Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Exibicionismo

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 30 de julho de 1939, N. 359, pag. 2

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Não se pode negar, os regimes totalitários trouxeram consigo toda uma mística, cheia de exaltação e de abnegação, uma completa ascese social e individual. Aliás aí está a sua maior depravação. Tudo aquilo que é parecido com o Catolicismo, mas não é idêntico a Catolicismo, é satânico. A mística totalitária é, assim, pior que o liberalismo acomodatício, burguês e comercial. O comunismo, o nazismo e o fascismo, pelo contrário, apresentam para excitar o desejo radical de infinito, que há no homem, o espírito de revolta contra o terra-a-terra, ramerrão [rotineiro, n.d.c.] quotidiano, os prazeres medíocres. Assim, esses ideais abarcam o homem em sua integridade, fazendo com que ele despreze, mesmo, o prazer, para apenas ter em vista a sublimação de todas as suas faculdades, especial de incandescência gloriosa e triunfal, definitiva e magnífica.

Entretanto, qual o objetivo final de toda essa ascética não católica? A grandeza nacional.

Grandeza nacional quer dizer prestígio internacional, reconhecimento, por parte dos outros Estados, da supremacia de um determinado país. Ora, dadas as idéias modernas, esta supremacia é determinada pelo progresso, especialmente pelo progresso material. Assim, a Alemanha, por exemplo, enche-se de autoestradas maravilhosas, enquanto o povo não pode comer manteiga. Isto não deve causar estranheza. Todo o aparelhamento moderno da Alemanha, como dos outros países totalitários, não se destina, em princípio, ao gozo das populações. A ideia de gozo é contrário ao heroísmo, que deve caracterizar o regime. Por isso é natural que o alemão não se alimente bem para que a Alemanha seja altamente civilizada e, assim, impressione bem aos outros. Trata-se, afinal de contas, de “épater” [impressionar, n.d.c.] as demais nações. Progresso para uso externo.

Daí a necessidade inelutável de um Ministério de Propaganda e do turismo. Principalmente o turismo é visceral ao nazismo, porque lhe acarreta as turbas, que se vão piamente embasbacar diante do prodígio de técnica em que o sr. Hitler transformou a Alemanha. Para outras nações o turismo será fonte de renda; para o regime totalitário é consequência doutrinária. O nazismo, e outros que tais, acham-se unidos estreitamente ao palco. Não há gesto, individual ou coletivo, que não seja medido, estudado e calculado para produzir o máximo de emoção à plateia que, no caso, é o mundo.

Se, por um cataclismo, os países extremistas se vissem isolados do resto do planeta, a desgraça seria grande. Acontecer-lhes-ia certamente, o que aconteceu com o alferes do conto de Machado de Assis. Este alferes tinha o maior prazer ao ser admirado em sua farda, pelos circunstantes. Sucedeu-lhe, entretanto, vir a ficar inteiramente só, numa longínqua fazenda desertada pelos escravos, e sem poder daí sair. O homem sentia-se vazio, angustiado, até que teve a ideia salvadora: todos os dias, com a farda de alferes, admirava-se a si mesmo, no reflexo de um espelho, durante algumas horas, o que, talvez, já fosse um início de loucura.


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