Plinio Corrêa de Oliveira

 

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O “Bispo” budista

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 22 de março de 1942, N. 497, pag. 2

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Noticiaram os jornais, na semana que findou, a prisão de um perigoso agente secreto do Micado, que tecia, aqui em São Paulo, a tenebrosa trama da quinta coluna. Porém - e aí o interesse quase escandaloso do caso - tal agente seria, ou se faria passar por bispo budista. Mas, o que excede todas as previsões o bispo budista e quinta-colunista, aparece, nos clichés, vestido de sacerdote católico.

Evidentemente, deve haver alguma coisa errada em tudo isso, ou, do contrário, o insigne Ponson du Terrai estará vergonhosamente desbancado.

Em primeiro lugar, a religião japonesa não é o budismo, mas o xintoísmo. Depois, não nos consta que o budismo tenha bispos. O “bispo” é uma instituição essencialmente cristã. Por acaso ter-se-ia querido insinuar que existem bispos católicos que, no fundo, seriam budistas e agentes secretos do Japão? Mas isto seria muito feio; não queremos crer.

É possível que o perigoso espião se vestisse como padre católico, para ter mais fácil acesso junto aos japoneses convertidos, e aí exercer sua peçonhenta tarefa. Mas então, a que vem essa história de bispo budista? O budismo iria simplesmente entornar o caldo.

Talvez se diga, por isso, que a missão do astuto agente deveria ser exercida não entre os japoneses católicos, mas entre os japoneses que ainda permanecem nas trevas da idolatria. Neste caso, entretanto, para que as vestes sacerdotais? Não serviriam antes para estabelecer uma barreira de desconfiança entre o pseudo-sacerdote e seus compatriotas pagãos?

Poder-se-ia dizer, é verdade, que, não obstante este percalço, o disfarce de padre católico lhe serviria admiravelmente para subtrair-se à observação da Polícia, confundindo as exterioridades de seu nefando mister com as do sagrado ministério sacerdotal. Porém, se assim fosse, não deveria a imprensa esclarecer devidamente o público, explicando que um espião japonês abusara dos trajes eclesiásticos, pois, na realidade, não era padre, e muito mesmo bispo? Do contrário, não poderá acontecer que uma horrível e temerária suspeita comece a espalhar-se a respeito das vestes talares, em que até agora o povo costumava ver o socorro dos pobres, a consolação dos moribundos e o refrigério das almas aflitas?

Afinal, o respeito devido ao Clero devia evitar caraminholas ridículas, como esta de um bispo budista vestido de padre católico, e que certamente não é católico, nem bispo, e, talvez nem seja budista.


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