Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Desilusões injustificadas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 1° de junho de 1941, N. 455, pag. 2

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O LEGIONÁRIO, desde o momento em que estourou a atual guerra, não teve dúvidas em se colocar abertamente ao lado da França. Nesta nossa atitude não entrava apenas a profunda admiração e o ardente afeto que nutrimos para com a nobre nação franca - mesmo porque um jornal católico não deveria tomar partido num conflito que fosse exclusivamente de caráter internacional - mas éramos movidos pela convicção certa e não desmentida de que a causa da França se confundia com a causa da Cristandade, em sua luta contra os infiéis nazistas, da mesma forma por que a causa do Império de Carlos Magno se confundia com a causa da Cristandade, em sua luta contra os infiéis sarracenos e os infiéis pagãos.

Assim, coerentes com esta nossa linha de conduta, quanto mais difícil e insustentável se tornava a situação militar nas Flandres, mais veemente e ardorosa se tornava a nossa adesão à França; e, quando sobreveio o colapso da resistência, nós também estávamos de luto. As nossas coleções [do LEGIONÁRIO, n.d.c.] aí estão para atestar com abundância o que afirmamos.

Por isso mesmo, logo percebemos (e com que aflição o percebemos!), que o pior do Calvário, a França ainda não o havia galgado. Pelo modo com que se deu a rendição, pelos acontecimentos que procederam imediatamente o armistício de Junho, pressentimos, desde então, o que se tramava contra a pátria de São Luiz. Infelizmente, nossos pressentimentos prontamente ganharam corpo, e se concretizaram numa realidade dolorosa. A França derrotada já seria para nós um motivo de dor, mas seria uma dor serena e sublime, uma participação augusta num heroico martírio. Mas a nossa dor foi uma dor conturbada e inquieta, porque vimos que o intuito era aviltar a França. Não se queria apenas uma França vencida, mas uma França convencida. Portanto, a nossa atitude em relação ao governo de Vichy não poderia ser outra. Muitos não nos compreenderam, muitos nos combateram.

Agora, porém, que a recente conduta do governo de Vichy veio desiludir a tantos, e confirmar singularmente as previsões e restrições do LEGIONÁRIO, temos uma última palavra a dizer.

Muitos dos que a princípio apoiaram a política de Pétain, começam agora a desconfiar não só do governo de Vichy, como da própria França. É o caso, por exemplo, do sr. Maurício de Medeiros, que parece querer estender a todo o povo francês a responsabilidade dos desvarios do atual governo, embora declare continuar a amar a França, “quand-même” [apesar de tudo, n.d.c.]. Protestamos mais uma vez. Aqueles que se deixaram iludir pelo governo Pétain, também não têm razão quando querem comprometer toda a França com o tal governo. Isto não é verdade, isto não pode ser verdade, isto não há de ser verdade. Oremos pela França.


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