Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...

Cinema nacional

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 28 de julho de 1940, N. 411, pag. 2

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Um dos muitos pesadelos que pesam sobre a consciência nacional é a questão do cinema indígena. Formou-se por aí a ideia de que o Brasil precisa de tudo, mas absolutamente tudo o que existe em todas as outras nações da Terra reunidas, sob pena de irremediável “capitis diminutio”.

Ora, como tal empresa excede as forças humanas, começaram a aparecer pífias imitações, que os interessados e os patrioteiros impingiam como autênticas maravilhas, destas de fazer a “Europa curvar-se ante o Brasil”. Aí se veio colocar, de há muito, o cinema nacional.

Evidentemente, não queremos dizer que se deva renunciar a todo esforço destinado, honestamente, a desenvolver as nossas possibilidades naturais. Mas o que é uma idiotice sesquipedal é a mania dos empreendimentos que só têm por razão o fato de já haverem sido realizados em outra parte do mundo. Devemos procurar constituir a nossa civilização em primeiro lugar para uso e gozo, e não movidos pela preocupação obsedante do que os outros povos possam pensar de nós.

Mas voltemos ao cinema. Durante muito tempo o público teve de engolir as mais genuínas borracheiras, que proliferaram à sombra da proteção oficial. Guardamos, ainda, a cabulosa lembrança de certos “shorts” sonoros, que faziam o expectador morrer de vergonha, daquela mesma ignominiosa vergonha que os artistas não sentiram durante a filmagem. Depois, é preciso reconhecer, a técnica melhorou. Tivemos alguns ensaios de filmes de longa metragem, que foram iniciativas bem-intencionadas. Mas, infelizmente, em vez de prosseguir num esforço sério para uma verdadeira produção artística, descambou-se para a facilidade, para esse diletantismo balofo sem substância, que é um dos nossos piores males. Ainda agora, nesta última semana, foi apresentado mais um filme nacional, que é um exemplo do que acabamos de dizer. O nome já é malcheiroso: “Direito de Pecar”. Foi anunciado longamente, sendo postos em relevo exatamente aqueles predicados que fazem a fortuna de certas revistas clandestinas.

Algum pedante rir-se-á de nossa severidade. Então não saberemos compreender uma comédia espirituosa e engraçada? Ora, era apenas para fazer graça que os romanos viravam os polegares para baixo e viam o gladiador vencido estrebuchar na arena; se alguém lhes fosse dizer que isto era imoral, eles pasmariam ante semelhante incompreensão da comicidade superiormente espirituosa da cruenta cena. Hoje, para rir, já não se trucidam gladiadores. Não por virtude, mas por medo de ver sangue. Em compensação, envenena-se o corpo social com a glorificação dos piores vícios.

Não é por mal. É só para fazer graça...


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