Plinio Corrêa de Oliveira

 

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Catolicismo e socialismo

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 23 de maio de 1943, N. 563, pag. 2

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O ataque da Alemanha à Rússia, no verão de 1941, veio criar, como prevíramos, uma realidade nova: o comunismo está ficando simpático a muita gente. Naturalmente, este fato não se instalou de chofre na ordem do dia; mas o heroísmo dos exércitos russos que, pela primeira vez no correr desta conflagração, fizeram guerra de verdade, e com certos arranjos inteligentes, conseguiram erguer o prestígio do bolchevismo, que já ia muito baixo.

Por causa da resistência inesperada da Rússia, que veio quebrar o mito da invencibilidade do nazismo, muita esperança que bruxuleava, se reacendeu. De fato, depois da queda da França e do bombardeio da Inglaterra, muita gente achou que não havia meio de evitar que a escravidão nazista dominasse o mundo. Quando a Rússia barrou o caminho do nazismo, foi um alívio.

Mas não foi só isso o que aconteceu. Começou a espalhar-se à boca pequena, e, por fim, à boca escancarada, que o comunismo havia evoluído muito; havia, mesmo, evoluído tanto, que não só já não constituía uma ameaça para a civilização cristã, como já teria entrado no próprio caminho do cristianismo. Ora, tudo isto indica duas coisas.

A primeira, é que há uma geral aversão pelo regime nazista, o totalitarismo de tipo hitlerista está causando verdadeira repugnância, de tal forma que há um grande anseio pelos regimes de liberdade. A segunda, é que há um tal baralhamento de conceitos, uma tal confusão espiritual, que há muita gente que não percebe que o comunismo é também uma escravidão, é também um totalitarismo, de modo que salvar-se do nazismo para cair no comunismo é sair das trevas para mergulhar na escuridão.

Graças a Deus, entretanto, no meio desta confusão, o católico não pode ter dúvidas. Pio XI já declarou que o comunismo não é condenável apenas por ser antirreligioso e ateu, mas, porque institui uma ordem social contrária à ordem natural. Confirmando este princípio, vem-nos agora notícia de que a rádio do Vaticano, em transmissão especial para a Rússia, condenou os fundamentos do socialismo. Transcrevemos, aqui, o trecho do telegrama “United Press”, que apresenta palavras textuais daquela irradiação:

“Deve ser repudiada a base principal do socialismo: o princípio da propriedade comum. O governo civil deve evitar toda interferência com a vida privada ou familiar de seus cidadãos. A inviolabilidade da propriedade privada deve ser o fundamento mais importante do Estado. O povo, em cujo Estado lhe seja privada a proteção com respeito à propriedade, deve evitar tal regime”.

Pena é que semelhantes idéias não encontrem atualmente, grande favor. Assim, por exemplo, ainda recentemente, o sr. Charles Marrian, vice-presidente da Junta para Distribuição dos Recursos Nacionais dos Estados Unidos, declarou: “todos os planos para o período de após guerra e para o desenvolvimento e expansão da nossa economia têm sido elaborados na expectativa de que, para o futuro, haja uma contínua cooperação, entre o governo e os empreendimentos privados”.

Ora, é muito de se temer que, nesta cooperação não se repita a história do caldeirão de ferro e do caldeirão de barro, que saíram a passear juntos, de modo que a interferência governamental nas atividades privadas se vá tornando cada vez mais acentuada. De qualquer modo, é evidente que a humanidade atravessa uma fase muito delicada, em que os mais elevados valores humanos estão ameaçados de naufrágio.

Será necessário dizer que o Catolicismo integral pode evitar este naufrágio?


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