Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Papa democrático?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 12 de março de 1939, N. 339, pag. 2

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Certa imprensa anda assoalhando que Pio XII será tão ardoroso defensor da democracia [veja-se mais adiante o sentido que o autor utiliza esta palavra, n.d.c.] como Pio XI. Ora, a verdade é que não houve ninguém menos democrata do que o falecido pontífice, assim como não houve nem haverá nenhum Papa democrático. Tudo isso não passa da mais redonda tolice.

Sabemos que essas afirmações poderão causar alguma estranheza em certas pessoas. A causa é não haver talvez palavra mais equívoca do que democracia. Costuma-se incluir sob este rótulo, “et pour cause” [e não sem razão], uma porção de autênticas e santas virtudes, tais como a caridade, a humildade, a magnanimidade etc. Entretanto, a democracia não é propriamente nenhuma delas, mas consiste formalmente nisso: num igualitarismo horizontal e anti-personalista, fruto do orgulho despeitado, que não admite superior, e que, por isso, quer tudo achincalhar, num nivelamento por baixo.

Este é o princípio subtil e demoníaco, que, muitas vezes, se apresenta sob a espécie daquelas virtudes. Mas esse princípio é por tal forma venenoso, que as próprias virtudes, de que se veste, são por ele desonradas e corrompidas.

Assim, a caridade se transforma numa vaga e suspeita solidariedade, sentimento exterior e egoísta, que só se preocupa com o próximo, porque são inelutáveis as reações no ambiente social. A humildade, o apanágio dos santos, pela qual se reconhecem as imperfeições da criatura e sua subordinação ao Criador, corrompe-se num agarotamento [infantilidade, n.d.c.] indigno, na falta de cortesia e compostura, na grosseria e na valorização orgulhosa de tudo o que é rasteiro e chulo.

O homem fica, pois, reduzido a um mero valor numérico, completamente profanado até no recesso de sua intimidade e de seu coração, despojado de significação pessoal, alienado de si mesmo, exatamente como o comunista de Stalin ou o nazista de Hitler.

Ora, isso tudo é radicalmente contrário à doutrina da Igreja, que afirma o valor incomensurável da pessoa humana, destinada a um enriquecimento espiritual progressivo, destinada a realizar-se em profundidade, numa depuração constante, até atingir a suprema perfeição da visão beatífica, no seio da Santíssima Trindade.


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