Plinio Corrêa de Oliveira

 

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O Dragão Dengoso

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 14 de dezembro de 1941, N. 483, pag. 2

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Os sucessivos golpes de surpresa que o Japão desfechou sobre os Estados Unidos nestes agitados últimos dias são de molde a desnortear todos os que conhecem o formidável poderio militar e naval daquela República. De fato durante os primeiros dias da agressão japonesa, que puseram em sério risco as mais importantes bases norte-americanas do Pacífico - o que poderia decidir o resultado da guerra - houve uma angústia generalizada, e uma interrogação aflita pairava no ar: mas que é feito do armamento descomunal do mais forte país do mundo que não dá cabo, imediatamente, das forças atacantes, antes, pelo contrário, vai sendo sacrificado numa inutilidade irritante?

Agora, a situação parece que se vai equilibrando, mas o perigo deixou uma lição, que deve ser aproveitada. Os Estados Unidos, e com eles toda a América, correram um grave risco não por falta de preparo material, mas exclusivamente por uma deficiência espiritual. Os Estados Unidos iam sendo vítimas de uma imprevidência imperdoável, de uma segurança e uma desprevenção descabidas, principalmente quando já são fartamente conhecidos os processos do “eixo”. E esta imprevidência, esta falsa segurança, esta desprevenção foram o resultado de uma falha da mentalidade norte-americana, pesada herança do protestantismo. O povo norte-americano se habituou a não considerar os tristes e profundos efeitos do pecado original no gênero humano, e por isso, considera o mal como uma exceção, e exceção superficial no conjunto da natureza humana. Daí o filantropismo naturalista, o espírito rotário, e este pacifismo estúpido, que impediu a fortificação das ilhas Guam, agora ocupadas pelos japoneses. Pacifismo que vem abrindo às ousadias de todos os aventureiros, e que por isto é responsável por todas as desgraças que têm caído sobre o mundo, nos últimos tempos. E foi por isto que os Estados Unidos se viram reduzidos momentaneamente à situação do Dragão Dengoso, esta última criação de Walt Disney que, embora sendo dragão, e dragão capaz de vomitar temíveis labaredas de fogo, era, no entanto, a mais inofensiva e inerme das criaturas porque, sendo poeta, de ânimo doce e sossegado, era incapaz de agredir quem quer que fosse.

Entretanto, a lição dos Evangelhos não é esta. Disse Jesus aos seus Apóstolos: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede pois prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10,16). Portanto, para Nosso Senhor, os homens não convertidos, que não se acham na graça de Deus, podem ser comparados aos lobos. O protestantismo, enganando-se sobre esta verdade, pretende conservar apenas a simplicidade das pombas, sem a prudência da serpente. Mas as Escrituras também nos falam sobre este erro: “E Efraim tornou-se como uma pomba imbecil, sem inteligência” (Os. 7,11). Eis, portanto, no que se corrompe a simplicidade das pombas, quando não é acompanhada da prudência das serpentes: imbecilidade.


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