Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Os arautos da incredulidade

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 25 de abril de 1943, N. 559, pag. 2

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Em uma de suas últimas notas escritas para “Folha da Manhã”, o Sr. V. Cy resolveu fazer uma comparação entre o que ele julgava ser a Semana Santa dos tempos passados e o que pensa que é a Semana Santa, na época do rádio e da blitzkrieg, para concluir, que hoje “tudo mudou, e provavelmente para melhor”. Acrescentando: “Mas às vezes a gente não pode deixar de pensar que a velha Semana Santa, com as suas restrições, com o artificialismo das suas convenções, com a sua solenidade postiça, produzia certos efeitos benéficos”.

Este é o modo de ver do Sr. V. Cy e não duvidamos que sigam a mesma bitola vários outros escribas, polígrafos arrojados e corajosos, que se arvoram em mentores da opinião pública, quer se trate do problema da escolha de um gasogênio, quer dos mais intrincados casos de dogma ou moral.

Estabeleçamos, porém, um contraste, indicando em breves palavras como um católico dócil aos ensinamentos da Igreja sempre considera a Semana Santa ou qualquer outra cerimônia sagrada.

“Está na natureza do homem, diz o Concílio de Trento, a dificuldade de se elevar facilmente à contemplação das coisas divinas sem o socorro das coisas exteriores: tal é a razão que levou a Santa Igreja a estabelecer os ritos sagrados. Por eles a majestade das coisas se torna recomendável, e a vista desses símbolos religiosos e piedosos excita o espírito dos fiéis à contemplação dos mais sublimes mistérios”.

As cerimônias sagradas, com efeito, representam em símbolos sensíveis as realidades invisíveis, e exprimem as grandes verdades da religião em uma linguagem facilmente compreendida por todos. Os ignorantes, as próprias crianças, apreendem o sentido desses ensinamentos que falam tão vivamente aos sentidos, e os doutos, os contemplativos mais profundos, se deliciam em ler nesse livro rico de imagens, a explicação dos mais sublimes e inefáveis mistérios.

Sobretudo, além das cerimônias religiosas inspirarem respeito pelas coisas santas, elas trazem em si mesmas grandes tesouros de graças. A Fé nos ensina que não podemos praticar nenhuma obra salutar sem o socorro da graça divina. E Deus fez de cada criatura humana um canal e um instrumento da graça. Todos os seres que nos cercam, todos os fenômenos que eles apresentam, deveriam, por si próprios, produzir sobre nós apenas impressões naturais. Graças, porém, à bondade divina, transformam-se em ajudas de Deus para a salvação de seus eleitos, e excitam em nós pensamentos e sentimentos sobrenaturais. Ora, Deus, além de comunicar Suas graças por intermédio das criaturas, também, e mais especialmente as comunica por meio das cerimônias sagradas. Assim, durante a quaresma, a Santa Igreja se une pelos jejuns e por outras austeridades a Jesus Cristo em Sua Paixão. Ela O segue ao Calvário e no mistério de Sua morte. No tempo pascal, a Ressurreição do Senhor a enche de alegria. Cada ano, no ciclo das solenidades litúrgicas, relembra a Igreja a série de mistérios da redenção.

Esse é o espírito dessas solenidades como um católico as considera.

É evidente, no entanto que não se pode esperar que espíritos voltairianos indígenas penetrem dentro de tão luminosa ordem de idéias. À força de não quererem ver, esses arautos da incredulidade acabam de fato cegos, como o Sr. V. Cy que pragmaticamente admite certos efeitos benéficos da Semana Santa.


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