Plinio Corrêa de Oliveira

 

Comentando...
 
O "bispo" Salomão

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 9 de janeiro de 1944, N. 596, pag. 2

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O chefe da Igreja Católica Livre - arapuca armada pelo sr. Salomão Ferraz para ludibriar os incautos - fez declarações pela imprensa a respeito de uma plataforma em que se consubstanciam os princípios religiosos de sua igrejinha. Os trechos mais importantes da referida plataforma constam daquelas declarações. A confusão é tremenda: verdades elementares e erros palmares se encontram lado a lado num complexo indistinto. Vê-se que a menor preocupação do sr. Salomão é ser claro, “et pour cause” [tradução: o que se explica facilmente, n.d.c.]. Fica-se, por exemplo, sem se saber se Jesus Cristo é ou não é Deus Verdadeiro. A respeito da Santíssima Trindade, dogma fundamental do Cristianismo, nem uma palavra. Estas verdades primordiais não podiam deixar de ser claramente estabelecidas num programa religioso.

Porém, o sr. Salomão é contrário aos dogmas. O que vale para ele é a “experiência direta com uma personalidade viva, real, transbordante de luz e de poder espiritual”, a personalidade de Jesus Cristo. Assim mesmo a natureza desta personalidade não poderia ser objeto de uma definição dogmática. Cada um que faça sua experiência, e tire suas conclusões. Como fazer esta experiência direta de Jesus Cristo, é coisa que o sr. Salomão não se dá ao trabalho de explicar: tudo fica em declamações vagas, próprias a produzir exaltações sentimentais. É uma das modalidades do vitalismo, tão nosso conhecido sob outras variantes.

Além disso, como perfeito intrujão, o sr. Salomão atribui à Igreja Católica uma porção de mazelas, formando um fantasma que ele pode derrotar facilmente. Ele, que é tão contrário aos dogmas, dogmatiza a respeito da Igreja, inventando um mundo de mentiras, e fazendo dela uma completa encarnação do anticristianismo. Assim, o clero católico se interporia entre Jesus Cristo e o fiel como certos oficiais de gabinete interceptam o contato das partes com o chefe da repartição, subordinando-as a seus caprichos, cevando nelas o seu apetite de mando e de bajulações. Parece que o sr. Salomão tem sido maltratado pelos oficiais de gabinete...

Também não se leve em conta o ângulo burocrático pelo qual o sr. Salomão vê as relações entre Cristo e o fiel: há muita gente hoje que vê na burocracia, a sucessora autêntica da aristocracia. Não é de estranhar, pois que um sr. Salomão veja nela a imagem do Reino de Deus: a Igreja, uma repartição: Jesus Cristo, o chefe; os ministros, os funcionários; e os fiéis, as partes. “Infinitus est numerus stultorum” [é infinito o número dos estultos].

O mais interessante é que o sr. Salomão vai dizendo todas estas coisas sem nada provar. Mesmo os trechos da Escritura que ele cita, não tem nenhuma relação com as suas baboseiras nem poderiam ter. Em compensação o sr. Salomão deixa de citar uma infinidade de outros trechos, em que se vê a clara condenação de suas idéias. Por exemplo, nada aparece sobre o mandato que Nosso Senhor deu aos Apóstolos e Discípulos, pelo qual foram constituídos em autoridade sobre os fiéis, nem as confirmações históricas tão abundantes sobre a vigência desta autoridade. Também a categórica afirmação de São Paulo de que, se um anjo viesse pregar doutrina diferente, não deveríamos ouvi-lo, não aparece em cena.

O mais curioso é que o sr. Salomão, que diz tanta coisa sobre o mandonismo do Clero, é ele mesmo louquinho para ser bispo. Até usa cruz peitoral e se confere o tratamento de “dom”...

Ora “seu” Salomão, deixe disso!


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