Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Ainda os mórmons

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 17 de março de 1940, N. 392, pag. 2

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“A Igreja dos Mormonistas tem-se sujeitado, desde o início, a perseguições violentas, em vários países, em virtude do fanatismo de adeptos de outros credos. Apesar desta oposição e em virtude da obra social que vem empreendendo nos quatro cantos do universo, a Igreja Mórmon tem crescido constantemente”, etc., etc.

É assim que o “Diário da Noite”, de 13 do corrente, inicia a entrevista de dois missionários mórmons, publicada com grande destaque na terceira página, com todos os recursos do sensacionalismo moderno. O trecho acima transcrito, porém, não faz parte do corpo da entrevista, mas é a introdução com que a própria redação do jornal apresenta o assunto.

É estranhável que aquela folha tanto se preocupe com a seita exótica dos mórmons. Nem se diga que, justamente por ser uma seita exótica, apresenta interesse jornalístico. A entrevista foi apresentada de um modo quase carinhoso, e tem por finalidade desmentir notícias infundadas a respeito dos fins e dos credos religiosos que constituem a estrutura moral dessa religião” e dar esclarecimentos sobre os “fundamentos básicos do credo mormonista”. Ora, foram os católicos que, por seus meios de publicidade, mais combateram a obra de que aqueles missionários estavam incumbidos, e denunciaram a seita como prejudicial aos nossos interesses espirituais. Onde, pois, quer chegar o “Diário da Noite”?

A respeito das iniciativas católicas, que não são poucas nem de pequena importância, aquele jornal nunca fez a propaganda que agora dispensa a uma doutrina ridícula e suspeita. Pelo contrário, sabemos muito bem o que é a “campanha do silêncio”. Entretanto, tudo o que represente qualquer atentado à integridade da verdadeira Fé é fartamente divulgado, com habilidade e tato. Por exemplo, a moxinifada mormonista, que tem na sua origem uma história complicada em que entram livros de folhas de ouro, pedras com aros de prata, e outros elementos da mais autêntica e reles macumba é apresentada de forma a desviar quanto possível o ridículo, que lhe é inerente, e torná-la uma coisa razoável. Há, na entrevista, uma pergunta bem preparada, sobre o credo mormônico, à qual um dos missionários, em atitude patética de ator de circo responde enumerando um rol de belíssimas virtudes que seriam a profissão de fé da seita, de maneira a fazer com que os incautos pensem que os mórmons não sejam uma gente tão ruim assim...

Mas a sutileza chega ao auge quando se trata de destrinchar a questão da poligamia mormônica. Em meio à descrição das “maravilhas” da seita aparece uma explicação curta e apagada, em que se diz que a poligamia era doutrina que só foi aceita até 1890, quando foi eliminada, sendo o mais grave motivo desta depuração o fato de ser contrária às leis norte-americanas. Isto assim, dito por cima, como quem passa sobre uma questão secundária. Deste modo, poucos notaram esta particularidade verdadeiramente notável: a doutrina mormônica, cuja seita diz ser inspirada por Deus, com o tal livro de ouro, um “anjo” e um “profeta”, como instrumentos da revelação, ainda não estava perfeita. Veio dar-lhe o último acabamento uma revelação... da Polícia...


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