Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
Ainda o livro "O poder soviético"

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 20 de junho de 1943, N. 567, pag. 2

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O “Diário da Noite” do Rio de Janeiro está procedendo a um inquérito em torno do livro “O Poder Soviético” de autoria do Deão de Canterbury, o protestante inglês Hewlett Johnson.

Nesse sentido, o vespertino carioca está dirigindo uma circular aos sacerdotes católicos - pelo menos é o que se deduz dos termos da mesma - pedindo que se pronunciem sobre uma série de perguntas que juntamente remete.

A iniciativa nasceu, esclarece a circular, do fato de terem vários católicos pedido àquele vespertino que os esclarecesse sobre a atitude que deveriam tomar em face do livro, já que estavam confusos diante de controvérsias havidas em torno do mesmo.

Antes de mais nada, não podemos deixar de manifestar nossa estranheza pelo fato de se dizerem católicas as pessoas que pediram àquele vespertino as suas “luzes” sobre o assunto. Primeiro, porque para esclarecer sua consciência em matéria de fé e de moral tem os católicos a autoridade eclesiástica competente, única que tem poderes conferidos por Deus para exercer tão solene e grave ministério. Segundo, porque não é concebível que haja ainda um católico, que pense realmente com a Igreja, que mantenha ainda qualquer ilusão sobre o comunismo, autêntico ou mitigado, como quer aparecer no livro do protestante inglês.

Ao vespertino carioca damos aqui, levadas pelo nosso espírito de coleguismo, uma sugestão que lhes poupará o trabalho de prosseguir no inquérito iniciado e que ao mesmo tempo lhes dará a oportunidade de ter a opinião autêntica de todos os verdadeiros católicos sobre o comunismo, qualquer que ele seja, quer o que se pratica na Rússia, quer o que é apresentado ao mundo para efeito de propaganda. O modo de pensar dos católicos sobre o comunismo está magistralmente fixado na encíclica “Divini Redemptoris”, de Sua Santidade o Papa Pio XI, de saudosa memória.

O “Diário da Noite” poderá, portanto, fazer um bem imenso aos católicos que o consultaram, publicando integralmente ou em pequenos trechos a encíclica citada, que se reveste de toda atualidade, pois que é ainda de 1937, por consequência posterior ao advento da Constituição russa de 1936 a que se refere a circular do vespertino carioca, na qual, alega ele, se confere a liberdade de religião ao povo russo.

Com relação às perguntas feitas pelo vespertino carioca, devemos salientar que muitas delas parecem esconder um intuito secreto qualquer, fugindo por completo do assunto em debate.

Em primeiro lugar o inquérito insere perguntas sobre a nacionalidade do clero brasileiro, sobre sua situação material e os cargos que atualmente ocupam. Não vemos em que podia isso oferecer interesse para o esclarecimento das dúvidas suscitadas pelo livro do protestante inglês. Não deveria a circular esclarecer, então, que o inquérito abrange outros problemas, sobre os quais os católicos, a hierarquia eclesiástica e o governo brasileiro já têm opinião bastante firmada?

O inquérito também se interessa por uma opinião sobre o livro de Plinio Salgado, “A Vida de Jesus”, procurando saber qual a significação que se deve emprestar ao fato de não ter sido feito, de modo idêntico, um comentário contra este livro.

A pergunta é absolutamente tendenciosa e parece querer insinuar que pelo fato de nada se ter dito sobre este livro, o seu autor e todas as suas teorias sejam aceitas pela opinião católica.

A pessoa que formulou a pergunta, se tiver intenção de organizar um outro inquérito sobre este assunto, podemos também desde já poupar-lhe o trabalho, aconselhando a leitura da encíclica contra o Nazismo no Império Alemão, igualmente de Sua Santidade o Papa Pio XI, também do ano de 1937.

Ainda uma palavra antes de encerrar o assunto. Não só a circular ora comentada, como também uma conhecida revista carioca, parecem querer estabelecer uma confusão no sentido de fazer com que se aceite que uma pessoa que está contra o comunismo, está necessariamente solidária com o nazismo ou integralismo, ou qualquer outra forma de totalitarismo. A esses perguntaremos tão somente, qual é então a posição do governo brasileiro, que soube vencer esses dois perigos que ameaçam o Brasil?


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