Plinio Corrêa de Oliveira

 

A nova catedral de Reims
Símbolo da reconstrução religiosa de dois povos

 

 

 

 

 

“O Legionário”, 24 de julho de 1938, N. 306, pag. 8

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A Catedral de Reims é um dos mais famosos monumentos da França. Sob o ponto de vista artístico, constitui ela uma das expressões mais puras e características do estilo gótico, famosa pelos inestimáveis trabalhos em pedra, que a adornam, pelos seus admiráveis vitrais, e pela elegância de suas proporções. Sob o ponto de vista histórico, a Catedral tem sido teatro de muitos dos mais importantes acontecimentos que assinalam a história francesa, pelo que é um relicário vivo do passado daquele país. A coroação de quase todos os reis de França, no aparato suntuoso das cerimonias medievais da monarquia, desenrolou-se nas naves da velha e gloriosa Catedral.

A guerra de 1914 concorreu para tornar famosa a Catedral. Duramente bombardeado pelas tropas alemães, o velho edifício sofreu estragos incalculáveis, e a França sentiu e chorou os golpes que mutilaram aquele templo, como se fossem golpes que atingissem a própria alma e o coração da França.

Depois da guerra, procedeu-se a um lento e delicado trabalho de reconstituição. A Catedral foi lentamente reparada e reconstruída em algumas de suas partes. E, finalmente, depois de um esforço ingente, ela se apresenta aos olhos de todos, restituída inteiramente à sua primitiva forma.

Mais uma cena histórica se verificou então no recinto da gloriosa Catedral. Um longo cortejo de Cardeais precedidos pelo Legado do Papa (Cardeal Suare), acompanhado de representantes da Inglaterra protestante, encontrou-se no adro da Catedral com o Presidente e membros do Governo da laicíssima República Francesa, numa festa de reconciliação que marca bem uma etapa na História da França e da Inglaterra. Da França, porque a presença do Presidente da República, em caráter oficial, em uma festa religiosa como essa, é um fato inédito no século XX, naquele país. Na Inglaterra, porque é mais um índice do desaparecimento dos rançosíssimos preconceitos com que a antiga “Ilha dos Santos” acolhia todas as coisas que de longe ou de perto representavam o “papismo romano”.

Assim, a primeira solenidade que se celebra na velha Catedral reconstruída ainda é uma solenidade histórica, fazendo esperar e servindo mesmo de indício de uma reconstrução imensamente mais preciosa, que é a reconstrução religiosa da França e da Inglaterra.

 

Vídeo documentário de 18 de outubro de 1937, quando da reconsagração da Catedral de Reims, com a presença do Presidente da República Francesa Albert Lebrun e de representantes da Inglaterra 

Transcrição das palavras do locutor do vídeo-documentário
Le calvaire de la cathédrale de Reims commença dès le début de la guerre, le 4 septembre 1914. Jusqu'en septembre 18, l'artillerie ennemie ne cessa de s'acharner à la destruction systématique de ces pierres vénérables. Au moment de l'armistice, le majestueux édifice était en grande partie effondré. Seul le gros oeuvre, quoique fortement ébranlé, avait résisté au pilonnage des obus, et l'on commença bloc par bloc, motif par motif, la restauration du plus grand sanctuaire de France. Il avait fallu quatre ans pour ravager la cathédrale de Reims, il a fallu vingt ans de soins, de zèle et de travail pour la restaurer. Aujourd'hui, le monde entier célèbre la résurrection de la cathédrale martyre, et de grandes fêtes marquent solennellement sa consécration. Les cardinaux et les évêques arrivent sur le parvis de la cathédrale où une foule immense s'est groupée. Puis le chef de l'État français franchit le grand portail, lequel n'a pas été restauré et témoignera ainsi dans les siècles à venir de la fureur barbare. Dans la grande nef ont pris place autour de son éminence le cardinal Suare, légat du Pape, et du chef de l'État, dix cardinaux, cent évêques et prélats, les chefs des armées amies, les membres des corps diplomatiques et les maréchaux de France. Et pour la première fois, les orgues de la cathédrale, les plus grandes du monde, font entendre leur voix majestueuse qui emplit l'immense vaisseau. Et le soir, la cathédrale resplendissait dans le feu des projecteurs. Notre-Dame de Reims, cathédrale martyre, symbole de la foi et de la volonté pacifique de la France, renaissait de ses cendres.


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