Plinio Corrêa de Oliveira

 

Polêmica entre o “Osservatore Romano” e jornais fascistas

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 17 de abril de 1938, N. 292, pag. 8

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A propósito do Anschluss (anexação da Áustria pelo nazismo) e do recrudescimento da perseguição religiosa na Alemanha, tem surgido entre o “Osservatore Romano” e a imprensa fascista várias polêmicas.

No “Regime Fascista”, órgão de Roberto Farinacci, membro do grande conselho do partido, apareceu um artigo onde seu autor, pressurosamente, procura defender a atitude italiana em face da anexação da Áustria. E o faz deselegantemente, atacando a política de Schuschnigg e a de seu partido.

Assim é que afirma: “mais vale ter a Itália, em suas fronteiras, uma Alemanha amiga que uma Áustria desleal” e mais adiante: “que era absurdo, como pretendem certos idiotas, querer que a Itália defenda essa parte do povo austríaco, pertencente ao velho clericalismo conservador, jamais esquecido de Vittorio Veneto e subordinado às ordens de Moscou”.

Lastimando o artigo e declarando não poder ficar impassível ante tais ataques, o “Osservatore Romano”, metodicamente destrói e aponta os erros de tal publicação. E contesta a deslealdade da Áustria, ressaltando sua fidelidade como baluarte multissecular da fé e da Religião.

Ademais, esse “velho clericalismo conservador” ora tão criticado, foi não só por esse mesmo jornal como também por toda imprensa fascista, louvado quando adotou o estado corporativo. E quando a Áustria oscilou gravemente na crise resultante do assassínio de Dollfuss, foi esse mesmo partido que combateu as ordens de Berlim, e as ordens de Moscou.

E finalmente o mesmo jornal, nos dias 27, 28 e 29 de julho de 34, reclamou em três artigos violentos, a defesa da independência austríaca, essa mesma independência hoje defendida por “certos idiotas”.

Não param, contudo, aí os ataques à atitude da Igreja pelos órgãos fascistas.

A propósito de um boletim paroquial onde se transcreve trecho da revista “Fides”, a “Folha de Ordem” do partido fascista bolonhês faz os seguintes comentários:

“O dissídio entre o governo alemão e a Igreja é uma questão que não afeta aos italianos como não afetava aos alemães a questão entre a Itália e o Vaticano. É inútil, portanto, contar aos italianos histórias mais ou menos verdadeiras, de perseguições religiosas no vizinho país”.

Ora, afirma o “Osservatore”, se tantos jornais passam em silêncio quando não escusam a atividade nazista no ato religioso, existe o direito e a obrigação da imprensa católica em provar que essas histórias “mais ou menos verdadeiras” são fatos confirmados.

Ademais, se não interessa a luta entre a Igreja e outro Estado aos cidadãos, interessa aos filhos da Igreja a luta que por acaso ela mantenha em qualquer país. Essa alegação do “Boletim Fascista”, encara os homens como alemães ou italianos e não os encara como católicos que são.

Acrescentamos que esse clamor contra os artigos do “Osservatore” e demais órgãos religiosos, demonstra a vontade de fazer calar a voz prudente e forte da Igreja para, talvez, agradar aos ouvidos sensíveis do führer alemão na sua próxima visita (à Itália).


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