Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Incineração do café

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 31 de julho de 1938, N. 307, pag. 2

 

  Bookmark and Share

 

Segundo comunicados oficiais, foram eliminadas, até 15 do corrente, 62.406.201 sacas de café.

Para que se faça uma ideia do que representa esta cifra, basta que se diga que o Estado de São Paulo, que é o maior produtor de café no mundo, levará, no mínimo, quatro anos para produzir tal quantidade. Quer dizer que quatro anos de labutas, de suores e de expectativas foram lançadas nas fogueiras do D.N.C.

A tal ponto chegou a desnaturação do homem! Antigamente considerava-se uma bênção do céu as safras abundantes. A riqueza e o bem-estar eram funções da fertilidade da terra, da regularidade das chuvas, da ausência de pragas. Hoje a imbecilidade humana conseguiu inverter as coisas. As pragas daninhas são justamente as terras ferazes (de grande força produtiva) e a ausência de secas. Pois não há quem deseje geadas? E não são muitos os que se regozijam com os progressos da broca?

Entretanto como a primeira não vinha, e a propagação do stephanoderes não era tão rápida quanto seria de se desejar, foram acesas as fogueiras para suprir uma e outro. Para os grandes males, grandes remédios. Para a impertinente calamidade da abundância só mesmo o fogo, que tudo consome.

Já se foi o tempo em que se aferia a quantidade da terra pelo Pau d’Alho. Isto é coisa velha. Padrão de terra, atualmente, só Barba de Bode.

Entrementes, queima-se café. Dizem as más línguas que nem tudo é queimado. Assim, afirmam que de 1.100.000 sacas exportadas no mês passado, apenas 400.000 foram negociadas na praça. Afirmam outros caluniadores que, em se confrontando as estatísticas, nota-se uma proliferação inaudita de muitos milhares de sacas de café que nunca se poderiam dizer onde foram produzidas. Ao qμe nós responderíamos, tapando as bocas insolentes, que se trata de café lunar, de superior qualidade: boa torrefação, boa bebida, estilo etc., etc.

Outros maldizentes metidos a matemáticos, argumentam assim: o D.N.C. já arrecadou para muito mais de 1.000.000 de contos, comprou café no valor de 600.000:000$, arredondando a conta, 1.000.000:000$; digamos que tivesse gasto outro milhão na manipulação dos mercados; ainda outro milhão em juros, pessoal, queima do café, etc., etc. tudo isso perfaz 4.000 000:000$, e o D.N.C. já devia estar quite com a dívida. Entretanto, ainda deve mais de 1.000.000:000$.

Embalde respondem os técnicos de escrituração, dizendo que esses cálculos são simplistas, pois que neles não entra x + y. Os acusadores são teimosos, embora nada saibam de x + y.

Nós, porém, acreditamos que tudo corra bem. Pois estamos certos, os responsáveis pela situação sabem perfeitamente que terão de prestar contas a Deus pelo último grão de café confiscado ao lavrador.


Bookmark and Share