Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
As encíclicas de Leão XIII

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 20 de julho de 1941, N. 462, pag. 2

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Não se pode jamais lamentar suficientemente a ignorância em geral que existe a respeito das encíclicas papais. É verdade que os inimigos da Igreja fazem em torno destes documentos pontifícios a clássica e eficiente “campanha de silêncio”, que forma um ambiente opaco e átono à volta das diretrizes da Santa Sé. Mas é também verdade que, nos próprios meios católicos, não se nota, muitas vezes, aquele interesse, que deveriam despertar as encíclicas. Afinal de contas, o Papa é o intérprete autêntico da doutrina católica, e do modo como essa doutrina deve ser aplicada às realidades contingentes da vida, pois não basta apenas bem conhecer os ensinamentos da Igreja, mas é preciso saber aplicá-los com oportunidade, para evitar que os princípios venham a ser traídos na prática.

Felizmente, escapou à regra geral a portentosa “Rerum Novarum”, cujo cinquentenário ora se festeja. Esta Encíclica, por causa da gravidade das questões que agitavam a sociedade, e das soluções admiráveis que trazia, não pôde ser ocultada, e se tornou a mais conhecida de todas as encíclicas. Entretanto, se a “Rerum Novarum” é a mais importante encíclica de Leão XIII porque versava sobre os males mais agudos e iminentes da época, não se pode dizer, contudo, que seja doutrinariamente a mais importante. De fato, se se tiver o trabalho de estudar as outras grandes encíclicas de Leão XIII, verificar-se-á logo que este admirável Pontífice desenvolveu nela um corpo orgânico e sistemático de doutrina da qual a “Rerum Novarum” é apenas um capítulo, extraordinário sem dúvida, mas que deve seu sentido mais profundo e mais fecundo, e, mesmo, sob pena de equívocos graves.

O próprio Leão XIII quis obviar este inconveniente, e escreveu, em 1902, a sua penúltima encíclica, a “Parvenu à la 25ème. année”, redigida oficialmente em francês, em que ele apresenta as linhas gerais de suas encíclicas principais, e lhes assinala o lugar no conjunto de suas idéias. Esta encíclica, não é a cúpula de todo o sistema, contém uma notável teologia da História, em que se mostra a implantação da civilização cristã, o seu brilho na Idade Média, os fatores de desagregação, que se coligaram contra ela, e por fim, a finalidade de todo o Pontificado de Leão XIII: a restauração da civilização, na sua integridade, civilização que é só uma, porque não há duas civilizações cristãs.

Esta encíclica, como se pode ver à primeira vista, é importantíssima e cheia de interesse, no entanto completamente ignorada. Não seria o caso de comemorar o seu quadragésimo aniversário, no próximo ano?


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