Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Extinguir o carnaval, medida necessária

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 27 de fevereiro de 1938, N. 285, pag. 2

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Começa hoje o Carnaval, festa que é apontada aqui e propagada no exterior como genuinamente brasileira. Há, porém, um grande engano nessa afirmação e mais do que um engano, uma ofensa ao Brasil e aos brasileiros. O que há em relação ao Carnaval é apenas uma grande timidez das autoridades, que não tiveram até agora coragem suficiente para extinguir uma suposta festividade popular, que é explorada economicamente por muitos e que é desejada por outros tantos, como um momento propício para darem expansão aos seus instintos depravados e perversos.

É do conhecimento de todos a publicação de diversos comunicados do Serviço de Estatística Policial, dando avisos e conselhos sobre coisas carnavalescas. Quais os temas desses comunicados? Embriaguez, aspiração de éter, atentados à moral. São fatos frequentes no Carnaval e que é preciso evitar. Além disso, comentamos em nosso último número a determinação do Comando Geral da Força Pública Mineira proibindo aos seus subordinados o comparecimento às festas carnavalescas, nas quais só tomam parte “indivíduos vulgares”. Sendo os militares, indivíduos distintos, a eles não fica bem a presença na folia carnavalesca. Mas, serão só eles os únicos “indivíduos distintos” de todo o Brasil?

Finalmente, a portaria do Chefe de Polícia do Rio de Janeiro, capitão Filinto Müller. Entre outras determinações dadas às autoridades, destacamos as que seguem:

“... 2º.) Proteger as famílias e quaisquer pessoas contra vexames e abusos possíveis no momento, mantendo assim, o decoro dos costumes ... etc.

“... 9º.) Não permitir o uso de fantasias atentatórias à moral, quer nos bailes, quer nos corsos e na via pública... etc.

“... 11º.) Deter as pessoas indecentemente trajadas ou visivelmente alcoolizadas e afastar do meio da multidão os desordeiros conhecidos.

“... 12º.) Não permitir que carnavalescos isolados ou em grupos, entoem cânticos ofensivos à moral... etc.

“... 13º.) Impedir qualquer desrespeito às famílias por meio de pilhérias ofensivas ... etc.

“... 14º.) Não permitir que indivíduos fantasiados ou não, ofendam a moral pública, por meio de gestos, palavras ou qualquer outro modo.”

Além dessas, outras determinações sobre pontos concretos, referentes a graves atentados contra a moral, constam da portaria do Chefe da Polícia do Rio de Janeiro.

Diante disso temos nós o direito de perguntar: sendo o carnaval uma festa tão perniciosa, como o reconhecem as próprias autoridades encarregadas de zelar pela boa ordem, pelos bons costumes, pela moral pública, por que ainda se permite e mesmo se favorece a sua realização? Não é uma incoerência manifesta subvencionar uma festa que causa tantos transtornos e que arrasta para tão baixo os que a ela se entregam? O Estado Novo, que possui toda autoridade e em cuja sinceridade de propósitos queremos crer, pretende elevar o Brasil e os brasileiros. Tome então, em sua campanha moralizadora, a iniciativa de extinguir o carnaval a semelhança do que se fez em Portugal. Extingui-lo de uma vez, sem contemporizações; os pervertidos, os homens de sentimentos inferiores se queixarão, mas o governo terá o apoio do verdadeiro Brasil e dos brasileiros de honra e de caráter. E são estes os que lhe valerão em todos os momentos.


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