Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Arcaísmos de um “positivista”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 9 de maio de 1937, N. 243, pag. 2

 

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O sr. José Feliciano, que é um dos remanescentes do positivismo indígena, e que talvez por falta de ambiente nestes Brasis, resolveu morar na pátria de Augusto Comte [1798-1857, filósofo francês que formulou a doutrina do Positivismo], escreve em recente artigo para o “Estado de S. Paulo”:

“Acabei ontem meu curso de “Sociocracia positiva”... Lamentei não ter no auditório um padre Católico ou um de nossos clericalistas retardados, os que puxam na junta do coice, para atrasar aí o que houve outrora de tentativa sociocrática... Aqui, nos admiráveis, eloquentes sermões da quaresma, poderosos oradores atroam as naves das igrejas, em plena, amplíssima Notre Dame, com apóstrofes candentes contra o egoísmo feroz dos industriais, dos ricos. Mas não dizem qual a organização do capital e do trabalho que aconselham para melhorar esta incendiante situação do mundo. Não será — disse eu ao meu auditório — o bíblico, primeiro comunismo — que se levantou outrora contra o patriciado romano, e que provocou as perseguições, a defesa natural do estado político de Roma. Não será mais — espero — a resignação paciente, na expectativa de uma egoísta salvação pessoal, em bem-aventurança eterna”.

Tudo isto e mais alguma coisa disse o “positivista” sr. José Feliciano. A transcrição é suficiente:

a) É curiosa sua lamentação sobre a ausência de um Padre católico no auditório de seu curso de “Sociocracia”. Mas, na verdade, o sr. José Feliciano, tão “positivista”, não compreende que os sacerdotes católicos têm coisas “positivas” e reais a fazerem pelo bem da “humanidade” e não podem estar a perder o tempo?

b) Muito devemos agradecer ao ilustre professor o epíteto amável de “clericalistas retardados”! Ele só nos honra mesmo porque toda a nossa glória está em sermos “clericais”. Pelo menos uma vez o sr. José Feliciano foi “positivo” no ver as coisas.

c) O sr. José Feliciano desconhece qual “a organização do capital e do trabalho que a Igreja aconselha...” Mais uma falha no seu “positivismo”. S. Excia. não conhece então as Encíclicas, não conhece as centenas de volumes sobre organização social católica, e mais ainda, ignora que a Igreja não apenas aconselha, mas faz. Tudo isto o sr. José Feliciano ignora. É lamentável que um “positivista” não veja coisas tão evidentes!

d) Depois “supõe que não seja o primitivo comunismo bíblico que se levantou outrora contra o patriciado romano e que provocou as perseguições, a defesa natural do estado político de Roma“. Aquela insinuação de um pretenso comunismo católico seria infame se partisse de outrem, mas do sr. Feliciano é apenas uma ingenuidade, mesmo porque o ilustre “positivista”, acha muito justas as perseguições romanas: isto é apenas um desejo de emparelhar-se com Nero!...

e) Acha também que ninguém espera mais uma “egoísta salvação”. Nisso se engana o sr. Feliciano. Todos os católicos vivem para salvarem suas almas não “egoisticamente” como o sr. Professor, que esperava um sacerdote católico para lhe “salvar” o curso, mas humildemente confiados na misericórdia de Deus. E quanto mais católicos houver mais depressa se solucionará a crise mundial.


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