Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
Máquinas de popularidade

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 14 de maio de 1939, N. 348, pag. 2

  Bookmark and Share

 

Ha já bastante tempo um certo “dr.” José de Albuquerque apareceu em público com uns tais círculos de educação sexual, ou coisa que o valha. O que seria esta educação, quais os seus fins e métodos não são coisas que se possam mencionar num jornal honesto.

O “dr.” José, entretanto, não pareceria pessoa capaz de provocar maiores males, visto ser evidente a sua falta de senso de publicidade. Começou por organizar os círculos à moda dos modernos partidos políticos: camisa, saudação e juramento. Este último, então, era impagável: o circulando tinha de fazer uma pirueta esquisita enquanto pronunciava umas tantas palavras — habilidade rara e difícil. No meio destes círculos reinava o dr. José, espécie de “ducezinho” de tamancos. Como se pode ver, é difícil de se imaginar um amontoado de coisas mais supinamente ridículas.

Pois o homem não foi ridicularizado. É verdade que os círculos não fizeram muita onda, não chegaram, mesmo, a constituir uma remota ameaça à solidez das instituições. Tanto assim, que o Estado Novo nem de leve veio ferir os seus interesses, o contrário do que aconteceu a outros movimentos menos afortunados. Este fracasso, porém, não impediu que a imprensa carioca o poupasse. Muito pelo contrário, os jornais sempre se referiam ao dr. dos círculos como a um grande personagem. Em torno do seu nome sempre se procurou estabelecer uma auréola de respeitabilidade. E se ainda não conquistou a plena popularidade, saindo da meia luz em que se encontra todavia, é porque o dr. José de Albuquerque, positivamente, é uma pessoa desajeitada. Sopro não lhe têm regateado os amigos, para encher o balão da glória.

Mesmo neste instante vemos notícia, proveniente de Lima, em que se nos dá conta das homenagens que se lhe estão prestando no Peru para onde foi como convidado de honra à Jornada Peruana de Eugenia. Até fora do país já se estendeu a rede incensatória, e a própria agência Havas, que transmitiu o telegrama, já se tornou cúmplice. Convenhamos, já é desperdiçar muita cera...

Tudo isto, entretanto, serve para provar que existem certas máquinas que funcionam admiravelmente bem, com o fito de pôr em evidência determinada personagem, para que ela possa realizar uma tarefa determinada. Estas máquinas agem como os arrumadores de manequins, que de um boneco qualquer fazem uma grande dama ou um elegante cavalheiro.

No caso do dr. José, a obra ainda não lhes saiu de feição: ora é a roupa, que não assenta bem; ora, o gesto, que não consegue o necessário primor. Sabemos que a máquina é internacional, pois que atingiu o Peru. Mas qual será a tarefa do manequim, logo que estiver devidamente preparado? — Será realizar a verdadeira finalidade dos círculos de educação sexual: a corrupção da juventude brasileira.


Bookmark and Share