Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Legionário, 7 de maio de 1939, N. 347, pag. 2

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O católico deve ser não apenas um súdito disciplinado das autoridades constituídas, mas um colaborador eficiente da obra que os poderes públicos devem empreender pelo bem comum.

Este espírito de colaboração disciplinada é incompatível com os pruridos de oposição sistemática bem como com o hábito pernicioso dos louvores incondicionais a tudo que a administração pública realiza.

Pelo contrário, a colaboração católica com a autoridade deve comportar também a indicação de possíveis faltas a serem sofridas ou remediadas.

Nesse espírito, já tivemos ocasião de elogiar mais um ato do atual interventor, e temos a oferecer hoje algumas observações que se, por um lado acentuam uma deficiência real, dão por outro lado, uma ótima oportunidade ao governo de exercer sua ação moralizadora, em benefício da população.

Nas numerosas manifestações levadas a efeito por ocasião do primeiro aniversário do governo de S. Excia. o Sr. Adhemar de Barros, entre vários outros festejos figurou uma parada esportiva, organizada pelo Departamento de Educação Física do Estado.

Em geral, as paradas esportivas realizadas em nosso século caracterizam-se por um lamentável espírito de despudor, inteiramente condenado. Neste particular, a passeata do Departamento foi prejudicada, quanto o seu significado moral, com a presença de moças vestidas de pequenos calções, sendo de notar que nada havia que exigisse tão exígua indumentária.

Já vemos que se nos vai responder da parte de certos esportistas ultramodernos. Dir-se-á que a vestimenta não passa de um preconceito, e que é perfeitamente possível diminuí-la e até eliminá-la, sem se ter em vista senão a estética e nem um outro sentimento menos delicado. Essa resposta é de uma hipocrisia à toda prova, e não pode ser tomada em consideração pelo atual governo.

O fato é que todos os partidários do nudismo total ou dissimulado são também a favor de uma certa moral elástica, de uma desenvoltura imprópria nas relações sociais, máxime em se tratando de pessoas do sexo feminino. O que eles pretendem, no fundo, é estabelecer uma facilidade vergonhosa, recoberta de falsa inocência.

Cada época tem o seu tabu. O século passado conheceu o do palhaço necessariamente triste e do poeta irrefragavelmente tuberculoso. Hoje, vigora o mais absurdo deles, o da virtude necessariamente hipócrita e do vício leal. Nestes nossos tempos visceralmente mentirosos, reina o mito da lealdade. Chega-se mesmo na apreciação de muito livro ou de muito escândalo social, a afirmar esta supina idiotice: se alguém tornar públicas as mais vergonhosas ações, ainda será chamado leal, e muita gente boa e adiposa irá sentenciar gravemente:

- Sim, fulano não deveria ter feito tal coisa. Mas façamos lhe justiça: foi de uma grande lealdade!

E a (grande lealdade) do sem vergonha irá torná-lo ainda mais considerado.

Infelizmente a esse estado de espírito não foi impermeável o Departamento de Educação Física. Isto na melhor das hipóteses.

Porque não queremos crer que o que se tenha propositalmente em vista seja o achincalhamento moral da juventude, obra comunista e satânica, impossível de existir num país como o nosso, que repudiou oficialmente os comunistas.

De qualquer forma, urge uma solução. Conscientemente ou não, o facto é que o Departamento, com a sua orientação atual, é simplesmente nefasto aos interesses nacionais. E isso não pode continuar.

Dadas as numerosas declarações emanadas das mais altas esferas oficiais, a respeito dos propósitos cristianizadores do Estado Forte, temos o dever de esperar que estas considerações sejam tomadas na devida conta imprimindo-se ao Departamento de Educação Física uma orientação que evite doravante fator tão deplorável, com o que terá conquistado o governo um real e concreto título de benemerência.


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