Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
O recenseamento e os católicos

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 11 de agosto de 1940, N. 413, pag. 2

  Bookmark and Share

 

Já está em vias de realização o recenseamento do corrente ano. Trata-se, evidentemente, de uma iniciativa de grande utilidade, necessária à boa administração dos Estados modernos. É um meio racional de apuração das realidades concretas da vida nacional, que pode bem dar a medida dos problemas da coletividade, das soluções a serem adotadas, e dos processos que devem ser postos em prática à mais fácil consecução dos objetivos visados.

Por isso mesmo o Clero brasileiro, sempre na vanguarda em tudo o que se relacione com os verdadeiros interesses nacionais, já se tem manifestado várias vezes a respeito do recenseamento, pedindo para este a boa vontade do povo.

Entretanto, parece que certos elementos, que conseguiram infiltrar-se no aparelhamento censitário, mal compreendendo os altos interesses da pátria, não querem corresponder à lealdade com que a Igreja se colocou ao lado dos poderes públicos, para a realização de tão importante empreendimento. É assim que certos agentes, encarregados de colher informações a domicílio, costumam perguntar às pessoas, que se declararam católicas, se são praticantes ou não. No caso negativo, insinuam logo: “Quer dizer que são indiferentes, não é?” E os interrogados, sem tempo de refletir, vão escorregando a afirmativa, que é apressadamente anotada.

Ora, há simplesmente um abismo entre um verdadeiro indiferente e um católico não praticante. Um não praticante será um incoerente, nunca um indiferente. A indiferença se caracteriza pelo descuido das verdades da outra vida e o indiferente nem é um ateu ou um cético. É apenas uma pessoa que não cogita do que possa haver além da vida terrena; pode aceitar vagamente tudo o que lhe disserem a esse respeito, mas sem nenhuma espécie de compromisso, ainda mesmo de ordem puramente intelectual.

Como se vê, a atitude do católico não praticante é outra inteiramente. É verdade que suas idéias sobre a vida futura estão adormecidas sob o peso das preocupações presentes; mas existem, e bem determinadas. Tanto é assim, que não há um só católico não praticante que não queira Missa de 7.º dia para si, ou para os parentes e amigos.

Um católico não praticante é, sem dúvida, um mau católico. Mas isso só interessa imediata e propriamente à Igreja. Do contrário, o Estado também deveria indagar se as pessoas estão ou não em estado de pecado mortal, posto que o católico neste estado ocupa uma situação semelhante a do católico não praticante. Tudo isto, porém, é tão claro, que é inútil continuarmos a insistir no assunto.

Aí fica a advertência.


Bookmark and Share