Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...


A nova Idade Média

 

 

 

 

 

 

Legionário, 24 de outubro de 1943, N. 585 pag. 2

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Há uma porção de indícios que manifestaram a preparação de uma nova Idade Média, passada a presente guerra. Não se trata, é evidente, de uma idade média com castelos, com romances de cavalaria, com freires batalhadores. Mas se trata de uma Idade Média com verdadeiras cruzadas, com corporações, com governo forte e, o que é essencial a uma Idade Média, com a subordinação total de todos os valores a um ideal supremo. Apenas este Ideal supremo é antípoda ao ideal que norteou a verdadeira Idade Média. O ideal da antiga Idade Média consistia em amar, servir e glorificar a Deus, e santificar as almas. O ideal da nova Idade Média, em preparação, consiste em amar, servir e glorificar a humanidade e possuir este mundo.

Um aspecto flagrante desta Idade Média pelo avesso foi apresentado pelo sr. Bertrand Russel. Como todos sabem, o sr. Bertrand Russel tem verdadeira paixão pela Filosofia e pela Matemática, o que fez com que ele seja considerado um matemático pelos filósofos, e um filósofo pelos matemáticos. Ora o sr. Bertrand Russel imaginou o projeto de uma Universidade Internacional, para ser o centro de gravidade espiritual da nova ordem, pois o equilíbrio das sociedades futuras e da própria civilização depende do equilíbrio cultural da humanidade. Eis aí uma ideia nitidamente medieval: a alma da Idade Média vivia e se alimentava nas Universidades, que nada tinham de particularistas, mas eram universais, em toda a acepção da palavra. Além disso a Idade Média compreendia que a atividade externa do homem depende essencialmente de sua atitude interior, perante os valores fundamentais. Por isso, assim como o Estado tem o direito de disciplinar aquela atividade externa, assim também as Universidades deviam disciplinar as atividades intelectuais, subordinando-as ao ideal supremo e condenando os desvios. Por isso ainda, a Idade Média estabeleceu tribunais da Inquisição, e teve sob tão cuidadosa vigilância o mundo das idéias.

Ora, o sr. Bertrand Russel, com sua Universidade Internacional, quer instituir um controle inteiramente análogo. Toda a educação, no mundo futuro, deverá estar estritamente subordinada aos ditames da Universidade Internacional, os professores estarão sob sua fiscalização, e os livros de estudo deverão receber seu “imprimatur” (sic). Mais: o Estado que se quiser furtar a esta ingerência da Universidade Internacional deverá ser punido pela autoridade internacional, coisa que não chegou a acontecer na Idade Média.

A Universidade Internacional do muito filósofo e matemático sr. Bertrand Russel deverá ter, pois, o monopólio da ideologia futura. Não que sejam proibidas variantes de opinião sobre certos e muitos assuntos, mas o teor da mentalidade, a fundamental concepção dos valores deverá ser uniforme. Deverá mesmo haver um organismo autoritário destinado a destruir as opiniões falsas – isto é, contrárias à mentalidade oficial do mundo - e a propagar as verdadeiras, que as refutam. O que se poderá conseguir muito mais eficientemente do que a Inquisição, com os modernos processos publicitários, que podem fazer a morte ou a fortuna de qualquer ideia. Veja-se, por exemplo, o nazismo, com seu ministério de propaganda. Mas tudo isto é cada vez mais medieval. Só a finalidade última, a intenção primeira é que é oposta.

É interessante notar que estes processos medievais foram acerbamente criticados e arduamente combatidos até ser desarticulada a ordem cristã, instituída pela Igreja. Agora estes mesmos processos voltam a ter voga, para ser edificado o avesso daquela ordem. E quantos não irão na onda?


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