Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
A “nova ordem”

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 16 de março de 1941, N. 444, pag. 2

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Já tivemos ocasião de salientar o caráter satanicamente igualitário da revolução nazista, que a filia diretamente à Revolução Francesa – e, por aí, a torna irmã da revolução soviética - quando comentamos certo discurso de Rosenberg, em que este prócer hitlerista afirmava que a guerra atual terminaria com a raça dos “gentlemen” [vide Legionário, 14 de julho de 1940, pag. 2, N. 409, "Comentando... Nazismo e cavalheirismo", n.d.c.]. Esta declaração só tem sido confirmada e explanada pelas declarações oficiais posteriores, quando, por exemplo, se disse que o III Reich movia guerra implacável ao mundo burguês dos ricos, em proveito do proletariado, ou quando se reivindicou expressamente para o nazismo a herança da Revolução Francesa.

Agora, na Inglaterra, o sr. Ernest Bevin, chefe socialista e ministro do trabalho, afirmou que os ingleses se devem preparar para uma “nova ordem mundial”, de caráter proletário e sem distinção de classes, devendo desaparecer, portanto, a tradicional organização social inglesa, o que é a mesma coisa que augurar a morte do “gentleman”. Vê-se, pois, claramente, a identidade de propósitos entre os socialistas ingleses e o nazismo: ambos desejam implantar no mundo uma “nova ordem” que é idêntica, em substância, para uns e para outro. Os planos do sr. Bevin abrangem, mesmo, uma grande extensão dos poderes do Estado sobre as atividades particulares. E isto sem patentear, mais uma vez, a mentira da oposição entre as direitas totalitárias e o esquerdismo, que é o pai do totalitarismo.

Diante deste desregramento de espírito universal, que almeja destruir toda a estrutura viva da sociedade, para transformá-la em massa homogênea e plástica, que possa ser colocada, sem resistência, numa organização mecânica e inumana, governada, por um poder frio, implacável e diabólico - diante deste desvario, rememoremos alguns princípios de sabedoria eterna do tomismo.

São Tomás enumera, entre virtudes anexas à justiça, o respeito (II.a II.ae, q. 102). Esta virtude obriga-nos, por dever de quase justiça, a tributar honras aos homens elevados em dignidade, que podem não ser autoridades públicas, mas simplesmente pessoas de grande e justificado prestígio, que são obedecidas pelas suas qualidades e iniciativas. Sabem por quê? Porque estas pessoas, ainda que não investidas de autoridade pública, desempenham na sociedade uma função análoga à função paterna, pois exercem para conosco em certas particularidades da vida, os cuidados da Providência.

Esta concepção da autoridade, como uma espécie de poder paterno, difere profundamente da concepção totalitária, onde o homem se defronta despido e miserável com o poder impassível e descomunal do Estado, onde ele já não encontra aconchego, nem intimidade, mas anonimato impessoal; onde não existe amor nem compaixão, nem delicadeza nem repouso, porque aí não está Jesus Cristo.


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