Plinio Corrêa de Oliveira

 

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“O mundo havia de amar o que era seu...”

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 7 de junho de 1942, N. 508, pag. 2

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“Se o mundo vos odeia, sabei que antes de vós me odiou a mim. Se fosseis do mundo, o mundo havia de amar o que era seu; mas porque não sois do mundo e vos separei do meio do mundo, por isso vos odeia o mundo” (S. João, cap. XV, 18-19).

Ora, eis que existe em São Paulo antiga, muito antiga instituição, que se dedica ao árduo e benemérito mister de repor no bom caminho as jovens transviadas: é o asilo que tem significativo nome de “Bom Pastor”. Silenciosa e humildemente, sem os alardes que caracterizam a caridade farisaica, esta instituição vem conseguindo, de há longos e incontáveis anos, extraordinários resultados, por meio da sã doutrina católica e dos recursos inesgotavelmente eficazes da graça divina, os únicos princípios da verdadeira regeneração humana. Esta instituição não costuma colocar as jovens que recebe sobre um pedestal, transformando o pecado em título de glória, bajulando-lhes os sentimentos a pretexto de encorajamento, mas com bondade maternal sabe incutir-lhes um salutar arrependimento pelos seus pecados, uma cordial detestação pela hediondez de suas faltas, fazendo com que elas se voltem confiantes para Aquele que jamais despreza o pecador realmente arrependido, mas que o purifica e santifica. Por isso mesmo, o mundo ignora esta instituição, e jamais a glorificou no alarido de seus festejos.

Entretanto, existe também em São Paulo uma obra recentemente fundada pelo Exército da Salvação, destinada à mesma finalidade de regenerar as jovens transviadas, e que tem o nome também muito significativo de “Lar das Moças”, como também poderia chamar-se “Jardim dos Lírios”. É muito notável que as crianças nascidas neste “Lar das Moças” não são batizadas, porque o Exército da Salvação não acredita no batismo; e, assim, esta instituição é uma fonte de paganização, visto que só pelo batismo o homem se torna cristão. Ora, esta beneficência toda material que, ao mesmo tempo, a título de largueza de coração, passa por cima de certos limites impostos pela moral, procurando apagar barreiras necessárias, é muito própria a lisonjear o sentimento e o laxismo mundanos. E, por isto, o mundo prestou, a esta instituição, uma consagração oficial, retumbante, e o sr. Cristóvão Dantas, abandonando a política internacional, desenvolveu pelas colunas do “Diário da Noite” um encomiástico panegírico.

Em suma, disse o sr. Cristóvão Dantas que as jovens transviadas não passam de vítimas da hipocrisia social, verdadeiras mártires inocentes; e através de outras expressões do mesmo quilate, a gente acaba por não saber se elas são apenas dignas de apiedada comiseração, ou de uma consagração pública, como heroínas sacrificadas. Até parece que elas deveriam ser apontadas como tipos ideais, dignas de imitação, porque ousaram arrostar os “preconceitos sociais”, enquanto o resto da sociedade, inclusive as jovens que não se trasviaram, deveria ser encerrada, não mais em “Lares de Moças” mas em férreos Institutos Disciplinares.

Afinal, se estas coitadas são seres tão privilegiadas, para que “Lares de Moças”? Será para riabilitar a própria queda?


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