar os seus patrícios residentes no Brasil não mais em fecundas sementes de prosperidade, destinadas a se entranharem no nosso solo, nele se radicarem e produzirem frutos no Brasil e para o Brasil; mas em verdadeiros quistos inassimiláveis pelo sentimento de brasilidade dos nacionais.

Citei a Itália e a Alemanha, pois que têm sido os dois Países que mais se têm destacado nessa atuação antinacional. E menciono tais países à vontade, porque sou um ardente admirador de ambos.

A Itália! O que significa esse país para um coração ardentemente católico e latino como o de quem escreve estas linhas! A Itália é a glória da civilização presente e uma fortíssima coluna da Igreja. É o escrínio no qual a Providência quis colocar o maior tesouro espiritual, moral, político, social e artístico que há no mundo: o Papa e o Vaticano. Seria impossível que, nestas linhas de simples e justa reivindicação brasileira, se misturasse qualquer coisa de anti-italiano.

Quanto à Alemanha, é quase uma velha amiga para mim. Desde menino, estou em contato com ela. Já nos primeiros anos de minha vida, andei por lá. Mais tarde, tive constantemente uma educadora alemã, que me deu a conhecer as grandes qualidades do seu povo. E essas qualidades geraram em mim uma admiração indelével. Nunca estaria em meus propósitos dizer, por mais leve que fosse, algo de hostil à Alemanha, à qual devo uma parte importante de minha formação intelectual e moral.

E para provar que é apenas um sentimento de patriotismo que me move, e não um estúpido sentimento anti-italiano ou anti-germânico, vou terminar apontando outro exemplo. E este será relativo a um outro admirável país, o Japão.

Conhecem todos o que é o Curso de Preparação de Oficiais da Reserva. Passam por ele todos os nossos universitários, que se habilitam a ser oficiais na eventualidade de uma guerra. Há dias encontrei-me, na rua, com um rapaz japonês (só de raça, evidentemente), que envergava um galhardo uniforme do C.P.O.R. E, involuntariamente, pus-me a pensar. Se aquele rapaz, que não conheço, tiver sentimentos brasileiros, ele porá no serviço de nossa Pátria suas qualidades nativas de japonês. Será, portanto, um verdadeiro presente do Japão ao Exército Brasileiro. Mas... e se ele tiver ligações econômicas e afetivas com o Consulado japonês? Quem, de boa-fé, é capaz de me garantir que ele não constituirá para nós um perigo?

Reflitam nossos leitores, e vejam se não estamos com a razão.

Temos dado aos estrangeiros um tal acolhimento, que inútil se torna para eles - e insultuosa para nós - certa atividade irrequieta de alguns cônsules.


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