Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Casamento e superstição

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 17 de dezembro de 1939, N. 379, pag. 2

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Notícias vindas do Rio informam-nos sobre o número de casamentos lá realizados no dia 8 do corrente, festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, número que foi sensivelmente mais baixo que o normal, e menos da metade do que se verificou em igual data do ano passado. A explicação que se está dando deste fato é que o dia 8 de Dezembro, coincidiu este ano com uma Sexta-feira; tanto seria assim que, para o dia seguinte, estavam marcados duzentos casamentos, aproximadamente. É provável que aqui em São Paulo haja acontecido a mesma coisa, embora. não tenhamos dados concretos.

Isto quer dizer que o medo do “azar”, que os supersticiosos atribuem às Sextas-feiras, afastou muitos casais da grande festa da Imaculada Conceição. Isto prova, também, que muita gente que se casa no dia 8 de Dezembro procura, apenas, um dia de “sorte”, e não as bençãos da Virgem Imaculada. Tal e qual certas devoções a Santo Antônio e a Santo Expedito, que têm por objetivo ganhar no bicho [jogo do bicho: espécie de loteria paralela e ilegal, n.d.c.] ou tirar mau olhado.

Entretanto, é preciso ver mais a fundo. Não se está, somente, diante de uma manifestação supersticiosa. O que há, em última análise, é uma profunda obliteração do significado e da dignidade do matrimônio, proveniente da corrupção do homem moderno, ávido de prazer e inimigo de qualquer responsabilidade. Para muita gente o casamento não é mais do que uma coberta, para tornar decente a explosão brutal das paixões mais baixas. Outros, principalmente as mocinhas, querem-no um romance delicioso.

Vê-se que, em geral, o casamento aparece como uma válvula para a sensualidade mal sopitada. Há, então, certos casais, em que se percebe que o matrimônio não penetrou, mas fica sempre uma coisa exterior e inadaptada à realidade íntima da vida em comum, que é de uma animalidade quase completa.

Perdeu-se a noção de que o casamento é uma vocação social e, por aí, a morte mesma do egoísmo. Quem se casa, de certa forma se aliena de si mesmo, e se oferece à coletividade e ao bem da geração futura. Entretanto, quantos se lembram disso? E quantos não teriam o maior dos espantos se soubessem que o casamento é uma coisa essencialmente casta, e colocada à sombra da virtude da pureza? Mais do que isso, que o casamento é uma fonte de perfeição espiritual e caminho da salvação eterna?

Por aí é que se explica o malogro de muitas uniões conjugais. É pela ligeireza, pela superficialidade e pela sensualidade com que muitos abordam o problema sobremaneira grave do matrimônio que se observam tantas decepções e pior do que isso, tantas soluções errôneas, como o divórcio e outras coisas piores.

E, depois disso, poder-se-á estranhar que muita gente não tenha querido casar-se numa Sexta-feira, embora esta Sexta-feira fosse a festa da Imaculada Conceição?


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